Muito se discute sobre qual batalha foi o ponto de inflexão da 2ª Guerra Mundial. A maioria cita a grandiosa batalha de Stalingrado (agosto/dezembro de 1942). Alguns poucos historiadores britânicos citam a 2ª batalha de El Alamein (outubro/novembro de 1942) e norte-americanos defendem que teria sido a batalha naval de Midway (junho de 1942). Pouco citada tem sido a batalha de Moscou, transcorrida de setembro de 1941 a janeiro de 1942, que representou a primeira grande derrota da Wehrmacht.
As tropas nazistas invadiram a União Soviética em 22 de junho de 1941 ao longo de toda sua fronteira ocidental. Três milhões de soldados alemães, auxiliados por meio milhão de italianos, húngaros e romenos, irromperam pelo território soviético desde o Mar Báltico até o Mar Negro. Tinham três objetivos principais: o cerco a Leningrado; a tomada de Kiev e a conquista de Moscou.
Já no dia seguinte à invasão, o grupo de exércitos responsável pelo avanço para Moscou havia capturado a importante cidade bielo-russa de Grodno, próximo à fronteira da Polônia ocupada pelos nazistas. Em apenas 17 dias avançaram mais 620 Km e alcançaram Smolens, a 380 Km de Moscou, em 10 de julho, numa impressionante velocidade de 36 Km/dia. Contudo, em Smolensk, importante centro industrial e entroncamento ferroviário às margens do Dnieper, a Wehrmacht encontrou uma obstinada resistência do Exército Vermelho.
Mesmo mal equipado e pouco experimentado em batalhas, os soviéticos resistiram por 60 dias, e Smolensk caído apenas em 10 de setembro – às custas de quase 200 mil mortos, cerca de 300 mil feridos e outros 300 mil capturados -, mas que foi determinante para o desfecho final da Batalha de Moscou. Isso porque foi o tempo necessário para o Exército Vermelho montar diversas linhas de defesa no caminho para a capital soviética.
O objetivo seguinte dos nazistas era Viazma, a 170 Km de Smolensk, e demoraram 20 dias para alcançá-la, em 30 de setembro (avanço de 8 Km/dia), tendo a cidade sido ocupada em 8 de outubro. A partir de então, além da resistência do Exército Vermelho e das operações de sabotagem realizadas na sua retaguarda pelas guerrilhas soviéticas, os alemães passaram a enfrentar outro obstáculo formidável: a chegada do inverno russo.
Em 2 de outubro, os nazistas lançaram a “Operação Tufão”, o assalto final a Moscou. Mas, 5 dias depois, foram surpreendidos pela queda da primeira nevasca na região e a ocorrência da “rasputitsa”, nome russo para o lamaçal formado pelo degelo da neve, obrigando os alemães a avançarem sob condições extremamente adversas. Não obstante, os alemães chegaram em 21 de outubro a Naro Forminsk, a apenas 80 Km de Moscou.
Mas, de 31 de outubro a 15 de novembro as condições pioraram e a ofensiva alemã foi suspensa, esperando o congelamento do solo e à espera de novos suprimentos, tempo crucial para a chegada de reforços da Sibéria para a defesa de Moscou.
Retomada na segunda quinzena de novembro, enfrentando temperaturas de até 25º negativos, a ofensiva da Wehrmacht avançava 2 a 3 Km/dia. Algumas tropas alemãs chegaram a localidades a apenas 30 Km do Kremlim, como Lobnya e Khimki.
Mas a resistência era cada mais obstinada. E em 5 de dezembro veio o capítulo final dessa batalha com uma agressiva contraofensiva soviética liderada pelo Marechal Zhukov. Daquela data até 7 de janeiro, os alemães recuaram de 80 a 250 km, perdendo o controle de dezenas de cidades e centenas de vilarejos.
Surpreendidos pelo inesperado e potente contra-ataque soviético, os nazistas deixaram na fuga centenas de tanques e outros veículos blindados. Dezenas de milhares de soldados alemães foram mortos, feridos ou capturados.
A conquista de Moscou, nos planos nazistas prevista para ocorrer até novembro de 1941, foi um retumbante fracasso e resultou na primeira grande derrota nazista na 2ª Guerra, destruindo o mito da invencibilidade da Wehrmacht e elevando o moral das tropas soviéticas.
No verão seguinte, em agosto de 1942, as tropas nazistas avançaram rumo a Stalingrado, mas foi cercada e batida em dezembro de 1942, numa fragorosa derrota que levou Hitler ao desespero.
Em julho de 1943 os nazistas promoveram sua última grande ofensiva, na enorme batalha de tanques de Kursk, a maior da história, que resultou em nova derrota. A partir de então, os 21 meses seguintes foram de célere avanço do Exército Vermelho até alcançar e ocupar Berlim, em abril de 1945.
Em suma, com todo o respeito às batalhas de Stalingrado, El Alamein e Midway, a batalha de Moscou e os 500 mil heróis soviéticos mortos em sua defesa merecem lugar central no pódio da luta pela queda do execrável regime nazista.