Fátima Sousa (*)
Precisamos, sempre, recordar aos nossos jovens o significado do golpe militar para o Brasil, que viveu 21 anos sob uma ditadura marcada pela tortura e morte de opositores políticos, censura à imprensa e aos artistas contestadores, além de restrições aos direitos políticos. Muitas mulheres, artistas, intelectuais, políticos e educadores foram obrigados a deixar o País e se exilar para fugir da repressão.
O golpe de Estado de 1964 marcou um período sombrio de nossa história, com a deposição do então presidente João Goulart, encerrando a Quarta República (1946-1964), e dando início à ditadura militar (1964-1985). Esse período representou uma interrupção na democracia brasileira, que havia adotado o presidencialismo desde a Proclamação da República, em 1889.
A ditadura impôs um modelo econômico que favorecia grandes interesses, resultando em violações generalizadas dos direitos humanos e marginalização de grupos vulneráveis. Suas consequências também afetaram a Universidade de Brasília (UnB), que, ao dar seus primeiros passos após a criação, foi atacada violentamente pelo golpe de 64, sofrendo uma intervenção com a demissão de diversos professores e perseguição ideológica a estudantes e funcionários.
É importante lembrar e refletir sobre esse período da história brasileira para que possamos valorizar a democracia e lutar por um país mais justo e livre de violações aos direitos humanos, como nos recorda obra “A universidade interrompida: Brasília 1964-1965”, do professor Roberto A. Salmeron, leitura obrigatória nos nossos tempos.
Ele nos conta que, logo após o golpe, diversos professores foram demitidos e afastados por motivos políticos. Muitos eram considerados subversivos ou simpatizantes do governo deposto. Essa perseguição ideológica afetou não apenas a qualidade do corpo docente, mas também a liberdade de pensamento e o pluralismo acadêmico da UnB.
Além disso, estudantes e funcionários enfrentaram uma intensa repressão por parte do regime. Muitos foram presos, torturados e até mortos por expressarem suas opiniões políticas ou participarem de movimentos de resistência, fatos que não nos deixam esquecer Honestino Guimarães.
A liberdade de expressão dentro do campus foi severamente cerceada, e um clima de medo e vigilância permeou a vida universitária durante todo o período da ditadura. A intervenção militar também teve impactos nas estruturas administrativas e acadêmicas. O regime impôs uma série de restrições e controle sobre as atividades da universidade, interferindo em decisões e impondo diretrizes ideológicas.
Disciplinas consideradas subversivas foram excluídas dos currículos, e a autonomia universitária foi fortemente limitada. Comprometeu, ainda, a continuidade de projetos acadêmicos e a formação de novos pesquisadores.
Mas apesar de todas essas adversidades, a comunidade acadêmica da UnB resistiu bravamente. Estudantes, técnicos administrativos e professores se organizaram em movimentos de resistência, promovendo debates clandestinos, produzindo conhecimento crítico e mantendo viva a chama da liberdade e da democracia dentro dos muros da universidade.
A UnB manteve seu farol aceso, iluminando a defesa da democracia, promovendo a liberdade de pensamento, expressão e pluralidade de ideias. Sua atuação é um exemplo inspirador para outras instituições de ensino e para a sociedade brasileira.
Sua comunidade, que viveu, resistiu e nos conta hoje sobre os tempos de obscurantismo, nos instiga a manter ardente a chama da esperança de que os tempos passados não mais encontrarão esteio no presente, tampouco no futuro.
Ditadura, nunca mais! Democracia, Sempre!
(*) Professora associada do Departamento de Saúde Coletiva e ex-diretora da Faculdade de Ciências da Saúde da UnB