Três meses após o início da vacinação contra a covid-19 no Brasil, a imunização dos profissionais de Saúde segue devagar (quase parando) e sem previsão de melhora no cenário. No Distrito Federal, segundo o próprio secretário de Saúde, 100 mil trabalhadores da área ainda não foram vacinados. Resultado: o número de profissionais mortos no último trimestre do ano passado é o mesmo do primeiro trimestre de 2021, um total de dez óbitos em decorrência da covid-19.
Em todo o País, segundo dados do Ministério da Saúde, apenas 39% dos profissionais de Saúde foram vacinados. Isso significa que três em cada cinco trabalhadores da área não estão protegidos contra a covid-19. Lembrando que esse grupo deveria ser prioritário. No entanto, o que a baixa cobertura vacinal nos revela é justamente o fato de que na fila da prioridade não há mais prioridade. Há denúncias até de troca de vacina por ouro em Roraima.
Neste cenário, a notícia da semana é que, após entregar mais 1 milhão de doses da vacina CoronaVac ao Ministério da Saúde, o Instituto Butantan anunciou que não conseguirá completar a entrega dos 46 milhões de doses até o final de abril, como estava previsto. Houve um atraso na chegada do insumo farmacêutico ativo (IFA) da vacina importado da China. Agora, novas vacinas, só no dia 10 de maio, de acordo com nova previsão. Por isso, mais uma vez, reitero a necessidade de priorizar as prioridades: idosos e profissionais de Saúde.
Também aqui no DF, no meio da semana, a taxa de ocupação de unidades de terapia intensiva (UTIs) voltadas para pacientes adultos com covid-19 na rede pública chegou a 98,8%, com 313 pessoas na fila de espera. Na rede privada, a ocupação dos leitos adultos para tratamento contra a doença é de 99,7%. As unidades pediátricas estão com 50% de ocupação. Uma situação lamentável.
Já disse isso antes, mas, como a situação não evoluiu, vale, novamente, o recado: os profissionais de Saúde possuem maior exposição às doenças infecciosas, como a covid-19. Se não estão na linha de frente do combate à doença efetivamente, lidam com pacientes que, eventualmente, podem ser assintomáticos. Ou seja, pela exposição, podem implicar em casos mais graves. E, em tempos de pandemia, não focar na saúde dessas pessoas é, no mínimo, incoerente. Afinal, são elas que tratam os pacientes e salvam outras vidas.
O risco de continuar nesse processo lento de vacinação é que, lá na ponta, piore o déficit de profissionais necessários para expandir a capacidade de assistência à população: um apagão assistencial, o colapso do colapso. Porque, não se enganem: assim como a situação pode melhorar com a ampliação da imunização, também pode piorar, com mais e mais pessoas adoecendo e indo a óbito.
Como médico e representante da categoria, apelo, de novo, às autoridades para que se empenhem na melhora do cenário. A população implora por mais vacinas. Chegamos, todos, no limite físico e psicológico da pandemia. Profissionais de saúde e pacientes estão exaustos: da luta diária, do medo, de enxugar gelo. É preciso priorizar, focar e ampliar a imunização contra a covid-19.