Samambaia foi oficializada em outubro de 1989, pelo então governador Joaquim Roriz (MDB). A 12ª Região Administrativa do Distrito Federal é uma área de 102,6 km desmembrada de Taguatinga. A Shis (Sistema Habitacional de Interesse Social), como é chamada a região central da cidade, foi planejada e teve lotes vendidos, em sua maioria, para servidores públicos, como os que se estabeleceram nas atuais Quadras 412 a 414.
Os primeiros moradores de Samambaia foram transferidos do Parque Ambiental Boca da Mata, em Taguatinga Sul, para as quadras 419 a 425. Depois, ocupantes da “Invasão do Ceub”, na Asa Norte, e de locais como o Guará e Vicente Pires também foram levados para a nova cidade.
Hoje, com 215 mil habitantes, Samambaia é a cidade do Parque Três Meninas, da Igreja da Barca, do pastel Samambaião, do Skatepark, da linha laranja do metrô, do estádio Rorizão e de outros lugares conhecidos dentro e fora dela. Trinta e seis anos depois de sua fundação, os moradores já não enfrentam problemas comuns naquela época, como falta de saneamento básico, de serviços de saúde, de segurança pública, além de viverem em moradias precárias. Ao contrário: hoje, no geral, a qualidade de vida melhorou e a população se orgulha ao informar que mora na Samambaia.
Migrantes
Segundo a última Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílio (PDAD) de 2021, mais de 72 mil moradores de Samambaia nasceram em outros estados, como Maranhão (17,6%), Bahia (15,8%), Piauí (14%), Minas Gerais (12,9%) e Goiás (10,3%). São migrantes e imigrantes, em sua maioria, em busca de uma vida melhor na capital federal.
Japoneses desbravadores
Yoshiro Onoyama chegou em Brasília com os pais em 1958, quando tinha 11 anos. A família é originária da vila de Hyogo-ken, no Japão, e, antes, havia morado em Bastos (SP). “Havia um sentimento de promessa de Brasília ser grande e de que ela precisaria de pessoas cuidando da segurança alimentar”, recorda.
Saburo Onoyama, pai de Yoshiro, comprou o terreno onde criou a Chácara Onoyama. Junto com o irmão (tio de Yoshiro), que era geneticista, desenvolveu sementes modificadas de goiaba, que reduziram o tempo de colheita e melhoraram a resistência a doenças. “Logo, a fruta que era produto de fundo de quintal se tornou agrícola e vendida em grande escala país afora”, conta Jacira Ribeiro, esposa de Yoshiro.
Quando Samambaia começou a ganhar forma, o casal já morava em outra chácara, na atual QR 612 Norte. Hoje em dia, os dois cuidam do viveiro de plantas Recanto Saburo, próximo dali. “Tinha muita área verde que o pessoal podia utilizar. Hoje está muito vertical e cada vez menos tem qualidade de vida”, compara Yoshiro, ao som de um bem-te-vi. “Era perigoso, tinha muita poeira. Quando fazia frio, era muito frio. Quando ficava quente, era quente demais”.
Água no chafariz
Em Samambaia Sul, na QS 304, próximo à Igreja da Barca e ao Skatepark, dona Raimunda Ferreira, de 63 anos, volta de uma consulta na Clínica da Família com os netos Erick Lima, de 16 anos, e Weverson Cauã, de 19. Moradora “desde que Samambaia começou”, ela lembra que, no começo, tinha que pegar água no chafariz. “Agora está muito melhor. Eu moro na 515. Não tem muita violência. Mas, de vez em quando, ainda acontecem alguns roubos”, conta dona Raimunda.
60 times de futebol amador
Paulo Cândido, de 78 anos, morador de Samambaia há 36 anos e apaixonado por futebol, conta que a cidade tem duas ligas amadoras, mas só a Lufas (Liga Unida de Futebol Amador de Samambaia) é regularizada. “Eu fui o cara que mais movimentou o futebol na Samambaia. Criei 12 times femininos. Tenho todos os documentos até hoje. Houve uma época em que Samambaia tinha uma média de 60 times, entre femininos e masculinos”, recorda. Ele lamenta, porém, não existir um time profissional que mobilize os torcedores locais. “É muita falta de interesse”, avalia Cândido. “Infelizmente, não dou conta mais. Custa muito dinheiro”.
Rorizão será reformado
O veterano morador só não sabia que, no início de 2024, o secretário de Esporte e Lazer, Renato Junqueira, anunciou um cronograma de reformas nos equipamentos esportivos em todo o Distrito Federal. Após as Olimpíadas de Paris, ele confirmou que três dessas reformas terão início em setembro: os estádios Augustinho Lima, em Sobradinho; Abadião, em Ceilândia; e Rorizão, em Samambaia. Será a redenção de “seu” Cândido.
Saiba +
Em 1978, o GDF instituiu o Plano Estrutural de Organização Territorial (PEOT), que, anos depois, originou o Projeto Samambaia. Os lotes só começaram a ser vendidos em 1984 na Quadra 406 e no atual Setor de Mansões de Taguatinga, onde as casas começaram a ser construídas no ano seguinte. O nome de Samambaia refere-se a uma planta nativa que também batizou o Córrego Samambaia que corta a cidade. Porém, há uma possível origem política: antes de governar o DF, Roriz foi, por um breve período, prefeito de Goiânia, capital de seu estado de origem e onde se encontra o campus Samambaia, da Universidade Federal de Goiás (UFG). Inspiração ou coincidência?