Os números não mentem: as doenças crônicas não transmissíveis, como hipertensão, diabetes e obesidade, estão entre as principais causas de morte no Brasil, e também figuram como as que mais oneram o já fragilizado sistema público de saúde.
Estudos demonstram que grande parte dessas condições está diretamente relacionada à alimentação inadequada, frequentemente marcada pelo excesso de ultraprocessados e pela falta de alimentos frescos e nutritivos no prato.
Diante desse cenário, torna-se imprescindível que a alimentação da população seja tratada como prioridade de governo, com políticas públicas que garantam o acesso universal a alimentos in natura e minimamente processados, promovendo a saúde e reduzindo o impacto econômico no SUS.
Nesse contexto, o papel político dos nutricionistas é fundamental. Muito além de elaborar planos alimentares, esses profissionais são agentes sociais, com capacidade de influenciar mudanças de comportamento e de dialogar com diferentes setores da sociedade.
É por meio da educação alimentar e nutricional que o nutricionista pode conscientizar a população sobre o impacto de suas escolhas alimentares. Mas essa tarefa precisa de respaldo em políticas públicas estruturantes.
Governos têm o dever de criar ambientes alimentares saudáveis, com regulação adequada da publicidade de alimentos ultraprocessados, incentivo à agricultura familiar e estratégias para reverter pântanos e desertos alimentares – cenários onde predominam alimentos ultraprocessados ou onde o acesso a alimentos saudáveis é escasso ou inexistente.
Por outro lado, a indústria de alimentos, em sua busca incessante por lucros, continua negligenciando o papel social que deveria desempenhar. Oferece produtos sabidamente nocivos à saúde a preços baixos e seduz os consumidores por meio de estratégias de marketing agressivas, enquanto alimentos in natura ou minimamente processados, muitas vezes mais caros, permanecem inacessíveis para grande parte da população.
Essa contradição evidencia a urgência de repensar a relação entre saúde pública e práticas da indústria alimentícia. O preço de uma alimentação saudável não deveria ser um obstáculo. Ao contrário, deveria ser uma meta compartilhada entre governos, empresas e a sociedade como um todo.
Afinal, comer também é um ato político. Cabe a cada um de nós refletir sobre o impacto de nossas escolhas alimentares e demandar mudanças no sistema que perpetua essas desigualdades. Como sociedade, precisamos questionar: que tipo de alimentação estamos cultivando e para quem?
Está em nossas mãos a possibilidade de pressionar governos e políticos – especialmente o Congresso Nacional –, apoiar iniciativas locais e consumir de forma consciente, favorecendo alimentos que nutrem não apenas o corpo, mas também a justiça social e ambiental.
Se a alimentação é uma prioridade individual, ela também deve ser uma prioridade coletiva – e isso começa com a ação de cada um de nós.
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