Dono de um fundo eleitoral de aproximadamente R$ 517 milhões em 2024, o União Brasil vive uma semana decisiva. Nesta quinta-feira (29), por meio de votação interna, 44 filiados, entre deputados, senadores e lideranças dos 26 estados e do Distrito Federal, elegem o presidente e a direção executiva que comandará o partido pelos próximos quatro anos. O resultado terá impacto não apenas no pleito municipal, como poderá gerar um “efeito borboleta” em 2026.
Atual mandatário, o deputado federal Luciano Bivar (PE) tenta permanecer no poder a todo custo. Nos bastidores, a velha raposa, de 79 anos, cobra fidelidade dos correligionários que integravam o extinto PSL, sigla que abrigou Bolsonaro em 2018. Hoje, Bivar é alinhado ao governo Lula. Inclusive,articulou a ida de dois parlamentares pouco conhecidos para Esplanada: Celso Sabino (PA), que está à frente do Ministério do Turismo, e Juscelino Filho (MA), que comanda a pasta das Comunicações.
Justamente por ser um liberal de plumagem vermelha, a tendência é que a vitória de Luciano Bivar seja a pá de cal nas pretensões de Ronaldo Caiado na corrida ao Planalto. O governador de Goiás, um dos mais bem avaliados do País, desponta como o principal nome da direita para rivalizar com o PT. O projeto de comandar o País, contudo, é questão de honra para Caiado, que poderia até buscar outra sigla em caso de negativa do União Brasil.
Na quarta (28), véspera da votação, Bivar convocou uma coletiva de imprensa em que fez ataques ao vice-presidente Antônio Rueda. E classificou a relação entre os dois como “pior do que Israel e Hamas”. Sobrou até para o líder do partido na Câmara, Elmar Nascimento, que foi acusado de vazar a deputados uma conversa em que o cacique teria feito ameaças pessoais a Rueda.
“Essa gravação que o líder Elmar está falando é objeto estranho. Ontem, liguei para ele várias vezes, mas não me atendeu. Eu não sei de que lado está o líder Elmar. Eu só fico preocupado que ele é um candidato nosso à sucessão do Lira (presidente da Câmara), mas, tendo um comportamento dúbio, nos deixa preocupados em o partido apoiá-lo ou não. O União Brasil pode lançar outro candidato à presidência da Câmara”, advertiu.
O retorno de ACM Neto
A chapa de oposição a Bivar busca retomar o protagonismo de ACM Neto, que deve assumir a vice-presidência da legenda que carrega o DNA do antigo PFL. O provável novo presidente Antônio Rueda é uma figura discreta, mas possui relação próxima com o presidente da Câmara, Arthur Lira, e o senador Ciro Nogueira, caciques do PP.
Uma “superfederação” composta por União Brasil, Progressistas e Republicanos, inclusive, é dada como certa nos bastidores — a bancada no Congresso passaria a ter 151 deputados e 17 senadores.
Até a eleição na cidade de São Paulo toma novos rumos. Com Rueda no comando, Kim Kataguiri entra na briga pela prefeitura mais cobiçada em nível nacional. O problema é que a liderança do MBL sofre resistência do vereador Milton Leite, presidente da Câmara Municipal da capital paulista e que apoia a reeleição de Ricardo Nunes (MDB).
Em Brasília, o objetivo do União Brasil é emplacar os próximos mandachuvas na Câmara e no Senado. Os mais cotados são Elmar Nascimento (BA) e Davi Alcolumbre (AP), respectivamente. Fato que já ocorreu quando o ex-deputado Rodrigo Maia (RJ) e o próprio Alcolumbre (AP) presidiram as Casas, de 2019 a 2021, filiados ao DEM.
O tabuleiro do xadrez político está na mesa. Resta saber agora quem mexerá as peças com mais competência para dar o xeque-mate no rei adversário.