Ok! A primeira coisa a corrigir no título acima é a informação de que o imunizante contra o novo coronavírus é aplicado no braço. Dito isto, e com os glúteos devidamente preservados, vamos ao que interessa: o Brasil ficou para trás no processo de vacinação da população contra a covid-19.
Porém, mesmo diante da campanha do próprio governo federal para desacreditar a eficácia da vacina, quando ela foi liberada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), no domingo (17), até seus críticos, seguidores de Bolsonaro, correram tomar a dose. Afinal, o seguro morreu de velho…
Como o quantitativo é pequeno, regras foram criadas pelo Ministério da Saúde para determinar os grupos que teriam prioridade. Mesmo assim, muita gente não se conformou. E, sob os mais estapafúrdios argumentos e desfaçatez a toda prova, essas pessoas – a maioria ricos ou detentores de algum tipo de poder nos longínquos rincões brasileiros – deram um jeito de furar a fila.
O desrespeito aos mais vulneráveis ao vírus e aos que estão na linha de frente no combate à pandemia, além de indignação provocou reações de órgãos como os ministérios públicos (estaduais e federal). Ações pipocam por todo o País. Mas nada vai “desaplicar” as vacinas desses espertalhões e beneficiar aqueles a quem elas deveriam ter sido destinadas.
Gêmeas – Em Manaus (AM), capital onde estourou a crise da falta de oxigênio, que levou centenas de pessoas à morte, as gêmeas Gabrielle e Isabelle Kirk Maddy Lins ganharam notoriedade nacional.
Na terça-feira (19), as duas moças, filhas dos mantenedores da universidade e hospital Nilton Lins, foram vacinadas e comemoraram pelas redes sociais. Aldir Luiz da Silva, de 39 anos, marido da secretária de Saúde da cidade de Guaribas, Cleidiana Andrade, irmã do prefeito Joércio Matias (MDB), também recebeu a aplicação. O caso causou revolta.
Naquele dia e na véspera, alguns membros de famílias influentes da cidade foram nomeados em cargos de comissão na Secretaria Municipal de Saúde. Entre eles, as duas irmãs, que estão registradas no Conselho Federal de Medicina (CFM), respectivamente, desde 21 de maio e 22 de dezembro 2020. O hospital da família foi alugado pelo governo para servir como hospital de campanha.
Doria faz história
Antes de apontar os culpados – sim, eles existem! – vamos aos fatos. O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), com todos os seus defeitos, entrou para a História ao desafiar o governo federal e manter a parceria do estado com o Instituto Butantã com a SinoVac, sem interromper a produção da vacina CoronaVac, como queria o Presidente da República.
Assim, no momento seguinte à liberação emergencial do fármaco pela Anvisa, ele iniciou imediatamente a aplicação da vacina em São Paulo. A primeira a receber a dose foi a enfermeira Mônica Calazans, de 54 anos, que atua na linha de frente no combate à covid-19 em dois hospitais.
O ato foi transmitido ao vivo por várias redes de televisão, rádios e sites de notícia, e causou alvoroço em Brasília. Bolsonaro e sua equipe, que até aquele momento preparavam uma grande campanha publicitária a ser lançada na quarta-feira (20), perderam o timming.
Tentaram diminuir o prejuízo desqualificando a iniciativa de Doria. “Jogada de marketing”, resmungou o ministro da Saúde, Eduardo Pazzuello. Tarde demais. A saída honrosa foi distribuir o estoque de vacinas e começar a vacinação nos demais estados e no DF na segunda-feira (18).
Brasília – Em Brasília, a vacinação dos grupos prioritários começou na terça-feira (19). A auxiliar de limpeza Narcisa Trajano de Araújo, de 61 anos, que trabalha no Hospital Regional da Asa Norte (Hran), foi a primeira a receber a vacina.
Mas, no dia seguinte começaram os rumores de que havia gente furando a fila. Na quinta-feira, o procurador de Justiça José Eduardo Sabo, do Ministério Público do DF, recebeu as primeiras denúncias.
Embora o governador Ibaneis Rocha (MDB) tenha declarado que eram boatos sem comprovação, Sabo disse que, sim, havia imagens dos fura-fila se vacinando. Os casos teriam ocorrido nos hospitais regionais de Taguatinga e de Ceilândia e no Hospital de Base do Distrito Federal (HBDF), gerido pelo Instituto de Gestão Estratégica de Saúde (Iges). Ibaneis mandou apurar e disse que, em se comprovando irregularidades, os culpados serão punidos exemplarmente.
DF recebeu 106 mil doses
Na quarta-feira (20), em entrevista ao Correio Braziliense, o secretário de Saúde, Osnei Okumoto, detalhou o plano de vacinação no DF, explicando o que o governo local pretendia fazer com o seu quinhão (106 mil doses) da CoronaVac.
A previsão é de que 51 mil pessoas recebam uma primeira dose do imunizante na capital. A aplicação será feita em 15 hospitais da rede pública ao longo de cinco a 14 dias. “Hoje, temos 2,5 milhões de seringas agulhadas disponíveis em nossos depósitos e estamos comprando mais 2,5 milhões. Chegaremos a 5 milhões de seringas até o fim de março”, garantiu.
“Como recebemos 106 mil doses, vacinaremos 51 mil pessoas com a primeira. As outras (doses) ficarão resguardadas, para que possamos, posteriormente, fazer a imunização com a segunda. Ela é que vai dar, realmente, o êxito da vacinação para esses servidores”, reiterou.
Okumoto ainda traçou um cenário da covid-19 no DF. “Estamos finalizando nosso inquérito epidemiológico e verificando, semanalmente, qual é o índice de transmissão que temos. Na penúltima semana, estávamos com 0,89 (na taxa) de transmissão. O ideal é abaixo de 1. Com 0,89, estávamos em um momento tranquilo. Depois, na sexta-feira, saímos com 0,84. Então, tivemos diminuição na transmissão dos casos”.
Mas alertou: “Notamos que a faixa etária acima de 60 anos tem grande quantidade de pessoas que morrem. E todas elas têm comorbidades. Muitas vezes, observamos que elas estavam se resguardando, mas se contaminaram porque alguém da família saiu, adquiriu o vírus e o trouxe para casa. Esses cuidados têm de ser muito bem observados. Por isso que, mesmo agora, as pessoas imunizadas devem continuar usando máscara, obedecendo ao distanciamento social e higienizando as mãos com sabão, água e álcool em gel”.
“Temos de alertar que as pessoas precisam obedecer as regras de higiene, para que não tenhamos mais transmissão da doença, mesmo no período de imunização. Porque, se a pessoa tomou a vacina, ela ainda corre risco de contrair o vírus. É preciso uma segunda dose para que a imunização seja mais efetiva. Devemos manter todos os cuidados necessários e protocolos de higiene — para não termos transmissão da doença, mesmo com a vacinação —, além de trabalhar essa imunização em etapas — o que deve ocorrer em decorrência da quantidade de vacinas que chegam ao DF —, para que possamos iniciar atividades como as aulas.