Júlio Miragaya (*)
Os dados divulgados pelo IBGE sobre os PIBs estaduais de 2023 não trazem nenhuma novidade: a região Centro-Oeste, impulsionada pelo forte desempenho do setor agrícola e agroindustrial, continua sendo a de maior crescimento; a Sudeste e parte da Sul sofrem as consequências das dificuldades enfrentadas pelo setor industrial e a Nordeste continua diminuindo, a passos de tartaruga, a abissal diferença em termos de PIB per capita para o Centro-Sul do País, o “Sul Maravilha”, como dizia Henfil.
As Unidades Federativas (UFs) com maiores PIBs em 2023 foram as mais populosas: São Paulo (R$ 3,56 trilhões), Rio de Janeiro (1,26 trilhão) e Minas Gerais (1 trilhão), seguidas de Paraná e Rio Grande do Sul, com pouco menos de R$ 700 bilhões cada. A Bahia (R$ 450 bilhões) é o estado com maior PIB da região Nordeste e o Distrito Federal (R$ 385 bilhões) pontua no Centro-Oeste.
A região Centro-Oeste foi, novamente, a que apresentou maior crescimento anual (7,6%). As demais tiveram desempenho muito parelhos: Norte (2,9%), Nordeste (2,9%), Sudeste (2,7%) e Sul (2,6%). Quanto aos estados, destaques absolutos para Mato Grosso do Sul (13,4%), impulsionado pela expansão da produção de celulose; Mato Grosso (12,9%), puxado pela safra de grãos e, surpreendentemente, o Acre (14,7%), devido à expansão da pecuária bovina. São Paulo (1,4%) e Rio Grande do Sul (1,3%) estiveram na “rabeira” do crescimento econômico em 2023.
Quando se observa o PIB per capita, é evidenciada a enorme disparidade entre as regiões e estados do País. E a região Centro-Oeste, com R$ 71.200 per capita, se consolida como líder nesse indicador, superando o Sudeste (R$ 68.357) e o Sul (R$ 61,274,00). Muito abaixo aparecem as regiões Norte (R$ 36.678,00) e Nordeste (29.890), esta com pouco mais da metade da média nacional (R$ 53.886).
Entre as UFs, destaque absoluto para o DF, com PIB per capita de R$ 129.790, seguido por São Paulo (R$ 77.566), Mato Grosso (R$ 74.620) e Rio de Janeiro (R$ 73.052). Na sequência aparecem Santa Catarina (R$ 67.459) e Mato Grosso do Sul (66.884). No outro extremo aparecem os nove estados do Nordeste. Em melhor situação, Rio Grande do Norte (R$ 30.804) e Bahia (R$ 30.476). No fim da fila, Maranhão (R$ 22.020), Paraíba (R$ 24.395) e Piauí (R$ 24.736). Observa-se que o PIB per capita do DF é 490% maior que o do Maranhão.
De 2002 a 2023 o PIB brasileiro teve um crescimento baixo, de 58,2% (2,2% ao ano), alternando períodos de grande expansão (2004 a 2010) com outros de baixo crescimento ou mesmo retração. Quando se analisa a evolução dos PIBs regionais nos últimos 21 anos, constata-se que as regiões Sudeste e Sul cresceram abaixo da média nacional, com Rio de Janeiro (40,4%) e Rio Grande do Sul (34,0%) puxando o desempenho para baixo.
Mas isso não resultou em expressiva redução das disparidades regionais, pois conviveu com aumentos em outros casos, como os da região Centro-Oeste, que cresceu 103%, puxada pela produção agrícola e agroindustrial, e o de Santa Catarina, assentada na expansão industrial. É fato que a região Norte avançou na redução da desigualdade, tendo crescido 94%, com destaques para o setor agrário em Tocantins e Rondônia e indústria no Amazonas.
Não foi o caso da Nordeste, que cresceu 63,4% nesses 21 anos, pouco acima da média nacional. Isso fez com que sua participação no PIB nacional aumentasse muito pouco, de 13,1% para 13,8%. Nesse ritmo lento, para chegar a uma participação de 26,8%, que é sua atual participação na população do País (igualando seu PIB per capita à média nacional), seriam necessários 280 anos. O mais cruel é que a participação do Nordeste no PIB nacional era exatamente de 13,2% em 1960, tendo chegado a 14,5% em 1985, mas após os governos da Nova República e de FHC, retornou em 2002 ao patamar de 1960.
O que se conclui disso tudo? Não obstante o esforço do governo federal em reduzir tão acentuada desigualdade, resta claro que as políticas e ações adotadas têm sido insuficientes para promover um crescimento mais expressivo do Nordeste. O setor agrícola experimentou forte expansão nas áreas de cerrado da Bahia, Maranhão e Piauí, só que baseada na concentração da terra em grandes propriedades voltadas para a produção de grãos, com grande concentração da renda. O restante da região, especialmente as áreas de caatinga, carece de uma efetiva reforma agrária, irrigação e sementes que gerem maior produtividade naquele tipo de solo (Alô Embrapa!). Da mesma forma, o setor industrial carece de maiores incentivos, assim como o setor de infraestrutura de transporte.
Só assim o Nordeste não terá que esperar até o ano 2305 para se aproximar do “Sul Maravilha” de Henfil.
(*) Doutor em Desenvolvimento Econômico Sustentável, ex-presidente da Codeplan (atual IPEDF) e do Conselho Federal de Economia