Um grupo de 13 mães que moram no Distrito Federal está com problemas para conseguir alimentar seus filhos com um leite específico para alérgicos fornecido pela Secretaria de Saúde do Distrito Federal. O Correio falou com duas dessas mulheres que relataram a dificuldade em conseguir dar continuidade à dieta dos filhos. O leite antigo foi trocado há cerca de três meses por meio de licitação e os bebês não se adaptaram ao novo produto escolhido.
Segundo um dos laudos médicos prescritos por William Casagrande, um dos bebês reagiu ao novo leite com diarreia, urticária, reação gastrointestinal e apresenta “risco de anafilaxia”. De acordo com os dados da Secretaria de Saúde, são 500 crianças de até dois anos que têm direito ao leite fornecido pelo governo, gratuitamente, por meio do Programa de Terapia Nutricional Enteral Domiciliar.
Além das reações alérgicas dos filhos, as mães ainda reclamam de um rótulo duplo na lata do leite – um da nova fórmula sobreposto ao da antiga. Elas, que já entraram em contato com o fabricante, com a Secretaria de Saúde e com o Procon, ainda não tiveram um posicionamento certo sobre a situação.
Segundo a nutricionista da empresa, Ana Carolina Donan, a nova fórmula do novo leite é igual à antiga, exceto com uma diminuição no teor de ferro. \”Esse tipo de alergia é incomum, mas pode acontecer. Cada organismo é um\”, explicou. Em nota, a empresa informa que o conteúdo no interior da lata é exatamente o descrito em sua rotulagem. \”As quantidades de macro e micronutrientes são confirmadas por meio de análises rotineiras de seus produtos acabados, a partir das quais são gerados laudos para cada novo lote produzido.\”
A pequena Ashley, de 9 meses, filha da secretária Gabriela Cordeiro, 29, está sem ingerir o produto fornecido pelo GDF e se alimenta por meio de doação de outro leite. \”Eu suspendi o novo leite por orientações do médico dos meus filhos. Tenho sorte de estar vivendo de doações, mas há muitas mães que continuam dando o leite para os filhos por não ter opções\”, conta.
Sob instruções do gastroenterologista pediátrico dos filhos, a secretária explica que a troca de leite é feita sob muitos cuidados para evitar reações e que deve-se, inclusive, trocar a mamadeira para que não haja resíduos do líquido anterior. \”Eu fiz tudo certo, não furei o processo de adaptação dos meus filhos. Dei o leite e em 30 minutos minha filha já estava reagindo. Só pode ter algo de errado com o leite\”, justifica.
Assim como Gabriela, Maiana Dourado, 26 anos, mãe de Arthur, de 9 meses, conta que o filho teve até problemas respiratórios por causa do leite, diagnosticado pelo médico. Segundo ela, as latas recebidas são do mesmo lote das entregues à Gabriela. Ela e o marido vão recorrer à Justiça: \”Alguém precisa dar outra opção para as crianças que têm alergia ao novo leite. Seja o governo, seja o laboratório.\”
A Secretaria de Saúde disse, em nota, que as reações adversas ao produto estão sendo devidamente catalogadas pelo órgão, encaminhadas à empresa fornecedora e à Anvisa para esclarecimentos. Segundo o órgão, \”não há diferenças técnicas entre os produtos Puramino e Neocate [produto fornecido na licitação antiga]. Ambos são registrados na Anvisa para atender à mesma finalidade (fórmula infantil a base de aminoácidos livres). A empresa fabricante do Puramino apresenta todos os requisitos necessários a sua participação em um processo licitatório.\”