Iniciados na antiga Grécia há 2.800 anos (presumidamente em 776 AC), os Jogos Olímpicos marcavam um momento em que as diversas cidades-estado gregas, que viviam em sucessivos conflitos bélicos, promoviam uma trégua para a celebração de um festival esportivo em que veneravam seus deuses. A busca da celebração da paz entre os povos foi a inspiração para sua reinstituição, em 1896, época em que se agravavam os conflitos interimperialistas, tragicamente culminando 18 anos depois na 1ª Guerra Mundial.
Passados 125 anos, os Jogos Olímpicos permanecem sendo um momento de celebração da paz e harmonia entre os povos por meio do esporte, mas são também uma oportunidade de afirmação das nações no cenário geopolítico internacional: nos primeiros jogos, as medalhas eram distribuídas entre os principais imperialismos da época (Reino Unido, França, Alemanha e EUA); entre as duas guerras, os jogos de 1936 foram usados pela Alemanha como peça de propaganda da supremacia germânica; e, no pós-guerra, foi palco da Guerra Fria travada entre EUA e URSS.
Nos últimos anos, após a dissolução do bloco soviético, o que se observa é a emergência da China como principal adversária dos EUA, com a Rússia na posição de coadjuvante, ou seja, temos as três maiores potências nucleares amealhando a maioria das medalhas. Ocorre que China e Rússia são os únicos que despontam entre as potências olímpicas fora do grupo dos países desenvolvidos.
Se listarmos as 20 principais economias do mundo, considerando o PIB por ambos os critérios (nominal e PPC), temos a seguinte ordem: EUA, China, Japão, Índia, Alemanha, Reino Unido, França, Rússia, Indonésia, Brasil, Itália, Coréia do Sul, México, Canadá, Espanha, Turquia, Austrália, Arábia Saudita, Irã e Holanda. Entre as dez maiores economias, cinco desenvolvidas e cinco emergentes. Entre as vinte, são onze e nove, respectivamente.
De outro lado, se atribuirmos às medalhas olímpicas a seguinte pontuação: 3 pontos para ouro, 2 para prata e um para bronze, e considerarmos as seis últimas olimpíadas (96/00/04/08/12/16), o ranking das 20 principais nações olímpicas seria o seguinte: EUA (1.319 pontos – 630 medalhas, sendo 245 de ouro, 199 de prata e 186 de bronze); China (932 pontos), Rússia (896), Alemanha (567), Reino Unido (524), Austrália (493), França (433), Itália (365), Coréia do Sul (341) e Japão (328) fechando o G-10. Na sequência, Cuba (254), Holanda (244), Ucrânia (228), Hungria (209), Espanha (196), Canadá (177), Romênia (171), Brasil em 18º (156 pontos, decorrentes de 82 medalhas, sendo 23 de ouro, 23 de prata e 26 de bronze), Polônia (141) e Quênia (125).
O que se constata é que os países desenvolvidos predominam amplamente entre as potências olímpicas, sendo esse quadro reflexo de um maior grau de desenvolvimento, mas também resultado dos investimentos buscando maior projeção geopolítica. Já economias emergentes robustas como Índia, Indonésia, México, Turquia, Arábia Saudita e Irã apresentam desempenhos pífios nos Jogos Olímpicos, merecendo menção as performances de Cuba e do Quênia.
Por fim, vale destacar que as Olimpíadas, além de terreno de disputa geopolítica, sempre foram espaço de congraçamento entre os povos e de desafio aos regimes ditatoriais (Berlim, 1936) e de denúncia do racismo e da repressão (México, 1968). E, cada vez mais, são espaço de repúdio ao preconceito racial, à misoginia e à homofobia.
(*) Doutor em Desenvolvimento Econômico Sustentável, ex-presidente da Codeplan e do Conselho Federal de Economia