Certa feita, recebi uma proposta de emprego com a seguinte orientação: “Júlio, o Governo como um todo é uma caneta Mont Blanc, mas comunica como se fosse uma Bic”.
Apesar de apontar defeitos no trabalho de quem ocupava o posto, a mensagem por trás da fala das canetas foi: Não precisa fazer mágica. O governo é bom, mas precisa comunicar melhor para ser reeleito.
Utilizo a metáfora das canetas para tratar das recentes e perceptíveis mudanças nas redes sociais do governo federal com a chegada de Sidônio Palmeira à Secretaria de Comunicação. A começar pelo chefe do Executivo, o presidente Lula.
Os conteúdos mais recentes publicados por ele têm características próprias das redes, como efeitos sonoros, um quê de improviso e organicidade. Para quem trabalha com redes sociais de políticos que esses elementos geram engajamento.
Posso lembrar conteúdos virais do próprio Lula com linguagem própria de redes que tiveram ótimos números em um período pré-Sidônio, como a foto do presidente de sunga ao lado de Janja, no Ceará, publicada em agosto de 2021; e o vídeo da corridinha no Palácio do Planalto, com short do Corinthians e a fala: “Quero chegar aos 120 anos”, publicado em março de 2024.
Lembro que o próprio perfil oficial do PT costuma publicar memes nas redes. Quero dizer que Sidônio não inventou a roda (e nem precisaria mesmo). Ele está usando a ferramenta que da maneira que é possível.
Mas o governo não se resume ao perfil de Lula. Para que os novos vídeos se transformem em números positivos nas pesquisas, os parlamentares, os apoiadores, as estatais, os ministérios e toda a máquina pública federal teriam de trabalhar neste sentido. Isso passa por uma mudança cultural, muito mais complexa do que a mudança ministerial.
E não é só isso. A inflação e o valor dos alimentos, por exemplo, provocam queda na aprovação, especialmente no Nordeste e entre os mais pobres. Com isto, pela primeira vez, segundo a pesquisa Quaest publicada na segunda-feira ((27), mais pessoas desaprovam (49%) Lula 3 do que aprovam (47%).
Embora a Comunicação seja vista como o “patinho feio” do governo, não podemos esquecer que é complicado vender uma caneta Bic pelo preço de uma Mont Blanc.