O presidente da Câmara Legislativa, Wasny de Roure (PT), sabe que “a cultura brasileira é bastante vulnerável à corrupção”. Por isso, “toda vigilância é pouca”. Nesta entrevista ao Brasília Capital, ele fala sobre a Copa do Mundo e as possíveis consequências políticas do Mundial, e repudia as vaias e xingamentos contra a presidente Dilma Rousseff na abertura do torneio, no Itaquerão, em São Paulo: “Cada um dá o que tem”. Wasny cobra celeridade do TCDF na apreciação das contas do governo Arruda, em 2009, para que a matéria seja, em seguida, analisada pelos distritais. Embora não admita, esta pode ser uma das estratégias de seu partido para afastar o ex-governador, pré-candidato pelo PR, da corrida à sucessão de Agnelo Queiroz, em outubro, mas garante que jamais viu seu correligionário operando na Câmara Legislativa nesse sentido.
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BC – A Copa do Mundo pode ser considerada uma prévia das eleições de outubro?
Wasny – Na verdade, há aqueles que querem politizar para tirar o brilhantismo da Copa. A Copa é a consagração de um novo Brasil no cenário internacional. É uma síntese. São 12 cidades-sedes, com 12 grandes e modernos estádios, com boa parte da política de mobilidade urbana, ainda que não concluída, mas em curso, com aeroportos registrando um crescimento do movimento de passageiros nunca visto. O de Brasília, por exemplo, praticamente foi triplicado. Nisso, inclusive, a Câmara Legislativa teve uma participação importante ao aprovar a redução das alíquotas de ICMS do querosene, para que a cidade não perdesse o estacionamento de aeronaves para abastecimento.
BC – Mesmo o governo tentando mostrar tantos avanços com a realização da Copa, o que tem marcado são as denúncias de superfaturamento, que culminaram com vaia e xingamentos à presidente Dilma Rousseff na cerimônia de abertura, no Itaquerão.
Wasny – Quando se trata de questões inerentes a desvio de conduta, corrupção, ilicitude, é só na base dos fatos, na base na investigação. Onde tem fumaça, tem que ser investigado. Não dá para tratar isso de forma leviana. Se há uma inquietação, tanto como deputado quanto como cidadão, eu também quero ver aquilo esclarecido e obter informações corretas. Eu sei que a cultura brasileira é bastante vulnerável à corrupção. Então, toda vigilância é pouca. Em relação às vaias e aos xingamentos à presidenta, minha avaliação é que cada um dá o que tem. Eu conheci Itaquera ainda menino, quando visitava um tio que morava lá. Era uma região de “seu ninguém”. Hoje, você chega ao Itaquerão de metrô. Coube aos governos do PT, do PSDB, ou seja, ao povo brasileiro, o trabalho para obter esses avanços.
BC – Como o PT, que sempre teve um discurso ético, vai se defender dessas suspeitas de superfaturamento em obras? O estádio de Brasília, por exemplo, custou o dobro do previsto.
Wasny – Eu posso mencionar aqui “N” iniciativas relevantes. Mesmo assim, sempre haverá oportunidades e espaços para irregularidades acontecerem. Posso citar a criação da Secretaria de Transparência. O GDF tem respondido sistematicamente, seja com medidas de pessoas que tiveram seus interesses prejudicados, seja por licitações. Isso é uma sistemática, que envolve ainda o Tribunal de Contas e o Ministério Público. O maior exemplo é o número de medidas judiciais durante a licitação do transporte coletivo em Brasília. Foram quase duas centenas. Não é pouca coisa. Foram medidas judiciais para tentar manter o cartel e que teve apoio de setores dos órgãos de controle e partidos de oposição, que alimentaram essa cultura, que alimentaram esse procedimento da licenciosidade. Então, vamos ser um pouco claros, mais objetivos, ao procurar as devidas responsabilidades.
BC – No plano nacional, houve, ainda, as denúncias que resultaram em prisões e até em CPI para investigar a gestão da Petrobras.
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Wasny – Quando vemos um gestor público sendo preso, com um Supremo Tribunal acusando, ainda que aquilo nos incomode, para mim é uma demonstração de que o processo republicano de controle, de penalização e de transparência está acontecendo. Ao assistirmos o diretor da Petrobrás sendo preso, isso é algo importante para o país. Como foi importante para o país assistir um ex-vice-governador, ex-senador preso, como aconteceu no DF.
BC – O senhor também foi alvo, recentemente, de suspeitas.
Wasny – De fato, tentaram me atingir e eu tive que responder, inclusive adotando medidas judiciais contra os meios de comunicação, por serem levianos e irresponsáveis. Como eu tinha indicado um ex-administrador de Samambaia, e ele era citado em um processo, me acusaram, indiretamente, de também ter sido citado. Ora, isso é uma mentira! Não só o administrador de Samambaia não foi citado, como muito menos eu. Agora, cabe apurar quem está citado e quem teve qualquer envolvimento, e não fazer em um jornal de grande circulação local essas suposições. Como é que vou me recuperar? Pela via judicial! Esse é o caminho que eu tenho que utilizar, seja em relação à coluna, seja com relação ao jornal.
BC – O sr. acredita que esse tipo de denúncia pode estar vinculado ao processo eleitoral próximo?
Wasny – Com toda certeza! Mas as pessoas têm que ter responsabilidade. Uma sociedade democrática não convive com a leviandade, com a irresponsabilidade. As pessoas têm que saber por si. As pessoas têm que saber respeitar o processo de amadurecimento da sociedade brasileira. É interessante isso porque, às vezes, o jornal tem a informação correta e não divulga a informação incorreta. Isso é o que deve, de fato, constranger, porque é o mesmo jornalista que teve acesso às informações. Ele tem as informações, e por que ele suprimiu da população essas informações? Esse é o outro lado da moeda. Por que, só pelo fato de ser político, a pessoa deve ser alvo desse tipo de indagação?
BC – O sr. está falando de coisas que foram investigadas na operação Átrio, desencadeada no fim de 2013 e que recentemente teve o desdobramento com a prisão do ex-governador Paulo Octavio. Mas, logo em seguida, surgiu uma gravação da primeira-dama pedindo um favor ao ex-adminis trador de Taguatinga, Carlos Jales, que também chegou a ser preso na mesma operação. Parece que estão levando o debate político para o campo do quem rouba menos, em vez de se discutir quem fez mais pela população.
Wasny – A política no DF, infelizmente, está muito contaminada. E isso é extremamente doloroso, porque as pessoas de bem se afastam dessa tarefa pública. É lamentável. É deplorável. Essa tentativa de envolver pessoas por meio de acusações levianas, ou até por omissão de informações, só demonstra que tipo de compromisso elas têm com a cidade. Elas estão preocupadas com seus patrimônios, com seus contratos com o Estado, com o tipo de relações econômicas que exercem dentro do DF. Eu acredito que se há alguma denúncia, ela deve ser apurada, deve ser averiguada. Felizmente, temos um MP competente, atento. Nós temos um TCDF com uma equipe altamente qualificada. O que me intriga é que a própria mídia no DF não tem tido interesse no processo de desdobramento de rejeição das contas do governo de 2009. As coisas não têm respostas. Isso, sim, afeta quase 3 milhões de habitantes, que vão decidir o processo político e precisam dessas informações por inteira. Onde estão os meios de comunicação em Brasília para informar os cidadãos brasilienses?
BC – Esse interesse da base governista de analisar as contas de 2009 seria para impedir a candidatura do principal adversário do atual governador, segundo as pesquisas eleitorais?
Wasny – Eu não tenho esse entendimento. Na realidade, as mediações do governo anterior se dão com um grande número de parlamentares nesta Casa. Além do que os parlamentares têm consciência da responsabilidade de ler os relatórios do Tibunal de Contas, de forma que está no próprio relatório que a Comissão de Economia Orçamento e Finanças tem que apreciar. Não quero entrar no mérito de cada ponto de vista de parlamentar. Cada um tem autonomia. Eu nunca vi o governador Agnelo operando dentro desta Casa no sentido dessa ou daquela posição política em relação às contas. Eu estou cobrando pelo dever como parlamentar e presidente do Poder Legislativo do DF. Trata-se de uma tarefa que já deveríamos ter resolvido e apresentado para a sociedade. Concordando, não concordando, aprovando ou rejeitando, nós não podemos desconhecer que essa é uma função que cabe ao TCDF e à Câmara e que não foi devidamente equacionada.
BC – Outra função da Câmara também não equacionada nos últimos anos é a apreciação da Lei do Uso e Ocupação do Solo (Luos) e do Plano de Planejamento do Conjunto Urbanístico de Brasília (PPCub).
Wasny – Você está correto. Eu digo, com toda certeza, que há um prejuízo tanto para a área tombada, como para o restante do DF. Infelizmente, todos nós responderemos perante a sociedade por esse prejuízo. E aqui não dá para imputar exclusivamente ao governo. Há nichos de interesses específicos. Cabe às instâncias dizer qual será o conteúdo que tem que ser o mais adequado a ser aprovado.
BC – No início de sua gestão, o senhor nos concedeu uma entrevista e estabeleceu como metas a publicação do Jornal Distrital e a implantação da TV Distrital. O número 1 do jornal já está circulando. Quando à TV estará no ar?
Wasny – Na realidade, a gente tem avanços e frustrações. Quando a gente chega, sonha muito. E é bom sonhar, mas frustra-se muito também. Há algumas medidas que foram tomadas, que estão demonstrando um papel extremamente relevante na instituição. Uma delas é o convênio com a gráfica do Senado, que está dando poderes à instituição e aos parlamentares no sentido de ter publicações de âmbito federal e publicações locais. Nos próximos dias, receberemos um grande número de Constituições impressas e atualizadas com as últimas PECs. Vamos fazer, nas próximas semanas, a Lei Orgânica do DF também atualizada. Esse convênio não apenas fortalece a gráfica do Senado, mas fortalece a capacidade de divulgação da CL.
BC – Em que bases foi firmado esse convênio?
Wasny – A CL paga preço de custo à gráfica do Senado. É um procedimento bastante transparente. A tiragem do jornal é de 50 mil. Estamos fazendo a distribuição junto com os jornais comunitários, como encarte, pedindo uma cortesia. E vocês têm nos ajudado. Cada parlamentar também pode difundi-lo em suas bases. Em relação à TV Distrital, estamos concluindo esse processo. Aí a população poderá ter a TV Legislativa tanto por um canal aberto como por assinatura.