Júlio Pontes
No domingo, 6 de julho, o prefeito de Sorocaba (SP), Rodrigo Manga (Republicanos), publicou um conteúdo um pouco diferente do que costuma. Nada de realizações de sua gestão. Tratado pejorativamente por seus adversários como um “político tiktoker”, Manga agora usa da popularidade digital para lançar um curso para políticos nas redes sociais, o PoliticTok.
“Antes eu era invisível. Hoje eu tenho mais de 3 milhões somente no Instagram”, diz na peça. “Nada de marqueteiro engravatado. Nada de dinheiro público para vídeo bonitinho”, conta.
De fato, Manga tem engajamento muito acima da média para políticos. Autoproclamado pré-candidato à Presidência da República, ele atingiu 5,49% de engajamento na última semana.
Entre os outros pré-candidatos, Ronaldo Caiado (União) vem na sequência, com 0,88%. Lula alcançou 0,27% no mesmo período, mesmo com três vezes mais seguidores (13 milhões).
A monetização da fama atingida por ocupar cargo público, entretanto, não é exclusividade do prefeito badalado. Nikolas Ferreira (PL-MG), conhecido nacionalmente por vídeos nas redes sociais, vendeu, em janeiro de 2025, o curso “O Cristão e a Política” por aproximadamente R$ 500. A ideia era preparar candidatos conservadores para as eleições de 2026.
Pela esquerda, André Janones (Avante-MG) também aproveitou sua influência para vender cursos aos seus milhões de seguidores. Antes das eleições de 2024, divulgou o “Estratégias do Candidato Eleito”, para quem queria ser prefeito ou vereador.
LEI – Mas engana-se quem pensa que apenas políticos eleitos vendem cursos nas redes. Derrotado em 2020, após 30 anos de mandatos consecutivos, o ex-deputado federal Alex Canziani (PR) anunciou sua nova profissão: palestrante. O tema prioritário, é claro, seria como ganhar uma eleição.
Sem nenhuma pressa, tramita na Câmara dos Deputados um projeto de lei dos deputados Chico Alencar e Tarcísio Motta, ambos do PSOL do Rio de Janeiro, que trata indiretamente do assunto.
O PL 672/2024 “proíbe a monetização, por detentores de mandatos eletivos, de conteúdos que tenham por objeto o exercício da função pública ou o recebimento de receitas em função de conteúdo produzido com emprego de recursos públicos”.
O texto, vale dizer, não impediria Nikolas, Janones e Canziani de vender seus cursos. Afinal, eles não utilizaram dinheiro público para produzi-los ou impulsioná-los.
Porém, a deputada Bia Kicis (PL-DF), em 2020, assumiu que recebeu US$ 800 durante dois anos em pagamentos do YouTube pela exibição de publicidade no seu canal na plataforma. Neste caso, seria proibida se o projeto de lei dos pessolistas for aprovado – o que não deve ocorrer tão cedo…