Em 2015, já foram registrados 46 casos denúncias de injúria racial e racismo no Distrito Federal. Entre eles, dez ocorreram em maio. Os dados são do Núcleo de Enfrentamento à Discriminação (NED), referentes a cidades como Ceilândia, Águas Claras, Plano Piloto, Núcleo Bandeirante, Lago Norte, Gama e Taguatinga. Isso sem contar os casos da jornalista Cristiane Damaceno, 25 anos, agredida nos comentários de uma foto que postou em uma rede social, e de uma estudante de 30 anos do Instituto Federal Brasília (IFB) que foi chamada de macaca por uma colega de sala do curso de secretariado escolar, ambos em abril. A ofensa aconteceu por mensagem de celular. A Polícia Civil investiga as ocorrências.
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Cristiane falou com exclusividade ao Correio sobre as agressões que sofreu. Ela disse que se sentiu abalada à época, mas que transformou os xingamentos em motivos para lutar contra o racismo. Um grupo de desconhecidos deixou comentários ofensivos, como “quanto custa essa escrava?”, e chamando-a de “macaca”. A jornalista decidiu não apagar a foto e, até hoje, recebe mensagens de ódio. “Para nós, mulheres negras, lutar contra o racismo não é uma opção. Eu não tenho como seguir minha vida sem que isso esteja na minha história. Tenho transformado o que passei em algo concreto, pois é minha responsabilidade. Depois do que aconteceu, ouvi vários relatos, do Brasil todo, e tenho que continuar lutando contra o racismo”, declarou.
O caso da jornalista foi registrado na 26ª Delegacia de Polícia (Samambaia) como injúria racial, embora ela acredite que se trate de um caso de racismo (leia O que diz a lei). “As pessoas não me conheciam. Mas a escolha delas não foi aleatória. Escolheram uma mulher negra e atacaram a imagem dela. Isso também aconteceu em Minas Gerais, com uma mulher negra que postou uma foto com o namorado”, relatou. No caso da estudante do IFB, a agressão aconteceu via celular, após um desentendimento entre colegas. Com medo de sofrer alguma represália, por conviver diariamente com a agressora, a mulher preferiu não se identificar.
A estudante registrou ocorrência na 11ª DP (Núcleo Bandeirante) e entregou para a polícia uma cópia da mensagem que dizia: “Bom dia, Márcia gatinha. Se é que eu posso chamar de gatinha, porque está mais para uma…”. Após o texto, a agressora enviou duas fotos de macaco para a vítima. “Eu fiquei com medo de registrar um boletim de ocorrência. Só tomei coragem cerca de um mês depois, ao falar com uma amiga. Se eu não fizesse isso, quantas pessoas mais ela ofenderia? Não é fácil sentar diariamente ao lado de alguém que te ofendeu dessa forma”, desabafou.
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