Júlio Miragaya (*)
Embora o futebol seja, cada vez mais, um instrumento de alienação dos povos em todo o planeta, não se pode fugir do assunto na medida em que ele mobiliza as atenções de bilhões de pessoas. A Copa do Mundo de 2022 foi permeada de absurdos, começando pela sua realização no Catar, monarquia semiartificial da Península Arábica, cujos ditadores escandalosamente compraram os votos dos delegados presentes, em 2010, no convescote da Fifa que escolheu a sede da Copa deste ano. Investigação de 2014 do jornal inglês The Sunday Times afirmou que o país árabe pagou mais de US$ 5 milhões em propinas para garantir apoio à sua candidatura.
Num país em que quase 90% da população de 3 milhões de pessoas é formada por imigrantes notadamente do subcontinente indiano (paquistaneses, bengalis, indianos, cingaleses e nepaleses), oprimidos e super explorados, sem acesso a direitos sociais básicos, a monarquia gastou cerca de US$ 200 bilhões na construção de estádios e infraestrutura suntuosos. Já a Fifa, sediada na “impoluta” Suíça, faturou nada menos que US$ 7,5 bilhões em patrocínios com a Copa do Catar, cifra superior aos PIBs de mais de 50 países, como os africanos Eritréia, Burundi, Somália, Serra Leoa; nossa Guiana, e os europeus Montenegro e Kosovo.
Pois esse evento – em que os principais futebolistas do planeta, em sua maioria “podres de rico” e alheios às duras condições de vida de seus fãs – aproxima-se do fim com a presença de uma seleção intrusa. Pela primeira vez, um país africano (e da Liga Árabe) se faz presente nas semifinais da competição: Marrocos. Após eliminar em seu grupo a poderosa Bélgica, bateu, sucessivamente, Espanha e Portugal nas fases eliminatórias e vai medir forças com a França.
Curiosamente, três países que, por treze séculos (de 711 a 1956) se defrontaram com as tropas mouras de distintas dinastias marroquinas, num vai-e-vem de conquistas e reconquistas. Após o fim da ocupação colonial europeia em 1956, cerca de 2 milhões de marroquinos migraram para a França, Espanha e Portugal, e agora, junto com milhões de descendentes, comemoram em Madri e Lisboa os feitos de sua seleção, e ansiosamente esperam comemorar nos Champs Élysées.
General de pijamas
Após os pronunciamentos de cunho golpista por parte de generais da reserva como Villas Boas, Augusto Heleno, Braga Neto e Mourão, eis que reaparece o general Paulo Chagas, candidato ao GDF nas eleições de 2018. Publicando o tuíte intitulado “Quem sabe faz a hora não espera a posse”, o “general de pijamas” exorta Bolsonaro a “dar um prazo para o presidente do TSE entregar o código-fonte das urnas, e se ele não entregar, vai lá e toma”. E conclui: “O descondensado quer ser diplomado em 12 de dezembro e Bolsonaro pode impedi-lo”. Mais golpista, impossível! Trata-se de um general que em 2014, já na reserva, foi exonerado de seu cargo no MD em função de ataques ao então ministro da Defesa Jacques Wagner (“é apenas um petista, com toda a insignificância que o título encerra”) e à Comissão da Verdade.
Deste general lembro que, durante a campanha de 2018, num dos debates na TV, ter atacado Lula, chamando-o de corrupto e dizendo que, durante o regime militar, não havia corrupção no Brasil, ao que repliquei, dizendo que nunca havia tido tanta corrupção no país quanto durante a ditadura, citando propinas na Transamazônica, ponte Rio-Niterói, Ferrovia do Aço e Angra I (além de Itaipu/Siemens, Capemi, Delfin Crédito Imobiliário etc.), mas que delas não se podia falar ou denunciar, pois quem o fazia corria o risco de ser deportado, preso, torturado e até assassinado, momento em que o medíocre “general de pijamas” abdicou da tréplica.
(*) Doutor em Desenvolvimento Econômico Sustentável, ex-presidente da Codeplan e do Conselho Federal de Economia