Alguns profissionais precisam lidar diariamente com situações de estresse. O caso do 2º Sargento do Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal, que ganhou os noticiários por furtar uma viatura da corporação e empreender fuga pelas ruas da cidade na madrugada do último domingo, levanta uma questão muito importante sobre como cuidar da saúde mental dos profissionais que trabalham sob pressão. Sem entrar no mérito sobre a motivação do militar envolvido no incidente, não podemos negar a real possibilidade alegada de que ele tenha sofrido um surto psicótico fruto de um estresse agudo em alguns âmbitos da vida pessoal, social e/ou profissional.
A carreira militar tem como característica a ocorrência de situações extremas de emergências e urgências no seu dia a dia. Existe, ainda, uma identificação e dedicação intensas ao trabalho por parte desses profissionais, que por muitas vezes não permite que percebam quando a carga emocional do trabalho está passando do limite suportável para a maioria das pessoas. As peculiaridades desse campo profissional geram um contexto de risco para desenvolvimento de adoecimentos físicos e psicológicos no ambiente de trabalho.
Nesse sentido, é preciso desmistificar as expectativas atreladas a esses profissionais, que muitas vezes os colocam como super-heróis, pessoas que devem ser sempre fortes e inabaláveis para lidar com as responsabilidades de suas funções: garantir a segurança e salvar vidas. Não se pode negar que essas carreiras tratam de problemas sociais importantes para toda a comunidade e que isso implica em um serviço imprescindível para a ordem da sociedade. Porém, é preciso que, não apenas a sociedade, mas principalmenteos profissionais da área se conscientizem de que o cuidado com a própria saúde mental é fator obrigatório para a melhor prestação de serviços, sem incorrer em riscos para si e para os outros.
Além dessa conscientização sobre o cuidado psicológico, também é muito importante que as instituições militares propiciem essa prevenção com a implementação de serviços de saúde mental do trabalho, que incentivem uma reflexão autocrítica sobre como essa mítica, a respeito do papel social dessas profissões, afeta emocionalmente os empregados.
É preciso entender que, apesar da enorme responsabilidade incumbida a esses profissionais, eles também são pessoas que possuem emoções, sentimentos e uma vida pessoal e social. Portanto, também estão suscetíveis ao adoecimento psíquico quando colocados sobre pressão e estresse e sem o tratamento adequado.
Hugo Guimarães Carneiro, Clínica Diálogo, CRP: 01/12863