Carlos Fernando (*)
Na primeira quinzena de julho, o Hospital Regional de Taguatinga ficou um dia sem nenhum cirurgião, um final de semana inteiro sem radiologista e com falta de contraste para a realização de exames.
Sem ter quem realizasse procedimentos cirúrgicos e sem laudos de exames de imagens, a realização de cirurgias tem sido prejudicada. O quadro fica ainda mais feio quando lembramos que, não faz muito tempo, o governador anunciou um mutirão para zerar as filas de cirurgias no DF.
O que fizeram durante três anos e meio com a gestão do sistema público de saúde do DF? O que a gente mais escuta é que desviaram uma montanha de dinheiro para o IGESDF (com escândalos nas páginas policiais e denúncias de desvios constantes) e que inventaram a “bandeira vermelha” para barrar a entrada de pacientes nas emergências dos hospitais e das UPAs.
Há poucos meses, o Conselho Regional de Medicina do DF anunciou o indicativo de interdição ética na clínica médica da emergência do Hospital Regional do Gama. Suspendeu porque houve contratação temporária de 15 médicos (onde faltam 30).
Nós, do SindMédico-DF, avisamos que não ia resolver: a remuneração está muito abaixo do mercado e as condições de trabalho assustam qualquer profissional em sã consciência. Daqueles 15 que entraram, sobraram cinco.
E o HRG continua lá, funcionando sob bandeira laranja e vermelha, mandando pacientes de volta para casa ou para alguma Unidade Básica de Saúde, até o quadro clínico piorar e o pobre paciente ficar mal o suficiente para ser admitido no hospital.
Os centros de atenção psicossocial (CAPS) vivem um drama constante: se não faltam psiquiatras e psicólogos (e a carência é grande!), falta assistente social. A atenção ao paciente é sempre incompleta e os tratamentos ficam pelo meio ou são prejudicados por esse descaso do GDF, que sabe dessa situação.
Mas também sabe do drama que os moradores de rua estão passando nas portas do CRAS, os centros de referência de assistência social. Parece que este governo não gosta da gente da nossa cidade.
É essa a lógica da política de saúde que tem sido colocada em prática pelo atual governo: deixar tudo, inclusive os pacientes, chegarem ao limite do colapso para tomar alguma medida emergencial, normalmente extremamente onerosa aos cofres públicos, e vender essa medida como solução eficiente.
Só que não é solução, é uma resposta aos problemas que o próprio governo deixou se instalarem e que levam a um aumento de gastos públicos.
Nunca na história do SUS no Distrito Federal a situação esteve tão grave. Problemas sempre existiram, mas nunca a desassistência se instalou e foi normalizada como é agora pelo atual governo.
A esperança de que a situação pode melhorar reside no fato de que, este ano, podemos decidir pela mudança na forma de cuidar da saúde.
A chave da mudança é o voto.
(*) Médico, vice-presidentre do Sindicato dos Médicos do Distrito Federal