O leitor talvez estranhe o título do artigo. Explico: esta semana, todas essas questões tiveram destaque no noticiário, e pensei em escolher uma delas para abordar aqui. Mas percebi que havia um fio condutor entre eles e que deveria tratá-los num mesmo contexto. O fio condutor? O sistema capitalista.
Um sistema que já nasceu selvagem – o que Marx chamou de acumulação primitiva, marcada pela expropriação violenta das pequenas propriedades; a colonização e pilhagem dos recursos das Américas, Ásia e África; a escravização de negros africanos e ameríndios -, que gerou inúmeras guerras de rapina e que em seu atual estágio de senilidade produz miséria e degradação ambiental. Exploração desenfreada, acumulação desmedida de riquezas, transações fraudulentas, pilhagem, corrupção, essas práticas infames e torpes não são marginais ou pontuais, são a própria alma do sistema.
Comecemos pelos Yanomami. Os capitalistas gananciosos buscam legalizar a exploração mineral em terras indígenas, e um dos argumentos é de que se tratam de áreas praticamente desocupadas. Assim, o extermínio de milhares de indígenas reforça o argumento.
E o que há por trás dos 20 mil garimpeiros? O lucrativo negócio ilegal de ouro, que responde por 50% da produção. Em 2021, o Brasil exportou 104 toneladas de ouro (US$ 5,3 bilhões), metade de origem ilegal, esquentado por “respeitáveis” corretoras de valores mobiliários de São Paulo. E para onde vai esse ouro? 81% para “respeitáveis” países como Canadá, Suíça, Reino Unido e os da União Europeia. Vale tudo para acumular riqueza.
Quanto ao Banco Central, não se trata apenas de ter na presidência um bolsonarista militante, disposto a sabotar o atual governo, mas de toda uma diretoria inteiramente alinhada com o mercado financeiro. A tal autonomia do BC é em relação ao governo eleito, mas total servidão ao mercado. A grande mídia, subserviente aos bancos, vive repetindo que uma taxa de juros elevada é necessária para conter as expectativas inflacionárias. Mais absoluta mentira.
Em 2022, a inflação no Reino Unido foi de 10%, e de 6,5% nos EUA, e as taxas básicas de juros, fixada pelos respectivos bancos centrais, foram de 3,5% e 4,5% (juros reais negativos). Pois bem, com inflação em 2022 de 5,8% e expectativa da mesma taxa para 2023, o BC de Campos Neto manteve a taxa básica de juros em 13,75%, com juros reais de 7,5%.
Num país com 40 milhões de desempregados e subempregados, com 70% das famílias com rendimento de até 3 salários-mínimos e renda estagnada, é óbvio que a inflação não é de demanda. A pressão inflacionária vem de alimentos, combustíveis e energia, e tem relação com políticas públicas nocivas nessas áreas. Ah! O sistema financeiro “pilhou” R$ 650 bilhões de juros da dívida pública em 2022.
Já o caso das Lojas Americanas representa bem o exemplo de capitalismo predatório. Como explicar um rombo de R$ 40 bilhões sem que a “respeitável” empresa de auditoria Price Waterhouse nada tivesse detectado. E estes bilhões sumiram? Certamente não, estão por aí, em papéis fictícios, derivativos de sabe-se lá do quê.
E quem sai perdendo? O trio controlador, os homens mais ricos do Brasil com patrimônio de R$ 170 bilhões? Não, boa parte desses bilhões foi parar na 3G. Os bancos credores? Também não, saberão compensar tais “prejuízos” em seus balanços. Quem perderá, certamente, serão os 44 mil trabalhadores da rede e os 146 mil pequenos acionistas que acreditaram na lisura dos barões capitalistas.
E tudo se liga ao senador Marcos do Val, bolsonarista raiz, que, em mais uma operação golpista, buscava envolver na trama o presidente do TSE, deslegitimá-lo como condutor do processo eleitoral e, passo seguinte, anular as eleições e barrar a posse de Lula. O senador, assim como a maioria de seus pares no Congresso Nacional, defende a exploração mineral em terras indígenas, a autonomia do BB, e idolatra o trio bilionário como empreendedores de sucesso. É! O governo Lula não vai ter vida fácil!