Não bastasse o déficit de profissionais, de equipamentos, de medicamentos, de leitos e de ambulâncias, o princípio de incêndio no Hospital Regional de Taguatinga (HRT), em janeiro deste ano, expôs outra situação não menos preocupante nos hospitais da rede pública de Saúde do DF: a ausência de fiscalização e manutenção de extintores de incêndio nos hospitais. Segundo integrantes do próprio governo, os equipamentos estão vencidos desde 2015 em várias unidades.
Essa situação, obviamente, exige rápida resposta do Poder Público, a fim de evitar, a exemplo de Brumadinho e do Centro de Treinamento do Flamengo, mais uma tragédia anunciada. Agora, a promessa é substituir os extintores vencidos em regime de urgência, o que não é para menos diante da gravidade do fato. Vale ressaltar que, mensalmente, uma unidade hospitalar do tamanho do HRT, por exemplo, realiza, em média, 1.147.206 procedimentos ambulatoriais, segundo a Secretaria de Saúde, e possui 2.176 profissionais cadastrados. Ou seja, a irresponsabilidade é muito maior do que se pensa.
No mínimo, quando pensamos que é mais de um ou dois hospitais públicos nessa situação desde 2015, podemos falar, sim, que o Sistema Único de Saúde (SUS) sofre uma verdadeira tragédia humanitária. Manter extintores de incêndio é o básico do básico se a intenção é realmente salvar vidas. E “esquecer” de investir em prevenção e fiscalizar esses equipamentos, em hospitais com estruturas precárias e cheios de gambiarras, vai muito na contramão de discursos que asseguram priorizar a saúde pública.
Fora os extintores, outras duas notícias pautaram os jornais ao longo desta semana: alagamentos em hospitais nos dias de chuva e falhas na segurança do HRT. No Hospital Regional do Gama (HRG), quatro pessoas internadas foram realocadas por causa da inundação nas salas. Um detalhe chama atenção: a mesma notícia foi veiculada há quatro anos, em dezembro de 2015, quando um paciente gravou corredores e salas da unidade inundados.
Sobre a insegurança nos hospitais não é diferente. Ano após ano, pacientes, servidores e sindicatos seguem cobrando a contratação de vigilantes. Aliás, foi também no HRG que, em janeiro deste ano, um tiroteio acabou com três pessoas feridas. As cenas, infelizmente, se repetem. E, frente a essa realidade, acredito que vale a reflexão do jornalista Ricardo Boechat em seu último programa na rádio BandNews FM: “Temos que colocar em cima da mesa, como sociedade, se a gente quer continuar lidando com essas tragédias, pranteando-as no início e esquecendo-as logo depois”.
Temos que escolher o que queremos. Todos nós. Pacientes e servidores: sociedade. Para evitar novas tragédias anunciadas e exigir do Poder Público o respeito que merecemos. Se não há zelo em questões tão óbvias, tão aparentes, o que mais não estamos enxergando?