A Viradouro se tornou a grande campeã do Carnaval do Rio de Janeiro com o enredo “Viradouro de alma lavada”, que fala sobre o grupo das Ganhadeiras de Itaupã, quinta geração de mulheres que lavavam roupa na Lagoa do Abaeté e faziam outros serviços em busca da compra de sua alforria. Durante a apuração de quarta-feira (26), a Grande Rio liderou até o 7º quesito, de Mestre-sala e Porta-Bandeira, quando a campeã assumiu o primeiro lugar e levou o troféu. Foi o segundo título da escola.
O desfile da Viradouro mostrou as atividades que as Ganhadeiras exerciam, como lavar roupa, cozinhar e vender alimentos, costurar, etc. A exaltação dessas mulheres como as “primeiras feministas do Brasil”, demonstrou a força que elas tiveram para ir atrás da liberdade e pela importância para a cultura da Bahia. Foi o primeiro desfile do casal de carnavalescos Marcus Ferreira e Tarcisio Zanon juntos na Viradouro.
Na comissão de frente, uma sereia. A atleta da seleção brasileira de nado sincronizado, Anna Giulia, dava mergulhos de até um minuto num aquário com 7 mil litros de água mineral, representando a Lagoa do Abaeté. As baianas representaram as quituteiras, com saias bordadas com figuras de abará, tapioca e acarajé. O samba tinha influência de afoxé, ritmo baiano.
A cantora Margareth Menezes teve destaque no carro que lembrou as cirandas de roda à beira do mar aberto, uma contribuição das Ganhadeiras à música baiana.
O grupo de encerramento se chamava “Lute como uma mulher!”, e levou mulheres negras ligadas à pauta feminista para a avenida.
Samba enredo:
Ó, mãe! Ensaboa, mãe!
Ensaboa, pra depois quarar
Ora yê yê ô oxum! Seu dourado tem axé
Faz o seu quilombo no Abaeté
Quem lava a alma dessa gente veste ouro
É Viradouro! É Viradouro!
Levanta, preta, que o Sol tá na janela
Leva a gamela pro xaréu do pescador
A alforria se conquista com o ganho
E o balaio é do tamanho do suor do seu amor
Mainha, esses velhos areais
Onde nossas ancestrais acordavam as manhãs
Pra luta sentem cheiro de angelim
E a doçura do quindim Da bica de Itapuã
Camará ganhou a cidade
O erê herdou liberdade Canto das Marias, baixa do dendê
Chama a freguesia pro batuquejê
São elas, dos anjos e das marés
Crioulas do balangandã, ô iaiá
Ciranda de roda, na beira do mar
Ganhadeira que benze, vai pro terreiro sambar
Nas escadas da fé
É a voz da mulher!
Xangô ilumina a caminhada
A falange está formada
Um coral cheio de amor
Kaô, o axé vem da Bahia
Nessa negra cantoria Que Maria ensinou