Mario Pontes
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ANOS atrás, como participante de um dos célebres encontros literários promovidos pela Universidade de Passo Fundo (RS), fui designado para a mesa que debateria o futuro do livro de papel face ao avanço do e-book. Comecei por lembrar a Feira Internacional do Livro de Frankfurt – a maior do mundo –, à qual eu estivera presente no ano anterior. Como de costume, cada Feira é dedicada a um país. Aquela, à Espanha.
Mas antes da abertura já se registrara o desembarque de um grupo de búfalos dispostos a melar a festa dos espanhóis. Eram os representantes das poderosas empresas internacionais fabricantes do livro eletrônico. Seu objetivo: convencer os milhares de visitantes da Feira que o livro de papel estava com a vela na mão e dentro de poucos anos o e-book reinaria sozinho no universo dos leitores.
Nem um por cento dos presentes visitou os estandes dos búfalos, suas vendas foram pífias e eles saíram de rabo entre as pernas.
Do auditório alguém me perguntou:
– Quer dizer que o livro eletrônico está condenado ao fracasso?
– Não – respondi. – Como todas as pessoas que não pensam em preto e branco, parece-me óbvio que ele crescerá. Mas, do mesmo modo que o cinema e a TV não mataram o teatro, o e-book terá de conviver com o livro em seu formato tradicional.
E até agora não deu outra. Uma prova? O êxito da mais recente Bienal do Livro do Rio de Janeiro, cujo balanço, divulgado na semana passada, foi mais positivo do que todos os anteriores.
Ao contrário do esperado pelos urubólogos de plantão, a feira mostrou que o livro-livro está vivinho da silva. O número de seus visitantes foi maior do que o das precedentes. Mais livros foram vendidos. O faturamento subiu em termos reais. Houve mais sessões de autógrafos e maior número de pessoas presentes às palestras, debates e tradicionais encontros com autores e ilustradores.
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Os urubólogos torcerão o nariz e escarnecerão:
– Festa de crianças, de jovens sem maturidade!…
De fato, o pessoal jovem anima a Bienal. Vai lá maciçamente, mas não apenas para comer hot dog e beber refrigerante. Vai a fim de conhecer autores e pedir aos pais que comprem seus livros. Se os lêem? Lêem, sim. Tenho vários motivos para assumir essa conclusão. Um deles: o comportamento de minha neta adolescente e das coleguinhas que de vez em quando se reúnem com ela aqui em casa. Todas têm seus smartphones. Mas todas lêem. E algumas lêem cada vez mais, e com maior interesse, os livros de papel.