Os menos observadores talvez não tenham percebido, mas neste período de pandemia, com quase 21 milhões de infectados e 750 mil mortos espalhados pelo planeta, Cuba e Venezuela saíram do noticiário da grande mídia e da mira da direita mais reacionária. Será por quê?
Certamente, não foi porque passaram a gozar de maior complacência por parte de seus críticos ou porque os dois países tenham se curvado às pressões do imperialismo norte-americano. Ao contrário, persiste a resistência ao implacável e criminoso boicote a ambos, que visa a quebrar suas economias e levar seus povos à rebelião contra os respectivos governos.
A razão é outra: Cuba e Venezuela são exceções no enfrentamento à pandemia nas Américas, na companhia do Uruguai e, pasmem, do Paraguai. O continente conta com 11,5 milhões de infectados (55% do total mundial), sendo 5,5 milhões na América do Norte; 3,2 milhões no Brasil e 2,8 milhões nos demais países da América Latina, mas apenas 28 mil estão na Venezuela e 3,1 mil em Cuba.
Dos 750 mil óbitos no mundo, 400 mil (53%) ocorreram no continente, sendo 180 mil nos EUA/Canadá; 105 mil no Brasil e 115 mil nos demais países da América Latina, com somente 250 na Venezuela e, 88, em Cuba.
Ah! — dirão os “anti qualquer coisa” — mas a população dos dois países é pequena! Sim, então vejamos os dados relativos. Número de infectados por milhão: América do Norte (15.200), Brasil (15.100), resto da América Latina, exceto Cuba e Venezuela (7.300), Venezuela (980) e Cuba (270).
Número de mortos por milhão: América do Norte (510), Brasil (490), resto da América Latina, exceto Cuba e Venezuela (290), Venezuela (9) e Cuba (8). Ainda comparando, Cuba tem população quase quatro vezes maior do que a do DF, mas o “quadradinho” tem 42 vezes mais contaminados e 21 vezes mais óbitos que a ilha caribenha. Ah, antes que esbravejem, os dados são checados pela Johns Hopkins University.
Está explicado o “silêncio” em relação aos dois países, e, no caso da Venezuela, conta também o fracasso da aventura do “governo” Juan Guaidó. A vida é mesmo feita de ironias. Para aqueles que proclamaram que a covid-19 era só uma gripezinha, que repudiaram o isolamento social, que acreditaram na salvação pela cloroquina e que, agora, diante dos mais de 100 mil óbitos, temem ser infectados e mortos pelo vírus, fica uma sugestão: esqueçam Miami. Vão pra Cuba! Vão pra Venezuela!
Em tempo: se o DF fosse um país, seria o primeiro do mundo no índice de infectados, pois os 129 mil contaminados, até 12/8, correspondem a 42.300/milhão, superando o Catar (40.500/milhão). Mas os quase 2 mil mortos por aqui são dez vezes mais do que no emirado árabe.
(*) Doutor em Desenvolvimento Econômico Sustentável (UnB), ex-presidente da Codeplan e do Conselho Federal de Economia