Caroline Romeiro (*)
Raiane Oliveira de Araújo (**)
Nos debates atuais sobre qualidade alimentar e escolhas conscientes, chama a atenção uma tendência que vem ganhando espaço nas prateleiras dos supermercados: os alimentos ultraprocessados enriquecidos com fibras.
A princípio, parecem aliados da saúde, já que esse nutriente é reconhecido como essencial para o bom funcionamento do organismo – a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que adultos consumam de 25 a 30 gramas de fibras por dia, quantidade que pode ser facilmente atingida por meio de frutas, legumes, leguminosas e cereais integrais.
No entanto, não é raro ver produtos que destacam no rótulo “alto teor de fibras”, enquanto escondem em sua composição aditivos, excesso de sódio, açúcares e gorduras.
Um exemplo comum são os cereais matinais infantis: muitos prometem fibras e vitaminas, mas, ao mesmo tempo, podem conter até 30% do seu peso em açúcar, além de corantes e aromatizantes artificiais. Na prática, acabam se aproximando mais de um doce do que de uma fonte equilibrada de nutrientes.
Esse cenário mostra que fibras isoladas adicionadas artificialmente não reproduzem integralmente os efeitos positivos das fibras naturais. Já os alimentos frescos, como frutas com casca, leguminosas e grãos integrais, oferecem fibras em conjunto com outros nutrientes importantes, como vitaminas, minerais e compostos bioativos.
Isso não significa que o consumo de fibras deva ser reduzido. Pelo contrário. O desafio está em compreender a diferença entre alimentos de verdade e versões criadas pela indústria para atender à demanda por saúde rápida e fácil.
Uma combinação simples do cotidiano, como uma maçã com casca, meia xícara de feijão, uma fatia de pão integral e um prato de salada variada, já soma quase 20 gramas de fibras naturais, sem depender de ultraprocessados.
Mais do que seguir tendências ou embalagens chamativas, é preciso reforçar que escolhas alimentares equilibradas se constroem no dia a dia, com base em ciência e respeito à saúde da população.
Nesse processo, o papel do nutricionista é fundamental: orientar, esclarecer e ajudar a transformar a informação em cuidado real. Assim, o equilíbrio permanece como palavra-chave: manter a feira como protagonista do prato e olhar com cautela para a prateleira.
(*) Professora de Nutrição da Universidade Católica de Brasília UCB) – revisora do texto
(**) Aluna de Nutrição da UCB – autora do texto