Pelo menos uma dezena das mais de 50 pessoas que estiveram com o presidente Jair Bolsonaro nos quatro dias que antecederam ao anúncio feito por ele, na terça-feira (7), de que foi contaminado pelo novo coronavírus, testaram negativo para a covid-19 (leia a lista abaixo).
Portanto, conclui-se que o vírus que se alojou no corpo presidencial não é contagioso, ao contrário da versão que causa a pandemia responsável por milhões de mortes no mundo – mais de 68 mil só no Brasil até a tarde de quinta-feira (9), ultrapassando a casa do 1,7 milhão de contaminados.
Bolsonaro também surpreendeu pela espontaneidade com que se encarregou, pessoalmente, de confirmar que está com a covid-19. A conversa foi com jornalistas de veículos oficiais ou simpáticos ao governo, que acabaram expostos ao vírus quando o presidente resolveu tirar a máscara para mostrar que estava bem.
Codinomes – Das vezes anteriores, quando retornou de uma viagem aos EUA e quando participou de manifestações antidemocráticas em Brasília, ele só mostrou o resultado dos exames – que diz ter dado negativo – após ser convocado três vezes pela Justiça.
Então, quando não tinha nada, queria esconder, e quando estava doente quis tornar público. Das outras vezes, usou os codinomes Airton Guedes, Rafael Augusto Alves da Costa Ferraz e Paciente 05. Agora, se identificou como Jair Messias Bolsonaro.
Contou, por fim, que que fez uma tomografia e os pulmões estavam limpos, embora revelando que teve febre de 38 graus e dores no corpo. E pimba: começou a tomar hidroxicloroquina no mesmo dia.
Cloroquina – A droga mágica que, segundo ele e Trump, evita a propagação do vírus pelo corpo, caso tomada precocemente ou nos primeiros sintomas da covid-19, não decepcionou. Na quarta-feira (8), embora à distância e por videoconferências, o presidente despachou normalmente.
Ele chegou a ser “flagrado” ao telefone caminhando por trás dos vitrais do Palácio da Alvorada. Desconfia-se que conversava com o ministro-interino da Saúde, Eduardo Pazuello, atestando a eficácia da receita e liberando a distribuição das 9 milhões de doses produzidas, a mando dele, pelo Exército, e as 2 milhões que recebeu de presente de seu ídolo ianque.
Bolsonaro, caso não apresente, nos próximos dias, os duros sintomas que acometem os milhões de contaminados que chegam aos estágios mais graves da covid-19 – muitos evoluindo a óbito – terá, finalmente, confirmado sua teoria de que a doença não passa de uma “gripezinha”.
Chuva – E ele, com seu “perfil de atleta”, sentiu, quando muito, “um resfriado”, curado com hidroxicloroquina. Já as famílias enlutadas e as vítimas do novo coronavírus não passam de “histéricas”, de acordo com o conceito do presidente diante das medidas “superdimensionadas” adotadas por governadores para conter a disseminação da doença, uma “fantasia” propagada pela mídia.
Portanto, como declarou Bolsonaro aos veículos amigos no final da manhã de terça-feira, “esse vírus é como uma chuva que todos vão pegar” e que, para ele, não passa de um “sereno”.
Que São Pedro nos proteja!
Estão na lista dos que mantiveram contato (sem máscara) com Bolsonaro e testaram negativo para a doença:
- O embaixador dos Estados Unidos, Todd Chapman; a esposa dele, Janetta Chapmann;
- Os ministros da Economia, Paulo Guedes; das Comunicações, Fábio Faria; da Casa Civil, general Braga Netto; da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas; e o secretário-executivo da pasta, Marcelo Sampaio.
- Também estiveram com o presidente (sem máscara) os ministros do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho; da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos; da Defesa, Fernando Azevedo; da Secretaria-Geral da Presidência, Jorge Oliveira; e o Advogado-Geral da União, José Levi. Já o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, se isolou em casa, sem sintomas. Mas avisou que seu exame também deu negativo