A história das gêmeas Lis e Mel, nascidas unidas pelos crânios e submetidas a uma cirurgia poucas vezes realizada no mundo é motivo de alegria para todos, um marco para a medicina brasiliense e, mais que isso, uma vitória do serviço público de Saúde do Distrito Federal. É a materialização do que o Sistema Único de Saúde pode ser na sua melhor forma.
A história não começa e termina no último final de semana de abril deste ano, em uma sala de cirurgia do Hospital da Criança de Brasília José Alencar. Como caso clínico, começou em janeiro do ano passado, quando a situação das irmãs foi diagnosticada no Hospital Materno Infantil de Brasília.
Como marco da medicina, ela iniciou nos bancos do curso de Medicina da Universidade de Brasília, cresceu na formação dos servidores médicos e de outras carreiras públicas da saúde em suas residências e práticas diárias no Hospital de Base, no Hospital Materno Infantil, no Hospital Regional da Asa Norte e no Hospital Universitário de Brasília.
É indispensável reconhecer a colaboração de empresas privadas que proveram insumos e dos consultores estrangeiros que deram suporte à equipe multidisciplinar e multiprofissional brasiliense. Todos têm mérito, mas vamos dirigir nossos olhos para o sistema que permitiu a assistência à família de Camila Vieira Neves e Rodrigo Martins Aragão, a quem também louvamos a força, a coragem e a perseverança.
O Hospital Materno Infantil, onde a condição das irmãs foi diagnosticada, foi a unidade de saúde onde Camila foi acompanhada e onde nasceram Lis e Mel. O Hospital Regional da Asa Norte, o Hospital Universitário de Brasília e o Hospital de Base foram os cenários onde vários dentre os 50 profissionais integrantes da equipe desenvolveram as habilidades e técnicas que possibilitaram o procedimento, como os neurocirurgiões Benício Oton de Lima (que chefiou a equipe da cirurgia de separação das gêmeas) e Márcio Marcelino, o anestesiologista Luciano Fares e o cirurgião plástico Ricardo de Lauro Machado Homem.
Neste sentido, boa parte da estrutura da rede pública de saúde do Distrito Federal teve algum nível de participação no processo que culminou na cirurgia histórica – a rede funcionou. Mais que uma realização científica, o feito tem valor inestimável como marco na prestação de um serviço público de qualidade àquela família, que não teria meios para custear um procedimento dessa natureza.
Como bem destacou o professor da UnB Antonio Lassance, “cada qual é uma entidade autônoma, separada, mas são unidas umbilicalmente por princípios constitucionais e por sistemas que são alvos constantes de ataques e depreciações”.
A história de Lis e Mel nos comove, enche de alegria e acende nossas esperanças. É um caso excepcional e raro, mas deixou evidente a capacidade, a dedicação e o empenho dos médicos que atuam nas nossas unidades públicas de saúde. Mostra, também, que é possível oferecer atendimento de qualidade aos que buscam a rede pública e isso é feito quando os meios estão disponíveis aos profissionais. Nosso mais profundo desejo é que, desde o caso mais complexo ao mais simples, sejam dados aos médicos e demais profissionais de saúde os meios para oferecer assistência com dignidade e qualidade à nossa população.