Sebastião Nery
RIO – Éramos como três adolescentes em férias, terminado o longo Congresso Internacional de Municípios em San Diego, na Califórnia, em 1960, que durou mais de duas semanas: eu, o deputado baiano Valter Lomanto, e o simpático e mais velho secretário de Saúde de Recife, João Ferreira Filho. Alugamos um carro e saímos por ai, até São Francisco.
Eu tinha ficado amigo do presidente do Conselho Municipal de Los Angeles, jornalista como eu, que me convidou para ser hóspede de sua cidade por uma semana e ver o que só conhecia do cinema de Hollywood. Vavá e Ferreira também toparam a viagem toda na hora.
E ainda fiz um charme. Convidei minha bela amiga Mara, já mais do que amiga, jornalista da Guatemala, cara, cabelos e grandes olhos aveludados de índia, como um desenho de Paul Gauguin, que ia voltar exatamente para lá, onde estava a representação do seu jornal e revista da Guatemala e ela morava.
O Impala Rabo de Peixe, amarelinho, capota conversível, alugado pelos três, dava perfeito para os quatro: Vavá e Ferreira dirigindo na frente, eu e a Mara namorando atrás. Rodamos a Califórnia por um mês, das praias geladas do Pacífico até a Serra Nevada, as divinas pontes de São Francisco.
Em Los Angeles liguei para meu anfitrião. Ele estava eufórico:
– Jornalista precisa mesmo ter estrela. Hoje à tarde vamos encontrar o futuro presidente dos Estados Unidos, John Kennedy. Daqui a pouco estarei aí para pegá-los para o almoço e depois levá-los ao grande comício.
Exatamente naquele dia Kennedy abria sua campanha na Califórnia. Almoçamos com vinhos da Califórnia (“Sebastien” e “Augustus”) e quando chegamos ao hotel onde seria o comício pequena multidão já enchia as ruas próximas desde cedo. Na frente do hotel, um palanque e, tocando guitarra e pulando, um rapaz muito branco, pálido, cabelos bem pretos até a testa, arrebatava os ouvintes com seu rock meio alucinado: era Elvis Presley.
No fim da tarde, jovem, alto, flor no paletó, Kennedy subiu correndo a escada para o palco. Só quase madrugada o prefeito de Los Angeles nos apresentou para umas poucas palavras. Mas deu para ver e sentir bem, no discurso e naqueles poucos minutos, que havia “uma força estranha no ar”.
No hotel, escrevi que ele ia ganhar. Derrotou Nixon por 1%.
Uma semana em Los Angeles, conversando com jornalistas e políticos, a maioria evidentemente suspeita porque do Partido Democrata, deu para sair de lá convencido de que havia alguma coisa errada na imprensa americana e também na brasileira, que já davam Nixon, vice de Eisenhower, como eleito. A Mara morava e trabalhava lá há muito tempo e tinha um grande circulo de amigos jornalistas europeus, latino-americanos e da América Central. A maioria achava que Nixon ganharia.
Em São Francisco vimos outro comício de Kennedy. A mesma competência de comunicação, o sorriso aberto, as frases curtas e fortes e como sempre a promessa de que era preciso mudar. A cada dia a convicção aumentava. Nixon era o candidato oficial mas quem falava ao povo era Kennedy. E a imprensa, a americana e a nossa, insistindo em Nixon.
Anos depois, o saudoso Samuel Wainer me disse em São Paulo:
-Você escreveu aquilo como em um cassino de Las Vegas. Arriscou e acertou. Naquela hora sua certeza não se justificava. O José Guilherme (Mendes, mineiro correspondente da “Última Hora” nos Estados Unidos), me disse que você ficou envolvido pelo rock de Elvis Presley.
Mas, com Elvis ou sem Elvis, quem ganhou foi Kennedy.
Sanders
Fiquem de olho nesse Bernie Sanders. Não tem o charme e a força de Kennedy. Mas fala para os jovens, os negros, os imigrantes marginalizados, os explorados pelos banqueiros, o que o povo americano quer ouvir. Se a Hillary continuar insistindo nas mesmas velhas teses que a derrotaram para Obama, poderão ter um novo Kennedy, e socialdemocrata, de 74 anos.
Aedes Corruptus
O “rombo do caixa” da Petrobrás foi ainda 10 vezes maior do que o “roubo do caixa” investigado pela Operação Lava Jato. A causa determinante da crise que vive a estatal, envolvendo grandes empresas, diretores delinquentes, funcionários graduados e políticos corruptos não é apenas a petro-roubalheira que representa R$ 6 bilhões. Há mais R$ 44 bilhões de projetos superfaturados, desviados pelo cartel das empreiteiras e outros fornecedores que ”roubaram” a Petrobrás por uma década.
A situação dramática em que está atolada veio a partir de 2003, com o aparelhamento partidário da diretoria e do Conselho de Administração presidido durante 7 anos por Dilma. Lula protege Dilma, Dilma defende Lula. O “rombo do caixa” é o principal responsável pelo endividamento que hoje representa R$ 520 bilhões, sendo a empresa mais endividada do mundo.
Pior do que o “Aedes Aegipti” é o “Aedes Corruptus”. Para livrar-nos do “aedes corruptus”, vamos ter que tolerar o PT mais de dois anos. Dose! www.sebastiaonery.com. nerysebastiao@gmail.com
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