Mario Pontes
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Rio – No início da última noite antes da Copa o telefone corta minha leitura de um livro de Moreira Campos, escritor cearense reconhecido pela crítica nacional como um dos maiores contistas brasileiros no século XX, cujo centenário de nascimento comemoramos este ano. Atendo. No outro extremo a voz me informa, em velocidade supersônica, que realiza uma pesquisa sobre o desempenho de certo político fluminense. Rápida e estridente é a metralha verbal do catador de escolhas. Tão rápida que o intervalo à minha disposição é insuficiente até para ter certeza da identidade daquele cujas qualidades devo julgar!
Embora jamais tenha recebido, de autêntico agente de pesquisa, uma consulta sobre política, acredito na existência de institutos que até hoje captam e expõem limpamente opiniões e tendências dos cidadãos, sem fazer concessões a interesses momentâneos. Mas, por via das dúvidas, mesmo o leitor que, ao contrário de mim, já expôs sua opinião a pesquisadores normais, deve ser advertido de que há picaretas na praça das pesquisas.
Quem, se não um deles, faria o possível para atrapalhar você com perguntas a mil por hora? Que antes de você fixar na mente o nome do personagem nomeado, já se apodera de nova fração de segundo para instruí-lo a indicar sua escolha, pressionando a tecla x ou y do telefone, em tempo insuficiente ao movimento dos dedos humanos?
Com esse tipo de pesquisa é provável que eu esteja incluído entre os que apóiam o político “pesquisado”. Ou relegado ao gelo dos 50%, 60% que “não quiseram ou não souberam responder”.
Quando eu tinha dezessete anos e começava a trabalhar na redação de um pequeno jornal, o grotesco político ainda era monopólio do cafundó, cuja chave se mantinha na mão grosseira do coronel. Hoje não tenho mais dúvida de que a Contrafação deixou para trás suas tocas e veio acampar ao sol das cidades, a minha, a sua, a de todos vocês. Vestida de anjo, é claro.