A intensa disputa por uma diária em um pequeno espaço, aberto por tempo limitado bem no coração de Chicago, definitivamente, não é motivada por luxo. Os móveis são bastante simples: uma cama de madeira, duas cadeiras e uma pequena cômoda, sobre a qual repousam poucos objetos. Na parede, ganchos para pendurar roupas e alguns quadros. A alta procura tampouco se deu pela excelente localização ou pelos módicos US$ 10 da pernoite. O grande atrativo do quarto mais procurado na cidade americana nas últimas semanas é o charme de, por uma noite, sentir-se parte de uma das obras de arte mais conhecidas do mundo. Afinal, ali está O quarto, do artista holandês Vicent Van Gogh, reproduzido em tamanho real, ao vivo e nas mesmas cores vibrantes usadas pelo pintor há quase 130 anos.
As reservas foram abertas ao público há quase dois meses no site Airbnb.com, mas foi preciso muita sorte para ser contemplado. Cada lote de diárias disponibilizadas on-line esgotou-se em apenas dois minutos, segundo o Instituto de Arte de Chicago, que administra essas reservas. A confirmação dos sortudos chega em um e-mail assinado por um simpático “Vincent”, o “proprietário” do imóvel: “Bem-vindo ao meu quarto. Espero que aproveite a estadia; é um lugar realmente único, bastante pitoresco”.
Versões distintas
De acordo com o instituto, a ideia de reproduzir a pintura mundialmente famosa tem como objetivo promover a exposição Os quartos, que reúne as três versões do quarto de Van Gogh na chamada “Casa Amarela”, localizada na cidadezinha de Arles, sul da França. Lá, o artista viveu entre 1888 e 1889. “Também adoramos a ideia de trazer para a vida real uma pintura emblemática dessas”, ressalta Katie Rahm, relações públicas do instituto. “Quem não fica imaginando como seria entrar numa pintura?”, questiona.
Pernoitei no quarto de Van Gogh em 30 de março. A sensação é realmente incrível. Os móveis parecem ter ganho as mesmas pinceladas fortes que o artista registrou em sua tela — inclusive ainda cheiram a tinta. Assim como no original, o quarto reproduzido tem ângulos que não são perfeitamente retos, e objetos cuidadosamente colocados na mesma disposição observada no quadro. Com um pouco mais de imaginação, dá até para visualizar que, por meio da janela propositalmente semiaberta, está uma paisagem bucólica francesa, e não a vista do 29º andar de um prédio no centro de uma cidade com quase 3 milhões de habitantes.
Área nobre
Além de se acomodarem em um confortável imóvel com sala, cozinha e varanda numa área nobre da cidade (e de se deleitarem no icônico quarto, é claro!), os hóspedes recebem ingressos para visitarem a exposição Os quartos, que fica no Instituto de Arte de Chicago até 10 de maio e reúne as três obras do pintor holandês inspiradas no mesmo quarto em Arles. Apenas uma delas faz parte do acervo do Instituto de Arte de Chicago; as outras duas estão expostas em Amsterdã e Paris.
O primeiro “Quarto” foi pintado em 1888. Porém, após um alagamento atingir a Casa Amarela, Van Gogh resolveu fazer uma cópia do lugar que havia se tornado especial para ele. Uma terceira tela seria reproduzida meses depois, um presente para sua mãe e sua irmã. O artista morreu no ano seguinte, 1890, aos 37 anos de idade. Além das três pinturas, a exposição traz ainda outros 30 trabalhos de Van Gogh, entre quadros, gravuras e ilustrações, além de livros de sua biblioteca.
» Exposição Os quartos
Instituto de Arte de Chicago
Até 10 de maio
Diariamente, das 10h30 às 17h (Às quintas-feiras, até as 18h)
O último lote de reservas para O quarto de Van Gogh foi oferecido no último dia 6 e esgotou em poucos minutos.