J. B. Pontes (*)
Como mudar a situação do nosso País? O que podemos fazer para transformar uma sociedade profundamente dividida e afundada na corrupção? Não são perguntas fáceis de serem respondidas. De um lado, uma classe média hipócrita, americanizada, alienada e sem qualquer sentimento de nacionalidade, satisfeita com as vantagens e privilégios que conquistou e que pensa que nada tem a ver com o restante da população.
A classe média brasileira, que se julga elite, nutre uma profunda aversão pelo povo. Tão corrupta quanto a classe política, majoritariamente representada pelo Centrão, com a qual guarda perfeita sintonia, aceita como normal e apoia tudo que está acontecendo.
Do outro lado, o povo alienado da realidade. Lamentavelmente, uma grande parcela da população está com a mente anestesiada. Não só é indiferente à corrupção, como também é corrupta. Bastou que um insano provocasse para que as trevas interiores desses brasileiros aflorassem, como previu Nelson Rodrigues.
Grande parte da população não tem consciência social e política e vota por qualquer vantagenzinha e, muitas vezes, até por um simples abraço de um político corrupto. Perdeu as condições intelectuais e morais para contribuir com a mudança que se faz necessária.
Enquanto estamos desunidos e inertes, os corruptos tomam conta do poder e ditam os nossos destinos, o nosso futuro como Nação. Até parece que todos passamos a considerar a corrupção, a safadeza, a esperteza como natural e aceitável.
Neste contexto, o que podemos fazer para mudar essa situação desastrosa em que o País foi jogado? No curto prazo, devemos nos esforçar para, pelo menos, diminuir a força do Centrão (**), deixando de votar em candidatos dos partidos que o compõem nas eleições de outubro. Tarefa difícil, em vista da enorme quantidade de recursos públicos colocados nas mãos deles para compra de votos e apoios políticos (orçamento secreto, emendas parlamentares infladas e assalto aos orçamentos de órgão e entidades do Poder Executivo).
No médio/longo prazo, precisamos promover uma revolução cultural, focada na elevação da consciência social e política da população. Uma tarefa gigantesca que se torna absolutamente necessária, sob pena de não termos futuro como Nação. Esta é uma relevante missão da sociedade civil, tendo em vista que a atual classe política com certeza não tem interesse em promovê-la e nem dela participar. Um povo alienado é muito mais fácil de ser manipulado…
Portanto, cabe à parcela da sociedade mais consciente agir nesse sentido, ou nada ocorrerá. A criação de sociedades civis especificamente voltadas a essa finalidade em todos os municípios é o caminho. Por outro lado, é urgente lutarmos por uma reforma política profunda, que repense o tamanho do Parlamento, a remuneração dos parlamentares, assim como a diminuição das prerrogativas e dos benefícios a eles concedidos.
Reforma com iguais objetivos também tem que ser feita nas Forças Armadas, que devem ser colocadas a serviço da Nação e não só dos seus próprios interesses.
(*) Geólogo, advogado e escritor
(**) Partidos que integram o Centrão: PL, PP, Solidariedade, PTB, União Brasil, PSD, MDB, PROS, PSC, Avante e Patriota