O título do artigo, claro, é uma provocação aos bolsonaristas, que histericamente bradam que “a nossa bandeira jamais será vermelha”. Sabemos que a extrema direita sempre procurou se apropriar de símbolos nacionais, como bandeira, hino e moeda. Ops! Moeda não, pra eles vale o dólar. Patriotismo hipócrita, pois idolatram os EUA, sonham em morar na Flórida e nutrem profundo desprezo pela maioria do povo brasileiro, pobre e negro.
Mas, embora provocador, o título do artigo não é destituído de propósito. Primeiramente, porque vermelha poderia ser a cor da nossa bandeira. Afinal, Brasil vem de pau brasil, nome dado pelos portugueses no século XVI a uma árvore muito comum em nosso litoral, de onde se extraía a brasilina, substância utilizada para tingir tecidos de vermelho.
Cor avermelhada
Sua origem vem do termo germânico brasa (cor avermelhada), ou de brasillis, termo que tintureiros italianos davam ao corante avermelhado extraído da sappan, madeira da mesma família do pau-brasil, muito comum em Myamar e na China, comercializada pelos árabes na Europa desde o século IX. Era chamada pelos nativos de ibirapitanga, que significa árvore vermelha.
Sim, vermelho está no nome do nosso país e poderia ser a cor da nossa bandeira, até porque o “verde de nossas matas” está desaparecendo pela ação de “patriotas” madeireiros, grileiros, pecuaristas e sojeiros; o “amarelo de nosso ouro” foi financiar a Revolução Industrial na Inglaterra e “o azul de nosso céu” anda encoberto pela poluição e pelas queimadas. Ah, o “branco da paz”, este nunca tivemos.
Desgoverno Bolsonaro
Em segundo lugar, me permitam a ironia, o próprio desgoverno Bolsonaro tem se empenhado em promover a bandeira vermelha. Com o agravamento da crise hídrica, em boa medida intensificada pela fúria desmatadora dos falsos patriotas acima citados, o desgoverno lançou mão da geração de energia termelétrica, levando a um valor adicional nas tarifas, que recebeu o nome de “bandeira vermelha”.
Em suma, o povo, todo mês, ao receber a conta de energia, é lembrado que sua bandeira é vermelha. E o ex-capitão e seus generais de pijamas, falsos patriotas, ao privatizarem a Eletrobras, garantiram que o povo brasileiro terá bandeira vermelha por muito tempo.
Bandeira vermelha
Por fim, a nossa bandeira sempre será vermelha enquanto houver em nossos corações vermelhos o inconformismo com a desigualdade e correr em nossas veias o sangue vermelho disposto a lutar por justiça social. Vermelha é a bandeira de todos que almejam uma sociedade mais justa, seja ele brasileiro, argelino, francês ou chinês.
Sim, porque, antes de brasileiros, somos seres humanos, e o que fundamentalmente nos divide não são fronteiras construídas pelas classes dominantes, mas nossas desiguais condições de vida.
É óbvio que um trabalhador brasileiro tem muito mais identidade com um trabalhador colombiano ou italiano do que com os “brasileiros” Jorge Lemann (bilionário, que, por sinal, reside na Suíça) e Paulo Guedes (que investe sua fortuna nas Ilhas Virgens, paraíso fiscal britânico).
Falsos patriotas
Não estou aqui sugerindo deixar a bandeira verde/amarela nas mãos dos falsos patriotas, mesmo com seu insidioso lema “Ordem e Progresso”, que, na tradução burguesa, significa “ordem para as massas e progresso para os ricos”. Mas não podemos, de forma alguma, nos intimidarmos e abandonar nossas bandeiras vermelhas ou desfraldá-las constrangidos.
A bandeira nacional não é a única que desfraldamos. Quem nunca ergueu a bandeira de seu estado, do seu clube, da escola de samba etc.? A bandeira vermelha é mais uma, talvez a mais possuída de significado.
(*) Doutor em Desenvolvimento Econômico Sustentável, ex-presidente da Codeplan e do Conselho Federal de Economia
** Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasília Capital