Evandro é vendedor de adubo orgânico. Ele costuma percorrer as ruas do pequeno vilarejo de Olhos D’Água (GO) montado numa carroça arrastada por seu cavalo branco, um dos fornecedores da matéria-prima do produto que comercializa. Os outros são as três vaquinhas que ele engorda no curral e as galinhas caipiras criadas soltas no quintal.
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Num desses fins de semana de ócio, Evandro estacionou seu veículo carregado na porta da minha casa. Como de costume, ofereceu-me adubo. Agradeci, mas disse que não estava precisando. Ele pediu “um vale” de R$ 10. Fiz. E ofereci-lhe um trago de cachaça. Ele aceitou. Servi-lhe como tiragosto uma coxinha de asa de frango assada na churrasqueira.
Conversa vai, conversa vem, mais uma dose, outra coxinha, perguntei-lhe de que era feito o adubo que ele vendia. Do cocô do cavalo, das vacas e das galinhas, respondeu. Questionei, dando uma de entendido no assunto, por que não separava o cocô das galinhas para fazer um material diferente. Do alto de sua sabedoria e com a simplicidade de camponês, ele retrucou: “tudo é bosta. É tudo igual”. Recolhi-me à minha insignificância, evidentemente.
Valter é um amigo metido a esquerdista, autodenominado comunista histórico. Falávamos dos problemas do País. Ponderei que algumas práticas dos últimos governos são as mesmas que víamos décadas atrás. Ele concordou. Falei da minha decepção por ver presas pessoas que, no meu tempo de universidade, eram referência para os movimentos estudantis, dos quais fiz parte no final da década de 1970 e início da de 1980. Ele emendou: você acha que na esquerda não tem ladrão? Então acredita em papai noel.
Pacheco é um amigo-irmão muito bem informado. Adora ler e sabe das coisas. Entre uma cerveja gelada e outra, com tiragosto de codorna frita, vinagrete e farofa de ovo, revelou-me sua decepção com a política e a decisão de votar nulo este ano. A única exceção admitida por ele é votar pela reeleição da presidente Dilma. E ponto. Por que isso?, inquiri. Não vejo diferença na atuação parlamentar de um deputado ou senador de esquerda e dos caras da direita, ele encerrou.
Evandro, Valter e Pacheco, em assuntos diferentes, me levaram a refletir e dar razão ao mais sábio de todos nós – o camponês analfabeto, que ganha a vida juntando e beneficiando ao relento os dejetos dos animais que cria para sobreviver (o cavalo que o transporta, as vacas que lhe fornecem leite e as galinhas que lhe garantem ovos e carne): É tudo bosta. É tudo igual.
Orlando Pontes