Movimentos pró e contra o governo marcam manifestações para o mesmo dia. Em Brasília, a Esplanada será tomada pelo verde e amarelo. A torre de TV ficará coberta de vermelho. Polícia vai manter os grupos separados
O Brasil está dividido. E o reflexo desse racha será percebido nas ruas de Brasília neste domingo, 13 de março. São esperadas mais de 300 mil pessoas nos atos contra e a favor do governo.
De um lado, os movimentos como o Vem Pra Rua, Brasil Livre, Movimento Limpa Brasil e outros que cobram o combate à corrupção, defendem o impeachment da presidente Dilma Rousseff e apóiam a Operação Lava-Jato.
Do outro, a Frente Brasil Popular, formada pelo Partido dos Trabalhadores, pelo Partido Comunista do Brasil, Central Única dos Trabalhadores, Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil, Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra.
São mais de 40 entidades dispostas a tudo pela manutenção do projeto de esquerda instaurado no País há 13 anos, desde a primeira eleição de Lula. A expectativa é reunir 50 mil pessoas, a partir das 8h, na Torre de Televisão.
“Temos força e vamos mostrá-la nas ruas no domingo para protestarmos contra o golpe e a falta de respeito com o maior presidente que o Brasil já teve”, disse América Bonfim, integrante do FBP.
“Vamos fechar o caixão desse governo”, garante o radialista Ricardo Noronha, coordenador do Movimento Limpa Brasil. Ele acredita que 200 mil pessoas atenderão ao chamado para comparecer à Esplanada dos Ministérios. A concentração começa às 10h, no Museu da República.
A Secretaria de Segurança do DF não autorizou o ato convocado pelos defensores do governo. Mas o presidente do PT, Roberto Policarpo, e o deputado Chico Vigilante, mantiveram a mobilização. “A Constituição nos assegura esse direito”, disse o distrital. “Esperamos que o GDF garanta a segurança de todos e a PM cumpra seu papel, completou Policarpo.
Em defesa da democracia
Gustavo GoesA agenda da Frente Brasil Popular previa manifestações nos dia 8, 18 e 31 de março. Entretanto, a condução coercitiva do ex-presidente Lula para depor à Polícia Federal, sexta-feira (4), em São Paulo, acirrou os ânimos de seus seguidores. Por todo o Brasil eles foram às ruas e, em cidades como Brasília e São Paulo, decidiram ir às ruas no mesmo dia da manifestação programada pelas oposições.
No sábado (5), em plenária realizada pela Frente Brasil Popular no auditório da Câmara Legislativa, mais de 40 entidades que compõem a organização aprovaram a realização do “Ato em defesa da democracia” para o domingo (13), data anteriormente escolhida pelos movimentos pró-impeachment e contra o governo.
Um dos organizadores do ato, o deputado distrital Chico Vigilante (PT), rechaça qualquer intenção de provocar os adversários do governo ou mesmo de estabelecer um clima de guerra em praça pública. “Vamos fazer tantas manifestações quantas entendermos que devam ser feitas. Este é um direito assegurado pela Constituição”.
Vigilante repete o chamado de Lula para três mil pessoas no Sindicato dos Bancários de São Paulo, ainda na sexta-feira (4), à noite: “Para nos derrotar vão ter de nos enfrentar nas ruas”. O discurso serviu de estopim para reacender a militância petista em um momento em que o governo estava acuado, sob acusações de corrupção e de impedimento da presidente da República. “Quem defende o confronto é quem não aceita os resultados das urnas”, completa o deputado distrital.
A decisão de marcar o ato para a mesma data dos movimentos de oposição não foi acatada pelo GDF. A Secretaria de Segurança Pública reiterou a ielgalidade do ato. O presidente do PT no DF, Roberto Policarpo, rechaçou qualquer tipo de divisão e afirmou que a falta de apoio de alguns se deu por receio de um possível confronto. E não teme confronto com os adversários: “a PM precisa cumprir o seu papel”.
“Teve gente com medo das manifestações no dia 13. Mesmo assim, todos confirmaram presença. Apenas não convocaram suas bases. Esse é um momento muito importante e precisamos dessa sequência de mobilizações para assegurar a democracia no Brasil. Quem quer um país mais justo, solidário e fraterno tem que ir às ruas no domingo. Não podemos retroceder”, disse Policarpo.
Segundo a Polícia Militar do DF, são esperados cerca de 110 mil manifestantes no domingo (13), que serão acompanhados pelo Centro de Comando e Controle Regional, na Secretaria da Segurança Pública e da Paz Social. Assim, dirigentes da pasta, das Polícias Civil e Militar, do Corpo de Bombeiros e do Departamento de Trânsito, entre outros órgãos, tomarão decisões em tempo real e de forma integrada.
A Esplanada dos Ministérios ficará interditada desde a alça oeste da Rodoviária do Plano Piloto até o Balão do Presidente, no acesso à L4 Sul, próximo ao quartel do Corpo de Bombeiros. O mesmo vale para o sentido inverso.
Redes Sociais
A batalha nas redes sociais começou logo após a deflagração da 24ª fase da Operação Lava Jato. As hashstags “#LulaEstamosComVoce”, “#AecioMaisCitadoQue”, “#LulaValeaLuta” e “#NaoVaiTerGolpe” predominavam nas caixas de comentários das páginas que apoiavam os governistas. Até o Dia Internacional da Mulher ganhou conotações políticas e placas como “Lula é meu amigo, mexeu com ele, mexeu comigo” tomaram as ruas.
Ou você vai ou ela fica
Zilta MarinhoApós a condução de Lula para depoimento à Polícia Federal na sexta-feira (4), aumentou a adesão às manifestações que ocorrerão no domingo (13). Artistas como Suzana Vieira, Marcelo Serrado, Daniele Suzuki, Juliano Cazarré, Juliana Paes, Malvino Salvador, Dudu Azevedo, Evandro Mesquita e Marcio Garcia divulgaram vídeos convocando a população. Políticos como Aécio Neves e Paulo Abi-Ackel (PSDB), Ronaldo Caiado (DEM), Roberto Freire (PPS), e o senador Álvaro Dias (PV-PR) também fazem coro nas redes sociais e em discursos nas tribunas do Congresso Nacional convocando o povo para as ruas.
Reforçando os movimentos contra o governo, os caminhoneiros anunciaram que param a partir do dia 11. Essa greve é nacional em apoio à Operação Lava Jato e pela “deposição do governo” de Dilma Rousseff, conforme divulgado nas redes sociais pelo grupo Avança Brasil Maçons BR. Instituições como Fiesp, as OABs estaduais e a Associação Comercial de São Paulo também aderiram aos protestos, como informou o site O Antagonista, do jornalista Diogo Mainardi.
Os movimentos formados por grupos de voluntários convocam a população. Seus integrantes se distribuem entre tarefas como organização, comunicação e infra-estrutura. A divulgação ocorre principalmente pelas redes sociais que, entre o curtir e o compartilhar das mensagens, vai agregando simpatizantes.
O Vem Pra Rua, movimento formado por um grupo de voluntários, fundado em 2014, reconhece que os ânimos estão acirrados, mas sugere que todos devem ir de verde e amarelo, com suas famílias. Reforça que as manifestações serão pacíficas e ordeiras, como foram as quatro organizadas em 2015.
“Pedimos que a população do DF vá para as ruas. Os holofotes estarão sobre a capital e São Paulo”, diz o Vem Pra Rua. Segundo seus organizadores, são esperadas 4 milhões de pessoas em todo o país. As manifestações estão previstas para 452 cidades. Além de suas bandeiras, o Vem Pra Rua demonstrará o apoio à Operação Lava Jato e a luta por políticos corruptos na cadeia. Sobre o Fora Dilma, o movimento informa que reforçará que a saída da presidente deve ser pelas vias legais.
Com sede no DF, o Movimento Limpa Brasil (MLB) também integra a mobilização oposicionista. Segundo seu organizador, Ricardo Noronha, essa é a hora de os brasileiros irem para rua demonstrar sua indignação e sua força enquanto cidadãos. O MLB, que tem como bandeiras a luta contra a corrupção, o apoio a instituições como a Polícia Federal, o Ministério Público e a Justiça, reúne brasileiros em todo o país independentemente de partidos.
Segundo o radialista Noronha, apesar da sede ser o DF, o MLB participará das manifestações em 18 estados, juntamente com o Movimento Brasil, que tem sede em Alagoas, o Patriota (Belo Horizonte) e os movimentos paulistas Vem Pra Rua, Revoltados On Line, Filhos da Nova República, Movimento Brasil Livre, Movimento Fora Dilma, Movimento contra a Corrupção, Movimento Ordem Vigília Contra Corrupção, Pátria Amada Brasil e outros.
A concentração no DF será em frente ao Museu da República, na Esplanada dos Ministérios, a partir das 10h. O grupo se deslocará até a Alameda das Bandeiras, em frente ao Congresso, onde deve permanecer até as 13h. Serão três trios elétricos, mas somente um será palco das lideranças. Os outros dois reproduzirão os pronunciamentos. Cada líder de movimento terá até cinco minutos para falar. Haverá trios com Djs.
“Será uma manifestação para fechar o caixão do governo”, aposta Noronha, para quem “o Juiz Sérgio Moro foi muito sincero ao afirmar que algumas ações precisam da manifestação do povo”. E finalizou: “o momento é agora”.
Com o mote “Ou você vai ou ela fica”, a movimentação dos brasileiros poderá ser determinante para o futuro do país .\”É necessário mostrar aos que estão no governo, neste momento triste da nossa história, que a maioria da população quer um Brasil justo, ético e que a coisa pública pertence à Nação e não ao grupo que se instalou no poder\”, destacou o deputado federal Paulo Abi-Ackel (PSDB-MG).