O planeta já vivenciou guerras intermináveis, como a Guerra dos Cem Anos (na verdade, 116, de 1337 a 1453, entre Inglaterra e França) e a Guerra dos Trinta Anos (1618 a 1648). O título do artigo se refere à atual guerra Israel x Hamas (na verdade, o massacre de Gaza pelo exército israelense) e revela como ela é vista por Netanyahu, o sanguinário primeiro-ministro israelense.
Qual era a situação em Israel na virada de setembro para outubro de 2023? Netanyahu se achava “nas cordas”, respondendo às denúncias de corrupção e ataques ao Judiciário. A aprovação a seu governo havia despencado e ocorriam manifestações diárias exigindo sua renúncia, seu julgamento e possível prisão.
Então, em 7 de outubro, ocorreu o insano ataque terrorista do Hamas a Israel que vitimou 1.390 pessoas (840 civis e 300 militares e estimados 250 militantes do Hamas) e resultou em 260 reféns israelenses levados para Gaza. Até hoje, não há uma resposta convincente para a inação das FFAA e das três agências de inteligência de Israel (Mossad, Shin Bet e Amam) “surpreendidas” pelo ataque do Hamas, apesar dos diversos alertas referentes aos preparativos e ao iminente ataque, inclusive da agência egípcia de inteligência.
Teorias conspiratórias à parte, fato é que o 7 de outubro salvou Netanyahu e sua coalizão de extrema-direita da degola. Sabemos o quanto uma guerra contra um inimigo externo une um país. E sob o lema “invadir Gaza, destruir o Hamas e resgatar os reféns”, Netanyahu encontrou amplo apoio na sociedade israelense, promovendo, nesses seis meses, um massacre sobre os 2,25 milhões de palestinos residentes na Faixa de Gaza.
Já são 40.700 mortos em Gaza (incluindo estimados 7 mil sob os escombros), sendo 29.400 crianças, mulheres e idosos. Somando-se os 460 palestinos mortos na Cisjordânia; 1.100 nos países limítrofes (Líbano, Síria, Iraque, Yemen e Irã); os 1.390 mortos em 7/10 e cerca de 300 militares israelenses mortos na invasão de Gaza, o total de vítimas fatais no conflito alcança 44 mil.
As mazelas da guerra compreendem ainda 81 mil palestinos feridos e mutilados; 12.200 aprisionados e a destruição da maior parte da infraestrutura econômica e urbana de Gaza. O massacre não passou despercebido, gerando o repúdio da opinião pública mundial e enormes manifestações no Oriente Médio, Europa e EUA. Em Israel, a inicial unidade em torno de Netanyahu começou a se desfazer.
O quadro atual, após o deslocamento forçado dos habitantes de Gaza, North Gaza e Deir El Balch, mais de 2 milhões de palestinos estão confinados nos exíguos 170 km² das regiões de Khan Yunis e Rafah. O conflito chegou a um impasse: ou Israel invade Rafah e Khan Yunis e gera um banho de sangue, ou firma o cessar-fogo, tendo que reconhecer que sua estratégia militar foi um fracasso: o Hamas não foi destruído e, dos 260 reféns, 105 foram liberados pelo Hamas na negociação em novembro, 120 permanecem com o grupo terrorista e presumidos 25 estão mortos. O exército israelense libertou apenas 10.
O mundo inteiro clama pelo cessar-fogo, inclusive Biden, que se deu conta do estrago o apoio a Netanyahu causou em suas chances contra Trump. É também o desejo majoritário entre os israelenses, que perceberam que a continuidade da guerra só interessa a Netanyahu e seus aliados.
Mas Netanyahu não pode parar a guerra, pois seria um tiro no pé. Então, a leva em “banho-maria” – reduziu o efetivo militar em Gaza e o número de vítimas fatais caiu 70%, de uma média diária de 350, no ápice do conflito, para cerca de 100, o que ainda é uma tragédia – com o exército israelense nem invadindo Rafah e Khan Yunis, e tampouco saindo de Gaza.
Para estender o conflito, Netanyahu provoca os países vizinhos, com frequentes bombardeios ao Líbano e à Síria, culminando no ataque à embaixada do Irã em Damasco, em 1º de abril, matando 7 chefes militares iranianos. A retaliação iraniana veio em 13 de abril, com mísseis e drones disparados contra o território israelense. Visivelmente, um ataque negociado com os EUA – com aviso prévio e direcionado principalmente à pouca habitada porção Norte do deserto de Neguev, sem ocasionar vítimas fatais -, mas que permitiu às lideranças iranianas darem uma satisfação à sua população.
Mas Netanyahu não vai parar por aí. Do contrário, será derrubado. Novas provocações virão. Ele e os membros de sua coalisão sabem que se a guerra parar, seus dias de primeiro-ministro terão fim, e, então, terá que responder pelos crimes em Israel e por crimes de guerra. E passará seus últimos anos de vida vendo o sol nascer quadrado.