Dos 48 integrantes da CPMI da JBS indicados até agora, 14 receberam doações do grupo comandado por Joesley Batista, preso no fim de semana pela Polícia Federal. São cinco senadores e nove deputados que receberam recursos da JBS e agora vão investigar os contratos da empresa com o BNDES. Somados, os valores das doações ultrapassam R$ 4 milhões.
O relator Carlos Marun (PMDB-MS), integrante da tropa de choque de Michel Temer (PMDB), recebeu R$ 103 mil da empresa, via repasse de outros candidatos. O parlamentar, no entanto, afirma que não vê contradição na relação. “Eu recebi indiretamente, não pedi dinheiro à JBS. Efetivamente, foi uma participação do nosso candidato a governador e da nossa candidata à senadora, que fizeram doações para a minha campanha e declararam que esse recurso era oriundo de doações que receberam da JBS. Tudo declarado, tudo constando em prestações de contas de campanha. E mesmo que tivesse sido feita de forma direta, eu não vejo nenhum problema nisso”, justificou o relator.
Ao todo, a CPMI da JBS terá 68 integrantes entre titulares e suplentes – 34 deputados e 34 senadores. Até agora, 48 integrantes foram indicados. Entre eles, além de Carlos Marun, receberam doações da JBS os senadores Davi Acolumbre (DEM), Acir Gugacz (PDT), Paulo Rocha (PT), Welligton Fagundes (PR); e os deputados Paulo Pimenta e Andres Sanches (PT), João Rodrigues (PSD), Flavinho do PSB, Marcelo Aguiar (DEM), Weverton Rocha e Pompeo de Matos (PDT) e Professor Victório Galli (PSC). O senador José Medeiros (Podemos) é suplente de Pedro Taques, que deixou o Senado em 2014 para assumir o governo de Mato Grosso, mas recebeu doações da JBS na eleição para senador em 2010, na chapa em que Medeiros concorreu como suplente.
Quase 50% do valor doado aos integrantes da CPI foi doado ao senador Wellington Fagundes (PR-MT). Já o menor valor doado foi para o deputado Victório Galli (PSC-MT), de R$ 30 mil. A depender de novas nomeações na CPMI, no entanto, o número de parlamentares que receberam doações da JBS pode aumentar ou diminuir. Das 34 vagas para titulares, seis ainda não foram preenchidas, todas do Senado, sendo cinco pertencentes ao PMDB. Nesta segunda (11), o líder do partido na Casa, senador Raimundo Lira (PB), justificou a pendência por falta de interessados em compor a comissão. A outra é do bloco formado por PSDB e DEM.
A comissão apura se houve irregularidades nas operações da holding J&F, dona da JBS, com o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), entre 2007 e 2016. A suspeita é a de pagamento de propinas para obter financiamentos do banco.
Doações
O senador Acir Gurgacz (PDT-RO) recebeu R$ 833,3 mil em doação de campanha da JBS, repassados por meio do diretório estadual do partido. Já o senador Paulo Rocha (PT-PA) recebeu R$ 233,5 mil, repassados pelos diretórios estadual e nacional do PT.
Entre os deputados federais, o que mais recebeu foi Renzo Braz (PP-MG). O valor doado pela JBS, de acordo com os dados da prestação de contas entregue à Justiça Eleitoral, foi de R$ 700 mil, sendo R$ 100 mil de uma empresa de produtos de limpeza do grupo. O deputado Weverton Rocha (PDT-MA) recebeu R$ 100 mil, enquanto Paulo Pimenta (PT-RS) obteve R$ 66,4 mil.
Relator
Após a confirmação do nome do deputado Carlos Marun para a relatoria da CPMI criada para investigar irregularidades envolvendo o grupo JBS, dois senadores – Otto Alencar e Ricardo Ferraço – pediram para deixar o colegiado em protesto pela escolha. Logo que o presidente da CPMI, senador Ataídes Oliveira (PSDB-TO), anunciou o início dos trabalhos, o senador Otto Alencar (PSD-BA) pediu a palavra para criticar o que chamou de “CPI chapa branca”.
Apesar dos apelos de Ataídes para que se acalmasse e continuasse ouvindo os colegas, Otto Alencar deixou a sala da comissão. “O testa de ferro do Temer na Câmara, que é o Carlos Marun, é o relator. Então você acha que vai acontecer o que com o Temer? Absolutamente nada. Ele está envolvido nas denúncias de corrupção da JBS, ele foi gravado, tem a fala dele dizendo coisas que não deveria dizer”, denunciou o parlamentar, em entrevista à imprensa após deixar o local.
A CPMI foi instalada para investigar as operações da JBS e da holding J&F com o Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), além de apurar as condições em que foi firmado o acordo de delação premiada entre os executivos da companhia e o Ministério Público Federal no âmbito da Operação Lava Jato. Na semana passada os executivos da J&F Joesley Batista e Ricardo Saud tiveram os benefícios da delação suspensos pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot.
Com agências}