Além do provérbio citado no título acima, há outros que se encaixam perfeitamente na descrição das relações entre os “amigos” Donald Trump e Elon Musk: “Roupa suja se lava em casa”, ou “Não há pior inimigo que um falso amigo”. Bastaram parcos 5 meses para o “casamento” entre o chefe de Estado mais poderoso do planeta e o homem mais rico do mundo ir por água abaixo.
Indicado por Trump para chefe do Departamento de Eficiência Governamental dos EUA, Musk foi sumariamente demitido. E as acusações mútuas se avolumaram. Claro que eles ainda podem se reconciliar, isso já ocorreu outras vezes, mas a “guerra de egos” parece não querer dar chances à reconciliação.
Desnecessário dizer que os dois são ideologicamente muito próximos. Trump é a maior liderança da extrema direita mundial, efusivamente venerado por chefes de Estado fascistas, como o presidente argentino Javier Milei, da coligação A Liberdade Avança; o presidente polonês Andrzej Duda, do partido Lei e Justiça; o primeiro-ministro húngaro Viktor Orbán, do Fidesz e a primeira-ministra italiana Giorgia Meloni, do Fratelli d’Italia.
E também por líderes fascistas, como a francesa Marine Le Pen, do Reagrupamento Nacional; a alemã Alice Weidel, do Alternativa para a Alemanha (AfD); o espanhol Santiago Abascal, do Vox; o português André Ventura, do Chega e o clã brasileiro da familícia Bolsonaro.
Já Elon Musk, o bilionário dono da Tesla e da SpaceX, detentor de uma fortuna estimada em US$ 400 bilhões, aparece como um dos líderes da Conferência de Ação Política Conservadora (sigla CPAC, em inglês), uma espécie de Internacional Fascista, tão apreciada pelo clã Bolsonaro.
A “amizade” começou a ruir quando Trump, negacionista do aquecimento global, e, portanto, crítico da política de Biden de concessão de incentivos às fontes de energia limpa e ferrenho defensor da expansão da produção de combustíveis fósseis, começou a retirar subsídios e incentivos fiscais para a produção de carros elétricos nos EUA, o que reduziu a competitividade de sua maior corporação, a Tesla, de Musk.
Para piorar o quadro, a guerra comercial movida por Trump contra a China provocou uma forte reação chinesa, compreendendo uma ofensiva global direcionada aos mais variados mercados, tendo como um dos carros-chefes a venda de carros elétricos e híbridos, concorrendo com a combalida Tesla de Musk.
O mundo do bilionário desabou. Nos últimos meses, as ações da Tesla caíram mais de 15%, provocando a perda de cerca de US$ 150 bilhões em seu valor de mercado, fazendo refluir a fortuna de Musk, seu maior acionista, em US$ 30 bilhões.
Outro baque já anunciado será o rompimento de contratos bilionários do gigantesco setor militar do governo norte-americano com a SpaceX, que somaram mais de US$ 20 bilhões desde 2008.
Musk revidou com pesadas críticas ao projeto de lei orçamentária enviada por Trump ao Congresso, que, segundo ele, aumentará substantivamente o já elevado déficit governamental norte-americano, ao que Trump reagiu afirmando que “a maneira mais fácil de economizar dinheiro do orçamento é encerrar os subsídios e contratos governamentais de Elon Musk”. Ou seja, uma verdadeira confissão das pútridas relações do governo dos EUA com as grandes corporações.
A reação de Musk foi ainda mais violenta, acusando Trump de envolvimento com o empresário pedófilo Jeffrey Epstein, responsável por uma rede mundial de tráfico e exploração sexual de menores, que em 2019 foi morto na prisão, numa clara “queima de arquivo”. Arquivos que, segundo Musk, não estão sendo tornados públicos para não criminalizar Trump.
Onde vai chegar a guerra entre esses dois poderosos próceres do capital global e da extrema-direita, não se sabe. Provavelmente Musk deixará o posto de maior bilionário do planeta e Trump verá aumentado o desconforto e a desconfiança que boa parte dos capitalistas norte-americanos nutre por ele.
Se tudo isso resultar na derrocada de ambos, a democracia e a humanidade agradecem.