Chico Sant’Anna
A Universidade de Brasília não quer ver o campus Darcy Ribeiro sendo atravessado pelas vias da nova Saída Norte, empreendimento de R$ 4 bilhões que o GDF apresenta como solução de mobilidade urbana para a ligação Plano Piloto região Norte do DF.
A UnB emitiu nota oficial para informar que não foi procurada pelo GDF, não autorizou a travessia do campus e que considera inadequadas intervenções viárias que tragam maior circulação de veículos no local.
“As atividades de ensino e pesquisa da universidade necessitam de ambientes adequados para a sua realização. Isso supõe, por exemplo, níveis sonoros compatíveis com as atividades em salas de aula e laboratórios ou com os estudos na Biblioteca Central”.
Audiência pública
Segundo o documento Projeto Nova Saída Norte – Informações Gerais, na página da Secretaria de Mobilidade (Semob), a ligação possui uma extensão de 22 Km, da L2-Norte à BR-020, no trevo de acesso a Sobradinho.
Ao chegar ao Plano Piloto, via Lago Norte, o complexo viário contaria com um trevo na L-4, às margens da poligonal do Campus Darcy Ribeiro, uma estação de BRT, e uma saída atravessaria o campus pela Via UnB 1, que passa entre a ponta Norte do Minhocão e os Pavilhões João Calmon e Multiuso, até chegar à L-2 Norte.
Esta também é a informação disponibilizada para fins da audiência pública que o GDF vai realizar. A proposta, de autoria das empresas OAS e JCGontijo, vai de encontro às metas da UnB que disse possuir “diversas ações e estudos em andamento, visando à redução de vias para veículos no campus e aumento da sustentabilidade ambiental”.
A universidade conclui sua nota se oferecendo a colaborar com o GDF para a realização de estudos e soluções para os problemas de mobilidade no DF. A Semob diz que “será importante a participação e contribuição da UnB nesse processo” e que já há uma nova versão do projeto que não mais contempla a passagem pelo campus da UnB.
“O projeto foi revisado e ajustado para a realidade atual”, mas não especificou qual o novo caminho.
Terra indisponível
As dores de cabeça do GDF não serão só com a UnB. Proprietários de terras no Condomínio Tomahawk, na Serrinha do Paranoá, tiraram da gaveta uma decisão de 2017 do Tribunal Federal de Recursos – 1ª Região (processo 0053447-44.2014.4.01.0000/DF) que deixou indisponível uma área de mais de 104,9 alqueires goianos, pertencentes à então denominada fazenda Brejo ou Torto.
Cada alqueire equivale a 48.400 m². Isto significa que a área indisponível é maior do que a de 64 superquadras. Ou seja, maior do que a soma de todas as superquadras da Asa Sul.
Esses alqueires ocupam grande parte da área onde a Terracap quer implantar o loteamento Taquari 2, para cem mil pessoas, e por onde passa o trajeto da Nova Saída Norte.
Embora sejam essas terras que o GDF deseja usar como moeda de paga na PPP para a construção da via, a propriedade da Terracap sobre a área foi questionada. O processo ainda não acabou, mas há uma decisão que torna indisponível ou local. Ninguém pode vender, lotear, muito menos abrir uma rodovia em seu interior.
VLT do Salviano
O urbanista e primeiro presidente da Câmara Legislativa, Salviano Guimarães, defende que a ligação da Nova Saída Norte seja sobre trilhos. Na avaliação dele, que já elaborou um projeto de metrô suburbano rumo às cidades da parte Norte do DF e Formosa, em Goiás, o percurso proposto para a Nova Saída Norte seria muito bem atendido pelos Veículos Leves sobre Trilho (VLT).
“Nesse novo itinerário, passando pelo Lago Norte e subindo até a Torre Digital, o aclive é mais suave. O VLT poderia passar pelo Varjão e subir até a torre de TV, bifurcando com um ramal para o Paranoá e outro pelo condomínio RK em direção a Sobradinho”, explica ele.
Saiba+
A Semob diz que a sociedade pode enviar contribuições até 13 de maio, pelo e-mail consultansn@semob.df.gov.br. No dia 29 de abril, a partir das 10h, haverá uma audiência pública presencial para apresentar o projeto e debater com a população. O encontro será no auditório do DER/DF transmitido pelo canal do Youtube da Secretaria.
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