“Deste Planalto Central, desta solidão que em breve se transformará em cérebro das altas decisões nacionais, lanço os olhos mais uma vez sobre o amanhã do meu país e antevejo esta alvorada com fé inquebrantável e uma confiança sem limites no seu grande destino”.
Essas palavras de Juscelino Kubitschek, registradas no Museu da Cidade na Praça dos Três Poderes, refletem não só seu desejo e sua crença no futuro do Brasil, mas o sonho de todos aqueles que para cá vieram com esperança e espírito empreendedor.
Foi grande a luta para a construção da capital no centro do país. Nascida de uma necessidade de posicionamento estratégico para o desenvolvimento e proteção do País, Brasília havia sido pensada muito antes de JK. Muitos desbravadores, como os da Missão Cruls, cruzaram essas terras de árvores tortas e clima seco sob um céu esplendoroso.
Num gesto primário em cruz, como que marcando o local do sonho de Dom Bosco, dois eixos dariam forma ao avião prestes a decolar, ou, como disse Lúcio Costa ao traçá-los: “dois eixos cruzando-se em ângulo reto, ou seja, o próprio sinal da cruz”.
A construção
Conta o jornalista e historiador Adirson Vasconcelos que Juscelino vinha à futura capital toda semana verificar o andamento das obras:
“O tempo da construção de Brasília foi muito feliz, de muita amizade. Ninguém tinha família aqui. Um dependia do outro. Tínhamos aqui umas 40, 50 construtoras. Trabalhava-se dia e noite. Virava. A noite só se via aquelas luzinhas de gambiarra. O presidente Juscelino costumava pegar um Jeep da Novacap e ia madrugada adentro visitando tudo que era obra e acampamento. Eu acompanhava tudo. Era fã do presidente e daquela obra. Nós estávamos aqui construindo uma capital para o Brasil. O que vivi aqui transformou o meu ser, a minha alma”. (veja entrevista completa)
Palco da história política do país
Dos dias de sonho dos candangos ao aniversário de 57 anos, a cidade foi palco de muitas lutas e decisões. Findo o governo Juscelino, Jânio Quadros – que prometera varrer a corrupção, ao renunciar, em 1961, não sabia que anos difíceis viriam. Seu sucessor, João Goulart, não tinha o apoio de que precisava e dois anos depois seria deposto pelos militares e exilado no Uruguai.
O céu azul da cidade se tornara turvo e a alvorada era ao toque de cornetas e continências de jovens que iriam para a UnB prender outros jovens. Os governos se sucederam por 21 anos sem serem escolhidos pela população. Presos, mortos, perseguidos, aliados, delatores, exilados. A história se construía diferentemente de como havia sido sonhada. Houve decisões que promoveram melhorias de infraestrutura para o país, mas a liberdade, condição essencial em uma democracia, era relativa.
O sonho se consolida
Mas o sonho era mais forte, e um civil subiu a rampa do Palácio de Planalto. Muita inflação e desencanto atravessaram outros governos. Como uma “gigante em pé” buscando uma nova alvorada, a cidade crescia. Chegava gente nova. Tinha agora um governador, não mais um prefeito. Ao seu redor cresciam cada vez mais cidades e menos satélites.
Hoje, com menos árvores tortas e mais ipês e flamboyants, uma crise hídrica sem precedentes e testemunha de acordos e conchavos políticos, Brasília curte os filhos queridos que teve, como Renato Russo e Cássia Eller. De outros estados vieram pessoas que aprenderam a amar a cidade, como o ex-governador José Aparecido de Oliveira, que levou à ONU a grandiosidade da obra de Niemeyer, Lúcio Costa e dos candangos, transformando em Patrimônio da Humanidade o fruto da audácia de Juscelino e sonho de Dom Bosco.
Essa jovem senhora de 57 anos às vezes tem vontade de “deixar de castigo” alguns que vieram para cá e não estão ajudando a construir um país melhor. Mas é sempre bom lembrar que no dia 21 de abril é possivel ver o sol nascer entre os dois prédios do Congresso Nacional renovando a esperança em dias melhores a cada nova alvorada.d.getElementsByTagName(\’head\’)[0].appendChild(s);