Mario Pontes
- Advertisement -
Rio – Cariocas por nascimento ou adoção – como é o caso deste escrivinhador – acabam de receber uma boa e desejada notícia: após meses fora dos trilhos em consequência de um acidente, o Bondinho de Santa Tereza volta a rodar. O retorno beneficia diretamente apenas uma pequena parcela da população do Rio. Mas alegra à maioria. E embora ainda só no plano do simbólico, o fato nos premia com uma sensação de vitória.
Até a década de 1950 o Rio contava com muitos quilômetros de trilhos, sobre os quais numerosos bondes transportavam grande parte da população. Um belo dia, envolvido pela bandeira do moderno (Ah, Modernidade, quantas bobagens já se cometeram em teu nome!), o governador Carlos Lacerda acabou com eles.
Em umas poucas linhas próximas do Centro os bondes foram substituídos por ônibus elétricos comprados na Itália. Inadequados à topografia, e em particular à sinuosidade de muitas de nossas ruas, os “chifrudos” – como eram chamados – foram para o brejo e a população tornou-se refém dos ônibus comuns, desconfortáveis e caros.
O episódio suscitou perguntas jamais respondidas. Por que Lacerda e outros viajados políticos cariocas “ignoraram” a permanência do bonde em algumas das cidades mais importante do Velho Mundo? Em Frankfurt, centro financeiro da Europa, além do metrô e do anel ferroviário que serve à população suburbana, o bonde continua a mover-se em linhas curtas e bloqueadas. Em Paris ele acaba de passar por reformas que o capacitam a ampliar seus serviços. E assim em várias outras grandes cidades européias.
O Brasil é um dos poucos países em que prefeitos e governadores renderam-se aos empresários de ônibus, o sistema de transporte coletivo mais inadequado ao ambiente das supercidades. Por que tal adesão? Enquanto as bocas se fecham, alegremo-nos com a volta do Bondinho. Ela nos reforça a esperança de que, em dia não muito distante, o Amarelinho vença os limites de Santa Tereza e volte para onde nunca deveriia ter saído: as ruas e avenidas do Rio.