Errar uma política econômica pode ser até um
acidente, mas repetir o erro não tem desculpa. O governo
Bolsonaro vai adotar a mesma fórmula fracassada de
esquentar a economia adotada pelo governo Temer. De
setembro a meados do ano que vem, pretende liberar R$
30 bilhões do FGTS. Só quem agradece são os bancos e
financeiras, pois a experiência mostra que a maior parte
dos recursos é usada para pagar dívidas.
Em 2017, Temer autorizou o saque de R$ 43 bilhões.
A expectativa era provocar um crescimento de 0,3% do
PIB, mas o que se viu ao longo do período foi a queda nas
vendas e alta do desemprego. Isso pelo fato, segundo a
Confederação Nacional do Comércio, de que para cada R$
4 sacados no FGTS, R$ 3 foram para os credores. O
consumo, que poderia movimentar a economia, ficou em
segundo plano.
A tendência para essa nova liberação deve ser ainda
pior. Primeiro, o volume é menor. Segundo, a instabilidade
econômica, o desemprego e a falta de expectativa vão
incentivar o brasileiro a não gastar os recursos liberados.
Se alguma coisa sobrar depois de pagar as contas
vencidas, o destino primordial deve ser a poupança.
Terceiro, o montante per capita a ser liberado tende a ser
menor. O limite de saque fixado em R$ 500 por pessoa
equivale a um terço do saque médio em 2017, quando
cada trabalhador levou pra casa R$ 1.686, em média.
Diante desse quadro, nem um crescimento no estilo
voo de galinha – aquele que sobe mas cai logo à frente -,
deve acontecer. No máximo, a Serasa e o SBPC devem
ficar um pouco mais aliviados. Melhor seria investir os R$
42 bilhões em moradia e saneamento básico – finalidades
precípuas do FGTS, além de proteger a aposentadoria e o
desemprego do trabalhador.
Dados da Associação Brasileira de Incorporadoras
Imobiliárias (Abrainc) apontam que, para cada R$ 100 mil
sacados em FGTS, deixa de ser construída uma moradia
popular. Portanto, a proposta de Bolsonaro pode implicar
na não construção de 300 mil casas, num país onde o
déficit habitacional é de 7,7 milhões residências.
O melhor estimulo na combalida economia brasileira
seria somar esses R$ 30 bilhões aos R$ 60 bi que a
construção civil deve contar para executar os programas
habitacionais financiados pelo FGTS. Transformar o Brasil
num grande canteiro de obras, fazendo um milhão de
casas e implantando saneamento básico.
A construção civil movimenta diversos setores
industriais, econômicos e de serviços. Dado da Cohab de
Minas Gerais aponta a geração de dois empregos para
cada casa popular construída. Ou seja, teríamos perto de
dois milhões de pessoas contratadas.
Além disso, técnicos apontam que a construção de
residências populares estimula a abertura de lojas, escolas
e outros empreendimentos, propiciando mais
oportunidades de trabalho e de geração de renda.
Empregado, o trabalhador se sente mais confiante em
consumir. Melhor do que ter R$ 500 na carteira, é ter a
Carteira do Trabalho assinada e o salário no fim do mês.