Dalai Coutinho (*)
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Era madrugada aqui no Brasil, mas no Nepal já era final da manhã do dia 25 de abril. São oito horas e 45 minutos de diferença. Havia voltado há 12 dias de Katmandu para Brasília. No começo não achei que fosse um terremoto de tamanha magnitude. Mas, com o passar das horas, o número de vítimas só aumentava. Já são mais de cinco mil mortos e dez mil feridos.
No segundo dia me dei conta de lembrar das pessoas que conheci por lá. Vishal, Manuj, Bikash… Jovens que trabalham em uma organização que ajuda estrangeiros a realizar trabalhos voluntários no Nepal, como eu fiz por um mês. Eles nos acompanhavam nos projetos e traduziam, explicavam a cultura, brincavam… Lembrei-me dos asilos e orfanatos por onde tentamos fazer a diferença… Do lugar onde morei e como sempre as crianças das casas vizinhas gritavam pra gente falar “oi” ou qualquer outra coisa em inglês, sempre sorridentes.
É muito triste ver as fotos daquelas ruas, que embora fossem muito sujas, tinham alegria na simplicidade. As casas amontoadas, devido à grande densidade populacional, deixam pouco espaço para pedestres e carros. Aquelas ruas agora estão cheias de escombros. O sentimento é de medo de voltar pra casa. Muitos dormem nas ruas esperando que a ameaça acabe de vez. Mais tremores aconteceram depois de sábado. E as 72 primeiras horas seguintes são muito importantes para encontrar sobreviventes.
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Não existia nenhum preparo para esse tipo de tragédia, embora historicamente eles já tivessem sofrido com isso. Já reconstruíram cidades antigas e templos grandiosos. Já precisaram se reerguer. O Nepal que conheci era pobre mas alegre, muito alegre. O epicentro do terremoto de magnitude de 7,8 foi entre as duas principais cidades do país – a capital Katmandu e Pokara, cidade turística onde existe um lago enorme.
Imagino que toda a falta de estrutura para coisas básicas, como distribuição de água, agora esteja fazendo falta. As estradas são terríveis. Subindo e descendo montanhas, com um paredão de um lado e um precipício do outro. O país está encurralado. Fechado por dentro.
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A precariedade também é vista no aeroporto. Poucos conseguem sair de lá, porque a prioridade é para aeronaves que transportam mantimentos e sobreviventes. E mesmo com muitos países querendo ajudar, nem todos conseguem. Apenas oito aviões de grande porte cabem na pista de um quilômetro. Países vizinhos, como Índia e Bangladesh, também atingidos, estão de prontidão.
Mas de alguma forma sei que eles têm a força necessária para sair dessa. Eu vi e senti isso nos templos, nas ruas, nas casas. Esta é mais do que a impressão. É a certeza de um estrangeiro que tatuou na pele a marca desse povo: a fé!
(*) Especial para o Brasília Capital
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