Após a falta de materiais e de medicamentos básicos fazer com que cirurgias eletivas fossem suspensas no Hospital de Base – metade dos procedimentos não foi feita ontem – hoje a promessa é de que o funcionamento volte ao normal. Quem precisa do atendimento reclama, mas a Secretaria de Saúde minimiza os problemas, apesar de admiti-los. A dívida com fornecedores chega a R$ 60 milhões.
A pasta repassou emergencialmente R$ 100 mil ao hospital para a compra de materiais e medicamentos para cirurgias. Outros R$ 84 milhões de verbas federais foram remanejados para a compra de insumos e medicamentos de todos os hospitais. A previsão é de que até o fim da semana todas as unidades estejam completamente abastecidas.
Sem recursos e devendo fornecedores, a pasta teve de utilizar recursos de outros blocos, como da atenção básica, vigilância em saúde e gestão do SUS. Projetos que, por algum motivo, não usaram todo o recurso.
Do valor realocado, R$ 60 milhões são para pagar contas atrasadas. O restante é para garantir o fornecimento dos próximos três meses.
De acordo com a secretária de Saúde, Marília Coelho da Cunha, tudo foi discutido com o colegiado de gestão, Conselho de Saúde, Ministério Público e Tribunal de Justiça, para não haver problemas judiciais, pois uma portaria impede o gestor de remanejar recursos. “No entanto, a portaria diz que ela será regulamentada e até hoje ela não foi”, diz.
A queda na arrecadação, de R$ 23 bilhões para R$ 16 bilhões, é apontada pela secretária como responsável pelos problemas nos serviços públicos, inclusive de saúde. “Se você faz um planejamento em cima de uma arrecadação e ela cai, é preciso se readequar”, justifica.
Vidas colocadas em risco
Ontem, o JBr. mostrou o alerta da equipe de cirurgias do HBDF: se não houvesse reabastecimento de medicamentos e materiais, seria necessário suspender as cirurgias eletivas. De acordo com o documento, o desabastecimento colocaria a vida dos pacientes em risco. “Quando recebemos esse documento imediatamente tomamos todas as providências”, disse a secretária Marília Coelho.
Apesar de o documento deixar claro que faltam insumos básicos, como gaze, compressas e analgésicos, a titular da Saúde garante que “isso não está faltando na rede”. Teria acontecido um problema com códigos modificados. “Houve um desabastecimento, mas estamos regularizando com o pagamento dos fornecedores, que já voltaram a pegar empenho”, afirma.
Pacientes no prejuízo
Mesmo assim, ontem, pacientes e acompanhantes, na frente da Emergência da unidade, revelaram que tiveram de arcar com os custos de materiais hospitalares básicos, atribuindo a questão à falta no hospital.
Promessa é de que serviço volte ao normal
De acordo com o diretor do Hospital de Base do DF, Julival Fagundes Ribeiro, “as cirurgias eletivas de hoje (ontem) foram suspensas, mas durante o fim de semana todas os procedimentos de emergência foram realizados. A partir de amanhã (hoje), o centro cirúrgico voltará a fazer as operações eletivas tanto de pacientes externos quanto daqueles que estão internados”, diz.
Segundo o diretor, haverá ainda remarcação das cirurgias não feitas ontem. Um dos pacientes que estão na fila é Valdivino Araújo, 62, que precisa refazer uma cirurgia para trocar a válvula do coração e duas pontes de safena. “Domingo disseram que ele faria a cirurgia no dia seguinte, mas avisaram que não poderiam fazer por falta de material”, conta a filha Érica de Oliveira, 29 anos.
O filho de Edson Monteiro, de 9 anos, está há 25 dias na UTI. A espera é por uma cirurgia no crânio. \”Os médicos falam que não têm previsão para a cirurgia dele”, disse. Ele revela que teve de tirar dinheiro do bolso para comprar produtos, como gaze e esparadrapo.
Memória
O problema com fornecedores não afeta apenas a parte de materiais e medicamentos. No início deste mês, funcionários e acompanhantes de pacientes da rede pública da saúde tiveram as refeições suspensas.
A dívida de mais de R$ 27,5 milhões do GDF com a empresa Sanoli fez com que a medida drástica fosse tomada. A intenção era que os pacientes não ficassem sem alimento. Após acordo, o fornecimento voltou ao normal.
O presidente do Sindmédico, Gutemberg Fialho, afirma que a “situação é delicada, pois os médicos estão sem condições de atender os pacientes”. Fialho diz que o repasse não é suficiente para garantir as condições ideais, mas pode resolver as questões mais agudas. Ele ressalta que há o contato com a secretaria e HBDF para resolver a questão.