Por que razão a popularidade de Lula continua caindo? Muitos dizem que é por causa de suas declarações (corretas) comparando o que faz Israel e o que fez Hitler (em muito maior proporção). Mas a razão principal é outra, vem daqui de dentro. Aliás, Lula poderia deixar de tentar resolver todos os conflitos do planeta (Ucrânia, Gaza, Venezuela, Irã) e se dedicar um pouco mais aos problemas do Brasil.
Segundo as pesquisas da Quaest, AtlasIntel e Ipec, quatro áreas concentram o aumento da insatisfação da população com o desempenho do governo federal: economia, criminalidade, corrupção e política externa.
A Quaest aponta que a avaliação positiva do governo Lula caiu nessas quatro áreas: combate à criminalidade (de 43% para 24%), combate à corrupção (de 49% para 28%), rigor com a responsabilidade fiscal (de 48% para 30%) e boa condução da política externa (de 53% para 38%).
Problemas na área econômica são apontados como uns dos que mais afligem a população. É verdade que a inflação baixou em 2023, se situando na meta, e que os alimentos subiram menos de 1%. Ocorre que eles haviam disparado com Bolsonaro e os alimentos básicos (arroz, feijão, macarrão, batata-inglesa, tomate, cenoura e legumes em geral, banana e frutas em geral) permanecem muito caros.
E se a geração de emprego cresceu, deve-se dizer que se deu principalmente na expansão do chamado emprego precário, decorrente da reforma trabalhista. Estão aí os 2 milhões de trabalhadores que fazem entregas em suas motos e bicicletas.
Quanto ao suposto mal desempenho no combate à criminalidade, à corrupção e nas relações externas, decorrem, principalmente, das narrativas críticas e mentirosas da direita nas redes sociais, não eficazmente respondidas pelo governo, seja nas redes, pela Secom ou pelo próprio Lula.
A direita aproveita alguns eventos isolados (fuga de presos no Rio Grande do Norte) para disseminar a sensação de caos na segurança pública. Está agora explorando a versão tresloucada de que a redução na distribuição de dividendos pela Petrobras (muito criticada pelo mercado e pela grande mídia) resulta do desvio de dinheiro para os cofres do PT ou para Venezuela e Cuba.
O desempenho no primeiro ano de Lula foi bom, mas não pode gerar euforia. A aprovação do arcabouço fiscal e da reforma tributária fase 1 (sem tocar na taxação da renda e da riqueza), ocorreram no Congresso com o voto entusiasmado das bancadas de direita.
Lula foi eleito prometendo (22 vezes em seu discurso para 100 mil na Praça dos Três Poderes) combater a desigualdade social no Brasil, gerando muitas expectativas de melhorias de vida para a população mais pobre. E é aí que ele está perdendo apoio, notadamente entre seus eleitores, aqueles com rendimento de até dois salários mínimos, com nível fundamental, moradores do Nordeste e parte do Sudeste.
Não há razões para desespero. Na pesquisa da AtlasIntel, apesar da queda, o desempenho do governo Lula supera o de Bolsonaro em praticamente todos os itens abordados, embora por margem agora menor. Mas faltam só dois anos para começar a campanha de 2026, e a direita virá forte.
Se liga, Lula!
Venezuela e El Salvador
Um dos erros de Lula tem sido passar pano para a política errática de Maduro. Maduro não é Chaves e comete muitos erros políticos. Claro quer Lula tem que defender a soberania da Venezuela e repudiar as intromissões dos imperialismos norte-americano e britânico, mas deve cobrar publicamente os compromissos assumidos por Maduro, que tentou usar a justa reivindicação por Essequibo para “jogar” para o público interno, visando obter vantagens eleitorais, como o fizeram Bush, Videla (Argentina) e faz agora Biden.
Lula pode, sim, criticar Maduro – que, com o controle da Comissão Eleitoral, escolhe seus adversário – sem se alinhar com a grande mídia, que vai sempre atacar o governo anti-imperialista da Venezuela.
Aliás, essa grande mídia é despudoradamente parcial. Critica Maduro, mas, nas recentes eleições realizadas em El Salvador – em que o candidato da extrema-direita Nayib Bukele foi reeleito com 83,1% dos votos contra apenas 7% de Manuel Flores, o candidato da FMLN, de esquerda, e 6,2% de Joel Sanchez, o candidato da Arena, da direita tradicional.
A grande mídia limitou-se a destacar sua vitória acachapante, sem mencionar em que condições ela se deu. Teria sido naturalmente acachapante? Hitler obteve 92% dos votos nas eleições de novembro de 1933, oito meses após sua eleição em março do mesmo ano.
O “acachapante” de Bukele teve algo semelhante ao de Hitler? Sim, mas creio que foi pior. Para começar, a mídia se esqueceu de mencionar que os “fenomenais” 1,66 milhão de votos que Bukele recebeu (83,1% dos votantes) representaram apenas 26,7% dos 6,21 milhões de eleitores salvadorenhos registrados. Isso mesmo, pouco mais de ¼. Os que se abstiveram, votaram nulo ou em branco foram nada menos que 4,22 milhões (67,8%). Se retirarmos os 741 mil residentes nos EUA e na Espanha, sendo que 600 mil não votaram, ainda são 3,6 milhões de não votantes (65,5%).
Há 15 anos, nas eleições de 2009 – sob o governo da “esquerdista” Frente Farabundo Marti de Libertação Nacional (FMLN), que derrubou a ditadura militar sustentada pelos EUA – eram 4,3 milhões de eleitores e 2,66 milhões votaram (62%), contra 1,64 milhão (38%) que se abstiveram, votaram nulo ou em branco.
Em 2009, no que a mídia chamava de “ditadura da FMLN” combatida pelos EUA, para cada 100 votos havia 61 abstenções, nulos e em branco. Em 2024, na “democracia” liberal de Bukele, apoiada pelos EUA, para cada 100 votos, houve 190 que não votaram.
O “democrata” Bukele cassou o mandato dos ministros da Suprema Corte e fez a indicação dos novos (que aprovaram a introdução da reeleição, vetada pela Constituição); controla com mão de ferro a Comissão Eleitoral; promoveu a fusão de 262 municípios em apenas 44 (daí venceu em 43); impediu a propaganda eleitoral dos partidos de oposição (daí elegeu 54 dos 60 parlamentares).
Mas o imperialismo norte-americano faz críticas amenas “para inglês ver” e a grande mídia esconde os absurdos que lá ocorrem e continuam chamando-a de democracia.
Bukele diz estar combatendo as facções criminosas, mas a que preço? El Salvador é o país que tem mais presos por 100 mil habitantes em todo o planeta (1.500). São mais de 100 mil numa população de 7 milhões. No Brasil a taxa é de 380/100.000 e nos EUA de 590/100.000.
Mais de 400 foram executados nas prisões desde 2022. Para ser preso basta ser delatado no Disque Denúncia; participar de grupos ou reuniões tidas como “ilícitas”; ter qualquer tatuagem, mesmo que não seja de facções e “ficar nervoso” na hora da abordagem policial. Enquanto isso, a carestia, o desemprego, a miséria e, em decorrência, a migração ilegal para os EUA, se aprofundam.
A grande mídia diz que ele tem 90% de aprovação. Faz sentido alguém que recebe 26,7% dos votos do povo ter a aprovação de 90%? Só divulgar a “parte favorável” da notícia, mesmo que mínima, omitindo as informações desfavoráveis, também é fake news.
Faz parte da prática do imperialismo, da direita e da grande mídia, que a eles servem.