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Transferência de Invasores do Movimento de Resistência Popular (MRP) para o antigo clube Primavera revolta comunidade de Taguatinga
Há mais de dois meses, estão morando em Brasília cerca de 300 integrantes do Movimento de Resistência Popular (MRP), que luta para voltar a receber auxílio-aluguel de R$ 600 do governo. O primeiro endereço do grupo foi em uma área no Setor Bancário Norte. Ali, os militantes montaram acampamento e ficaram por cerca de dois meses. A invasão foi retirada do local no sábado (12) e o grupo seguiu para o Conic, onde ficou por mais 24h até ser removido e invadir o hotel Saint Peter, no Setor Hoteleiro Sul, por volta das 2h de segunda-feira (14). No domingo (20), o Governo de Brasília negociou com o MRP a desocupação do hotel, oferecendo como alternativa a área do antigo Clube Primavera, na QSC 17, em Taguatinga Sul, onde permanecerão até que um novo local seja destinado.
Foi mais ou menos como esconder o lixo debaixo do tapete. Tiraram do centro do Plano Piloto um punhado de gente deserdada pela sorte e levaram para uma cidade-satélite. O cartão postal de Brasília foi preservado, mas à custa do sossego de uma pacata comunidade nas ruas vizinhas ao antigo Primavera. Porém, como na Física, toda ação corresponde a uma reação. E os moradores da QSC 17 e adjacências não estão dispostos a aceitar a decisão do GDF. Ganharam, inclusive, o apoio de entidades representativas de outros segmentos da comunidade taguatinguense, como o Movimento Taguatinga Unida (Movitu), da Associação Comercial (Acit) e até do Conselho Regional de Saúde da cidade, que aprovou, na quarta-feira, uma moção de repúdio “à ação criminosa do Governo em assentar o pessoal do MRP no clube Primavera”. O documento foi encaminhado oficialmente às autoridades federais, distritais e do Ministério Público.
A advogada Karoline Romero tomou a frente da causa. Ela faz parte da terceira geração de moradores da QSC 17, onde sua avó criou os filhos e onde sua mãe, Marcilene mora até hoje. Karoline acompanhou o vizinho Lúcio Oliveira Costa a uma reunião com o administrador da cidade, Ricardo Lustosa, a Novacap, o Ministério Público e o comando do 2º Batalhão de Polícia Militar. Lúcio é proprietário da casa vizinha ao muro do antigo clube. Ele conta que os integrantes do MRP tentaram invadir sua residência e ameaçaram incendiar o imóvel já na primeira madrugada após a chegada, de segunda-feira (21) para terça (22). “Eles subiram no muro com lanternas e ficaram gritando. Chamei os vizinhos da rua e a Polícia para proteger minha mulher e meus filhos de três e cinco anos”.
Desde que os invasores chegaram a Taguatinga, a rotina dos moradores mudou. Tumulto, confusão, ameaça e até tiros foram ouvidos, segundo a comunidade. Lúcio e outros 80 moradores fizeram uma manifestação na quarta-feira (23) pedindo a desocupação imediata da área. A advogada Karoline Romero afirmou que o Ministério Público já está a par da situação. “Durante a reunião com o administrador Ricardo Lustosa e os demais órgãos, pedimos que adotem medidas de segurança preventiva. E ficou comprovado que esta é uma Área de Proteção Permanente (APP) e não está apta a abrigar pessoas”, afirmou.
Mesmo assim, a Novacap continua enviando máquinas para limpar o terreno para os invasores. Elas só não entraram na área devido à resistência dos moradores da QSC 17, que bloquearam a rua. Eles criaram grupos em redes sociais e nos celulares. A qualquer movimento suspeito, o alerta é emitido e todos saem de suas casas para ajudar. “Não aceitaremos esta imposição absurda do governo. Queremos nosso sossego de volta. É um direito nosso”, diz a advogada.
Invadir é bom negócio
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No fundo, é um bom negócio ser invasor no Brasil. O MRV, por exemplo, teve um hotel no centro de Brasília ao seu dispor por sete dias – sem pagar nada pelas diárias, que, custariam, em média, R$ 330 por apartamento, caso o estabelecimento ainda estivesse em funcionamento. Na saída, levaram utensílios e equipamentos avaliados em R$ 7 milhões e tiveram direito a caminhão de mudança do GDF e escolta da Polícia Militar. Foram transferidos para uma Área de Proteção Permanente (APP), em Taguatinga, onde funcionava o antigo Clube Primavera (QSC 17). Na nova casa, a CEB já ligou a luz, a Caesb a água. E já rolou até festa. O luxuoso Land Rover continua levando insumos e parte do grupo passa o tempo pescando no córrego Taguatinga, que passa nos fundos do terreno. Alguns deles admitem que estão comendo os peixes que habitam a velha piscina desativada, que foram colocados ali para evitar a proliferação do mosquito da dengue, pois se alimentam dos ovos dos insetos.
A Secretaria de Relações Institucionais e Movimentos Sociais do Governo de Brasília garantiu que a transferência seria temporária e que o GDF ainda estudava a concessão de um terreno definitivo para o grupo. Lotes em Ceilândia e Samambaia chegaram a ser analisados pelo governo. \”A decisão judicial determinava a reintegração de posse do hotel e tinha que ser cumprida, senão a gente teria que pagar multa. Em todas as reuniões com o MRP a gente deixou claro que invasão não resolve política habitacional. Agora, esperamos que eles fiquem no clube até a gente encontrar uma solução\”, afirmou o secretário da pasta, Marcos Dantas.
Uma rua de história
A advogada Karoline Romeiro faz parte da terceira geração da QSC 17. Sua mãe, Marcilene Romero também foi criada na mesma rua. Marcilene conta que era muito diferente o movimento dos frequentadores do clube e o dos invasores. \”Era ótimo ter um clube na porta de casa. As festas nunca incomodaram como estes invasores. Quando faziam os bailes no clube, nós alugávamos a frente das casas para barraquinhas e para as pessoas estacionar os carros. É uma ótima lembrança. Ver o clube tomado por este tipo de gente que não sabemos a índole é muito triste\”, disse ela.