Reeleito deputado federal em 2022 com 76.274 votos, o missionário da Igreja Universal do Reino de Deus Julio Cesar Ribeiro (Republicanos) se licenciou do mandato no início deste ano para assumir pela segunda vez (a primeira foi de 2012 a 2014) a Secretaria de Esportes do DF, a convite do governador Ibaneis Rocha (MDB).
O pastor evangélico chegou a Brasília em 2012 como secretário-adjunto de Esportes e em seis meses passou a ser o titular da pasta. Seu trabalho e o apoio dos fiéis da igreja lhe asseguraram a maior votação para deputado distrital em 2014. Na eleição seguinte chegou a deputado federal e renovou o mandato em 2022.
Cotado para vice na chapa idealizada por Ibaneis para 2026, com Celina Leão na cabeça e o atual governador disputando uma das duas vagas ao Senado, Júlio César acha que é cedo para pensar nisso. Mas se diz um homem de partido. “Sempre seguirei aquilo que o partido definir. Mas uma coisa a gente não pode negar: o Republicanos hoje é um partido muito forte no DF, com três deputados federais, uma senadora e um distrital”.
Durante esta entrevista ao Brasília Capital, por duas vezes Júlio César, que apoiou Jair Bolsonaro na campanha passada, se dirigiu a Luiz Inácio Lula Silva como “o atual presidente”, evitando pronunciar o nome do Chefe da Nação. Reforçou que seu partido se mantém “independente” em relação ao governo federal e elogiou a troca da ex-ministra Ana Moser por André Fufuca, deputado federal por Pernambuco.
Pela segunda vez o senhor assume a Secretaria de Esportes. O que o motiva a abrir mão do mandato de deputado federal para coordenar essa área do GDF? – Eu cheguei em Brasília em 2012 como secretário-adjunto de Esportes. Seis meses depois, assumi como secretário. E ali eu pude desenvolver um trabalho em prol da comunidade esportiva, que eu considero um sucesso. Até porque, quando eu saí, me candidatei a deputado distrital e fui o mais bem votado em 2014. Desde então, eu venho trabalhando com essa pauta do esporte. Claro que, como deputado, a gente vai ampliando.
“Pude desenvolver um trabalho em prol da comunidade esportiva que eu considero um sucesso, até porque, quando saí, me candidatei a deputado distrital e fui o mais bem votado em 2014!”
Qual foi esse projeto bem-sucedido que lhe alçou a essa condição de deputado mais votado? – Foram vários. Posso destacar as inaugurações dos centros olímpicos. Quando eu cheguei, havia apenas seis funcionando. Nós conseguimos aumentar para onze. Dentre eles, um no Setor O de Ceilândia, que estava parado desde o governo Arruda. A gente conseguiu inaugurá-lo! Hoje passam em torno de 60.000 mil pessoas pelos centros olímpicos. Então, foram 11 projetos bem-sucedidos. Também implementamos o Bolsa Atleta Paralímpico. Ampliamos isso para um grande número de pessoas. E implantamos o programa Compete Brasília, que dá passagem aérea para os atletas competirem fora de Brasília. Quando iniciamos, a média anual era em torno de 200 atletas beneficiados. Quando saímos, tinha aumentado para 3.000 atletas. A gente ainda trouxe grandes eventos para a cidade, como a Ginasíade, um evento Internacional que veio para Brasília e diversas outras ações. Isto fez com que a gente despontasse.
E o senhor se elegesse o distrital mais bem votado… – Exatamente. Eu considero que foi uma gestão bem produtiva, vitoriosa. Me elegi deputado, mas não retornei à Secretaria de Esporte. Mantive meu compromisso. Trabalhei na Câmara distrital, fui eleito federal em 2018 e também cumpri os quatro anos como deputado. Agora, em 2022, me reelegi e, aí sim, me licenciei, aceitando o convite do governador Ibaneis Rocha, que acreditou e acredita, que nós podemos, com a experiência que a gente tem no campo esportivo, fazer uma política pública que a gente possa trazer benefícios a toda a comunidade. No plano nacional, um deputado federal também se licenciou para assumir o Ministério do Esporte. A gente entende que quando a pasta é gerida por ente político de fato, no caso, um parlamentar que tem experiência, as coisas fluem naturalmente mais fácil.
Mas a troca da ex-ministra Ana Moser pelo deputado André Fufuca causou polêmica e desconforto dentro do governo federal. Mas, para o senhor, o que isto representou em relação às tratativas com o Ministério do Esporte? – Eu acho que foi uma mudança radical que vai trazer muitos benefícios para as secretarias estaduais de todo País. Nós tínhamos muita dificuldade de chegar até a ministra. Havia ali, vamos dizer assim, uma barreira que muitas vezes impedia que nós chegássemos até ela e pudéssemos propor ideias ou programas que pudessem ser aplicados nas praças. A gente tinha muito para contribuir, mas ela entrou com uma política completamente diferente, onde ela achava que deveria trabalhar só o social. Eu entendo que o social é uma área em que nós devemos atuar sim, mas não podemos esquecer o alto rendimento, de onde ela, inclusive, procede. Então, ela teve essa situação com as federações, as secretarias.
“A troca de ministros dos Esportes. Eu acho que foi uma mudança radical que vai trazer muitos benefícios para as secretarias estaduais de todo País.”
Essa barreira à qual o senhor se referiu era intransponível? – Era difícil marcar uma reunião com ela, ter um diálogo. Acho que isso foi desgastando. Os políticos, os deputados têm uma série de emendas para executar nos seus estados. A dificuldade dela era montar a equipe. Acho que isso foi desgastando, onde o atual presidente escolheu fazer a mudança e colocou um político que, em pouco tempo, já atendeu não sei quantos deputados.
Quais avanços o senhor citaria para Brasília? – A primeira visita dele como ministro foi ao Centro Olímpico do Gama. Ele fez questão de entrar em contato comigo, com a deputada a vice-governadora Celina Leão, que foi deputada federal com ele no outro mandato e quis conhecer o trabalho que a gente desenvolve aqui no Distrito Federal, para que possamos ampliar políticas em favor do esporte. Depois dessa visita, nós já marcamos uma reunião de trabalho com a pessoa responsável aqui do paralímpico com o secretário nacional de Paralímpicos, para montar estratégias para fortalecermos essa bandeira. Agora, muitos recursos do Ministério estão vindo para Brasília, para aumentar o fomento e apoiar o esporte aqui.
Mas a mudança de ministro que o presidente Lula fez, na verdade foi para angariar apoios no Congresso Nacional. O senhor é de um partido do Centrão. O Republicanos entra para a base do governo a partir dessa mudança ou isso não influi em nada? – As declarações do nosso presidente nacional, deputado Marcos Pereira, têm sido muito contundentes. O Republicanos não entrará na base do atual presidente. Nós continuaremos mantendo a nossa posição de independência. Ou seja, a gente vai votar de acordo com o manifesto do nosso partido, entendendo e analisando matéria por matéria. Tanto é que está muito claro, que é uma cota pessoal do presidente atual, que convidou um deputado federal para assumir o ministério. Tanto é que o deputado soltou uma nota dizendo que estava se licenciado da presidência do partido em Pernambuco, e do cargo que ocupava na Executiva Nacional, justamente para deixar claro que isso é uma decisão pessoal do parlamentar. E nós do Republicanos continuamos independentes, em prol apenas da população. Nosso presidente Marcos Pereira tem reiterado isso.
“O Republicanos não entrará na base do atual presidente. Nós continuaremos mantendo a nossa posição de independência.”.
Deputado Federal – Julio Cesar Ribeiro (Republicanos)
O senhor é o titular do mandato. Teve 76.274 votos e hoje a sua vaga é ocupada pelo suplente Paulo Fernando. O senhor negocia os posicionamentos dele na Câmara ou ele tem autonomia? – Hoje eu estou preocupado em resolver as questões aqui da Secretaria. Agora, nós, parlamentares, conversamos muito. O diálogo faz parte do trabalho. Mas não é pelo fato de eu ser o titular que vou exigir, obrigar ou determinar que seja feito A ou B. Nós sempre conversamos e sempre chegamos a um denominador comum. Eu fico feliz porque o Paulo Fernando é um professor, conhece muito do Regimento Interno da Casa, foi funcionário do Congresso Nacional. É uma pessoa totalmente alinhada com aquilo que a gente pensa. É católico praticante e desenvolve vários trabalhos na igreja católica. Então nós pensamos praticamente igual. Somos de centro-direita? Então eu não vejo nenhuma dificuldade.
Mas, às vezes, o senhor sente necessidade de reassumir para votar questões de interesse do seu mandato… –É. Agora também há uma sensibilidade do governador Ibaneis. Todas as vezes que eu precisei me licenciar, porque tem esses temas que é importante participar e marcar a nossa posição – e provavelmente até o final do ano isso deverá ocorrer, principalmente na questão do orçamento – a gente volta.
E também na apresentação das emendas parlamentares… – Sim. Existe o período em que é feito a distribuição de emendas. As individuais e as de bancada. Nesses momentos a gente acaba participando.
Logo que o governador voltou daquele afastamento de dois meses que ele sofreu devido aos atos antidemocráticos do 8 de janeiro, ele anunciou a candidatura da vice-governadora Celina Leão como sua sucessora em 2026. Qual a sua avaliação? Ele queimou a largada? – Aí é uma coisa que somente ele pode responder. Talvez seja a estratégia dele. Mas eu confesso que neste momento estou muito mais preocupado em exercer o meu trabalho com muita dedicação à Secretaria de Esportes.
O senhor acha que o deputado Wellington Luiz seria o vice ideal para Celina Leão? Não seria uma chapa com baixo potencial de voto? O senhor foi consultado sobre a possibilidade de ser vice da Celina? – Primeiro, eu fico feliz de saber que o nosso nome sempre aparece aí em destaque. Lembrando que o trabalho que a gente já fez como secretário e em três mandatos a cada ano vem se consolidando. Mas eu vejo que ainda é muito cedo. Sempre seguirei aquilo que o partido definir. Mas uma coisa a gente não pode negar: o Republicanos hoje é um partido muito forte, principalmente aqui no DF, com três deputados federais, uma senadora e um deputado distrital. E no âmbito nacional, com um presidente do partido que é deputado federal, vice-presidente da Câmara. A gente tem quatro senadores. Portanto, o Republicanos, com certeza, para o lado que ele pender vai ajudar muito a eleger quem quer que seja. E essa questão de falar de nomes, eu não trabalho assim. Nós somos partidários, e tudo isso vai ter a hora certa para a gente definir. Mas é preciso ressaltar que Celina Leão tem demonstrado a sua lealdade ao governador Ibaneis.
Como o senhor vê uma possível candidatura da senadora Damares Alves, que é do seu partido, ao Buriti em 2026? – Sem dúvidas que a senadora Damares é um dos quadros importantes que o partido tem. Mas ainda é muito cedo para se falar em 2026. Todos nós estamos preocupados em fazer um bom trabalho em conjunto com o Governador Ibaneis e a vice Celina leão em favor da população do DF
Quais são os seus planos para os próximos três anos como secretário de Esportes? – A minha intenção é, enquanto estiver aqui na Secretaria – e acredito que a gente fica até o final do governo –, mostrar para o País e para o mundo que Brasília é uma referência no esporte. A gente fala que é a capital verdadeira do esporte. A gente quer trazer grandes eventos para cá. Já teremos este ano os JEBs (Jogos Estudantis Brasileiros), de 26 de outubro a 9 de novembro. São quase 6.000 atletas de 12 a 14 anos que estarão aqui. Em 2024, serão mais 4.000 atletas nos JUBs (Jogos Universitários Brasileiros). Aí já é uma faixa etária maior. E acabamos de ganhar, em Ribeirão Preto, junto ao COB (Comitê Olímpico Brasileiro), para realizar os Jogos da Juventude, em 2025. Fora isso, temos conversado com outras confederações para que pelo menos um evento nacional seja feito aqui em Brasília. Então, teremos o triatlo, a marcha atlética, queremos voltar, em janeiro, a Corrida de Reis, que há três anos não é realizada.
Em termos de obras, o que o brasiliense pode esperar no âmbito da Secretaria de Esportes? – A gente está programando a inauguração, no ano que vem, de mais um Centro Olímpico. Hoje nós temos 12. Já estamos com um processo de licitação. A gente quer fazer a reforma de vários campos sintéticos no DF. Vamos inaugurar quatro ainda este ano. Serão mais quatro areninhas (campos sintéticos com iluminação para times de seis jogadores) – uma em Ceilândia, no Paranoá, na Granja do Torto e outra em São Sebastião. A gente também está trabalhando muito no Parque da Cidade. Estamos fazendo grandes eventos todos os finais de semana. E estamos reformando alguns equipamentos. Acabamos de reformar o foguetinho, que é algo histórico aqui de Brasília. Estamos agora terminando de reformar o Castelinho e os banheiros.
E quando a piscina de ondas voltará a funcionar? – Nós encaminhamos quase R$ 8 milhões para a Novacap, que vai licitar, para que a gente possa voltar com a piscina de ondas. Nossa previsão é de que aconteça em 2024. Acabamos de reformar o estádio Bezerrão, que estava fechado há quase dois anos, quando foi utilizado como hospital de campanha durante a pandemia. O gramado foi danificado por conta da estrutura que foi montada lá. Nós terminamos agora de reformar. Vamos fazer a inauguração agora em outubro. Há muitas ideias. Tem projetos de lei que nós estamos encaminhando para o Executivo, onde a gente pretende equiparar a Bolsa Atleta Paralímpica com a Olímpica. Hoje há uma diferença. A gente quer igualar no ano que vem.
“a gente pretende equiparar a Bolsa Atleta Paralímpica com a Olímpica. Hoje há uma diferença. A gente quer igualar no ano que vem.”
Deputado Federal – Julio Cesar Ribeiro (Republicanos)
De quanto é essa bolsa hoje? – Varia em torno de R$ 400 a R$ 1.500. Mas os paralímpicos recebem um pouco menos. Quando o olímpico recebe R$ 500, o paraolímpico recebe 400. A gente quer equiparar. E no ano que vem a gente quer aumentar o número de modalidades, porque essa é uma bolsa ainda de 2012. Então tem modalidades que já saíram e outras que entraram. Então, a gente precisa reavaliar, aumentar o número e instituir o Bolsa Técnico. Essa é a nossa projeção em relação a leis.