Marcela Passamani (*)
“Ah esse amor deixou marcas no meu corpo/ Só de pensar eu grito/ Eu quase morro”. O que parece um grito agonizante nas letras deste jornal, se tornou uma música de sucesso na voz de Naiara Azevedo, em 2018. A canção foi parte de uma campanha do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania de combate à violência contra a mulher, premiada em Cannes no ano seguinte.
À época, ninguém imaginava que Naiara estava, na verdade, contando e cantando sua própria realidade. Neste mês, em que se encerrou a mobilização nacional dos 21 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência Contra a Mulher, conseguimos compreender que era um pedido de socorro, disfarçado em versos e acordes musicais.
A revelação foi feita pela própria cantora, em rede nacional, ao narrar as cenas de violência psicológica, física, patrimonial e emocional que sofria do ex-companheiro e então empresário. Lamentavelmente, esta é realidade de uma mulher a cada quatro horas no Brasil.
Muitas delas, no entanto, não têm a coragem, o nível de informação ou mesmo a condição financeira de Naiara ede Anna Hickmann, que também passou por traumas semelhantes. E essas mulheres acabam se submetendo a viver aprisionadas, patrimonial e emocionalmente, a seusagressores. Mas é imprescindível aproveitarmos cada oportunidade, como este espaço no jornal, para reiterarque toda vítima tem o direito de romper o ciclo da violência.
É justamente para isso que trabalho, incansavelmente,à frente da Secretaria de Justiça e Cidadania do Governo do Distrito Federal, deixando claro para a a sociedade que a violência doméstica é crime, não crise familiar. Como secretária, é meu dever executar políticas públicas que contemplem a porta de entrada, mas, principalmente, de saída, de programas sociais e de serviços de apoio oferecidos pelo Estado.
E as mulheres que vivenciam a violência e que têm coragem de denunciar terão o necessário acompanhamento psicológico e apoio jurídico? Para as respostas a essas perguntas sejam “sim”, lançamos, em 29 de novembro, o programa Direito Delas.
Pensamos não somente nas mulheres, mas também nas pessoas idosas, crianças e adolescentes que são vítimas diretas ou indiretas da violência familiar. Até porque, tão ou mais importante do que denunciar, a principal missão é permitir que a vítima tenha, antes de tudo, independência emocional para alcançar a independência financeira.
É por este caminho que certamente teremos mais mulheres protagonistas de suas próprias histórias.
(*) Secretária de Justiça e Cidadania do DF