O mundo assiste, atualmente, a um grande número de conflitos bélicos. Além da tragédia humanitária que representam, as guerras têm enorme impacto nas atividades econômicas globais: impactam o preço do petróleo e de outras matérias-primas e a produção e preço dos alimentos; desorganizam as cadeias globais de suprimentos, afetam o comércio internacional, geram instabilidade econômica e estimulam a especulação financeira, com graves consequências no mercado de trabalho e na geração de renda.
Dois conflitos chamam mais a atenção da mídia e da opinião pública mundial: o massacre em curso na Palestina e a guerra Rússia c Ucrânia. O conflito entre palestinos e judeus se arrasta há mais de um século, desde quando a Grã-Bretanha tomou o território dos turcos no final da 1ª Guerra Mundial. O mais recente capítulo envolveu o atentado terrorista do Hamas,há 10 meses, que matou 1.140 israelenses, seguido do terrorismo de Estado promovido por Israel, que matou mais de 50 mil pessoas na Faixa de Gaza, sendo 33 mil crianças, mulheres e idosos e feriu ou mutilou quase 100 mil.
Em termos econômicos, a guerra já teve um custo de US$ 85 bilhõespara Israel, elevando o déficit público primário para 8% do PIB. O país é hoje um Estado militarizado, em que o setor bélico e tecnológico responde por 14% da força de trabalho, 18% do PIB e 50% das exportações. Os gastos com as Forças Armadas representam mais de 12% do orçamento governamental (US$ 2.508 per capita, o maior do mundo), sem contar a ajuda anual bilionária dos EUA. A recente convocação de 350 mil reservistas afetou o funcionamento das empresas e, associado à paralisia do turismo, contribui para uma contração do PIB estimada em 2% em 2024.
Mas o custo econômico para a Palestina é infinitamente maior. Como já destacado em artigo anterior, a destruição no território de Gaza se insere entre as maiores registradas na História. Nada menos que 25 mil edifícios foram destruídos pelas bombas israelenses. Das cerca de 500 mil unidades habitacionais existentes, 384 mil (77%) foram destruídas (87 mil) ou danificadas (297 mil). Foram destruídos ou danificados 59 hospitais, 449 escolas ou universidades, 198 sedes do governo, 610 mesquitas e 3 igrejas.
Cerca de 2 milhões de moradores de Gaza, 87% da sua população de 2,3 milhões, foi forçosamente deslocada pelo exército israelense e a quase totalidade se amontoa em casas de parentes ou em precários acampamentos, alguns covardemente bombardeados por Israel. Se a agressão parasse agora, a reconstrução de Gaza, segundo a ONU, levaria 20 anos, e custaria mais de US$ 50 bilhões, 10 vezes o PIB local. É como se o Brasil precisasse investir 20 trilhões de dólares em uma hipotética reconstrução.
Do mesmo modo que a agressão israelense à Palestina tem risco de se propagar para todo o Oriente Médio, a guerra Rússia x Ucrânia periga descambar para um conflito europeu em larga escala, inclusive com uso de armamento nuclear. Em dois anos e meio de guerra, embora os dados não sejam reconhecidos por ambos os países, a BBC estimou o número de mortos em mais de 100 mil, metade russos e metade ucranianos. E o número total de feridos é estimado em cerca de meio milhão.
Mais do que a economia russa, as economias dos países da União Europeia sofrem com as sanções aplicadas à Rússia, notadamente em função da elevação do custo da energia importada devido ao corte do suprimento de óleo e gás pelos russos. Na Grã-Bretanha, houve um aumento de 54% na conta de energia doméstica, e os subsídios do governo chegarão a 150 bilhões de libras (175 bilhões de euros). Na União Europeia os governos bancam subsídios da ordem de 350 bilhões de euros. De outro lado, a ajuda militar e financeira à Ucrânia já consumiu 85 bilhões de euros dos contribuintes europeus e 60 bilhões de dólares de norte-americanos e canadenses.
Abordamos duas, mas há inúmeras outras guerras em curso, com destaque para as guerras civis na Síria, Líbia e Yemen, além dos inúmeros conflitos “invisíveis” aos olhos do planeta, sendo esses, em sua maioria,guerras civis, localizadas, sobretudo, na África e na Ásia, resultantes do colonialismo e da criminosa partilha efetuada pelas potências europeias nos dois continentes ao longo dos séculos XIX e XX.
O Planeta teve, em 2022, o mais volumoso gasto militar da história: US$ 2,24 trilhões, sendo que os países da OTAN e seus parceiros responderam por 65% do total, capitaneado pelos EUA, com US$ 877 bilhões (quase 40%).
Basta! Cessar-fogo imediato em Gaza, na Ucrânia e em todas as guerras!
É o que clamam os povos atingidos pelos conflitos