Para os que não acreditam que estivemos a um passo de um novo golpe militar no Brasil, segue um breve relato do passo a passo da trama desvendada pela PF:
1º passo: Repetir sistematicamente que Lula não poderia presidir o Brasil. Desde a libertação de Lula, Bolsonaro e bolsonaristas, sob a acusação de ex-presidiário, ladrão e comunista, repetiram insistentemente que Lula não poderia voltar a presidir o Brasil. Em 5 de julho de 2022, diante da iminente derrota, reunião no Planalto discutiu como viabilizar a permanência de Bolsonaro no poder. O general Augusto Heleno (foto) declarou: “Se tiver que virar a mesa, é antes das eleições”. Em 18 de julho, Bolsonaro falou em possível fraude para embaixadores. Em 7 de setembro, transformou a comemoração dos 200 anos da independência do Brasil em ato eleitoral. Em2 de outubro, Lula quase ganhou no 1º turno, obtendo 48,4% dos votos. Entre 3 e 29 de outubro, Bolsonaro antecipou o pagamento do Auxílio Brasil e prometeu elevá-lo de R$ 405 para R$ 600, mesmo sem previsão orçamentária. Ainda assim, em 30 de outubro, Lula venceu o 2º turno.
2º passo: Difundir que a eleição foi fraudada. 1º de novembro, Bolsonaro não reconheceu a derrota e começaram a se formar atos em frente a dezenas de quartéis pelo País, com a narrativa de que Lula só ganhou porque a eleição foi fraudada pelo TSE. O objetivo era incitar a população e criar ambiente propício ao golpe. No dia 4 de novembro, o general Mário Fernandes enviou mensagem ao ministro Eduardo Ramos: “Tem que forçar a barra com o Alto Comando, nem que seja para inflamar a massa, para que ela se mantenha nas ruas. Talvez seja isso que ele queira: o clamor popular, como foi em 1964. O relatório do Ministério da Defesa não pode ser diferente do que disse a live do argentino Fernando Cerimedo”. No dia 9 de novembro, o relatório do MD ao TSE, embora não apontasse nenhum indício de fraude nas urnas, concluía capciosamente que “a análise não foi efetiva para atestar o correto funcionamento do sistema”.
3º passo: Evitar a posse de Lula. No dia 9 de novembro, o general Mário Fernandes (foto) imprimiu, no Palácio do Planalto, a primeira versão do plano “Punhal verde amarelo” para que “kids pretos” (grupo de elite do Exército) matassem Lula, Alckmin e Moraes, e o levou ao Alvorada. No sábado, 12 de novembro, reunião na casa do general Braga Netto discutiu o plano.
4º passo: Realizar ações para mostrar que o ‘povo’ não vai aceitar Lula no Planalto. Dia18 de novembro, Braga Netto (foto) declarou aos bolsonaristas no Alvorada: “Vocês não percam a fé!”. Na 2ª quinzena de novembro, bolsonaristas ampliaram os acampamentos em frente aos quartéis pedindo intervenção militar e caminhoneiros bolsonaristas promoveram 876 bloqueios de rodovias em 17 estados com a total tolerância da PRF.
5º passo: A preparação do golpe. Dia 28 de novembro, reunião de militares em Brasília elaborou a “Carta de oficiais ao Comandante do Exército”, pressionando-o a aderir ao golpe. No dia 6 de dezembro, o plano “Punhal verde amarelo” foi novamente impresso, listando demandas operacionais. No dia 7, reunião no Planalto discutiu a “Minuta do golpe”. Sua 1ª versão propunha a decretação de Estado de Defesa, com intervenção no TSE. Uma 2ª versão propunha a decretação do Estado de Sítio e GLO (Garantia da Lei e da Ordem), permitindo prisões e suspensão do direito de reunião. E uma 3ª versão previa a prisão de Alexandre de Moraes (foto), Gilmar Mendes e Rodrigo Pacheco. A reunião de Bolsonaro foi com o ministro da Defesa Paulo Sérgio e os comandantes do Exército, general Freire Gomes (refutou o golpe) e da Marinha, almirante Almir Garnier (apoiou o golpe).
6º passo: Bolsonaro amplia o apelo em busca de apoio popular. Dia 8 de dezembro, mensagem do general Fernandes a Mauro Cid (foto): “Durante a conversa que eu tive com o presidente, ele disse que a diplomação de Lula no dia 12 não seria uma restrição. Qualquer ação nossa pode acontecer até 31 de dezembro”. Dia 9, Bolsonaro aosapoiadores no Alvorada: “Quem decide meu futuro, para onde eu vou, são vocês. Quem decide para onde vai as Forças Armadas são vocês”. No mesmo dia, Moraes determinou operação contra atos antidemocráticos em 8 estados, o que gerou a mensagem de Fernandes para Mauro Cid: “A gente tem orientado tanto o pessoal do agro como os caminhoneiros que estão lá nos QGs. É preciso que o presidente acione o Ministério da Justiça para segurar a PF”.
7º passo: Golpistas buscam criar clima de insegurança que demande uma intervenção militar. Dia 12 de dezembro, dia da diplomação de Lula. Bolsonaristas promoveram quebra-quebra em Brasília. Queimaram carros e ônibus, depredaram uma delegacia de polícia, tentaram invadir a sede da PF e se aproximaram de hotel onde Lula estava hospedado.
8º passo: Momento da execução do golpe. Dia 15 de dezembro, data prevista para o golpe, o “Copa 2022”. Militares se dirigiram para executar Moraes em frente ao restaurante Gibão, mas abortaram a operação de última hora. No dia 16, Fernandes apresentou a versão final da “Minuta do golpe”, que criaria o Gabinete Institucional de Gestão da Crise, que após a eliminação do presidente e do vice, exerceria o poder, com os generais Braga Netto e Augusto Heleno como “cabeças”.
9º passo: Nova tentativa de criar pretexto para o golpe. Na véspera de Natal, foi colocado potente artefato explosivo em caminhão-tanque próximo ao aeroporto de Brasília com o objetivo de causar dezenas de mortes e gerar sentimento de insegurança na população, demandando uma ação militar.
10º passo: Última tentativa após a posse de Lula. Dia 7 de janeiro, milhares de bolsonaristas chegaram a Brasília e se dirigiram ao acampamento do QG do Exército. No dia 8, escoltados pela PM-DF, cerca de 5 mil bolsonaristas marcharam pelo Eixo Monumental e invadiram e depredaram o Planalto, o STF e o Congresso Nacional. Na sequência, 16 torres de energia foram derrubadas ou danificadas e se tentou bloqueio em refinarias de petróleo, para provocar uma GLO. A tentativa fracassou e mais de 1.200 bolsonaristas golpistas foram presos.
Prisão dos mentores do golpe militar. Supressão do Artigo 142 da CF e o fim da ameaça de tutela militar