Situado a 15 quilômetros do Plano Piloto, o Núcleo Bandeirante foi reconhecido oficialmente como Região Administrativa VIII em 1964. Até então, era “Cidade Livre”. Hoje, seus 26 mil habitantes se orgulham da atmosfera pacífica com ares de cidade do interior que o caracterizam.
Essa marca, no entanto, não faz a população esquecer alguns desafios que persistem há anos no Núcleo Bandeirante. Entre eles, a ausência de hospitais, o grande número de pessoas em situação de rua e a falta de acessibilidade.
A aposentada Adélia Oliveira, de 72 anos, conta sua trajetória e as transformações que testemunhou na cidade desde outubro de 1986, quando mudou-se com a família da 715 Sul, no Plano Piloto, para o Núcleo Bandeirante.
“Compramos nossa casa e viemos para cá. Aqui é maravilhoso. Parece uma cidade do interior, com tudo o que precisamos”, diz. Adélia destaca a tranquilidade e a proximidade dos serviços essenciais. Mas aponta um problema: “O posto de saúde é muito bom, mas o ideal seria um hospital”.
Raízes – Adélia leva uma vida ativa. “Aqui, saio a pé para visitar amigos e parentes e ir à igreja. Frequento, a Primeira Igreja Batista de Brasília, fundada um ano depois da cidade, e que completa 67 anos em setembro.
Os filhos de Adélia cresceram no Núcleo Bandeirante e um deles ainda reside perto da casa dela, o que reforça seu vínculo com a cidade. “Aqui, os vizinhos são quase como família. As pessoas tendem a ficar por muito tempo. Quando uma casa fica desocupada, geralmente é porque o idoso faleceu”.
Do fogo a uma papelaria
O Núcleo Bandeirante mantém suas tradições. Dono da Papelaria Flórida, que existe há 50 anos, Josué Cascemiro conta que seu pai, o pioneiro Antônio Cascemiro de Oliveira, inaugurou um grande estabelecimento, o Bela Vista. Mas o prédio foi destruído por um incêndio em 1959. “Meu pai faleceu devido a complicações de saúde após o incêndio”, relembra.
A mãe de Josué abriu a papelaria em 1973. “É um comércio que passou de geração para geração”, diz ele, destacando que a localização próxima a um parque e a cidades como Águas Claras contribui para o comércio local. “Se as avenidas fossem mais bem cuidadas e melhorassem a acessibilidade, seria mais fácil atrair a clientela”, sugere. Além disso, ele reclama dos moradores de rua, que “afugentam os fregueses”.
Revitalização da Avenida Central
O administrador regional substituto José de Assis descreve o Núcleo Bandeirante como uma “cidade-dormitório independente”. Boa parte dos moradores saem para trabalhar e retornam apenas para dormir. Mas aqueles que podem resolver suas demandas na própria cidade dispõem de bons colégios, bancos e comércio.
“A região ainda mantém características interioranas, com vizinhos que se conhecem e interagem. Não é cheia de becos, como outras cidades do DF. Aqui, as pessoas podem andar a pé”, diz José de Assis, prometendo revitalizar a Avenida Central. “O projeto foi aprovado e o governador Ibaneis Rocha já determinou a execução pelas Secretarias de Obras e de Desenvolvimento Urbano e Habitação (Seduh).
A obra vai transformar a área em um moderno centro urbano, seguindo o sucesso da revitalização da Feira Central, que se tornou um dos principais centros comerciais do DF, “com infraestrutura comparável a um mini shopping. “A Feira é um modelo de sucesso. O avanço da revitalização da Avenida Central promete trazer melhorias semelhantes para a região”.
Raízes, desafios e fé
A enfermeira Ana Carolina Lisboa, de 26 anos, trata o Núcleo Bandeirante como sua casa. Ela estudou em várias escolas da cidade, incluindo os Colégio La Salle e Salesiano. “Moro aqui desde sempre. Minha vida é aqui. Não penso em mudar para outro lugar”.
Ela destaca a importância de suas experiências escolares na formação de suas amizades e vínculos com a comunidade local. A proximidade e a familiaridade são aspectos que Ana Carolina valoriza muito.
“Sempre gostei daqui. Nunca me imaginei saindo daqui. Tudo é muito perto. Eu conheço as pessoas, conheço os lugares. Isso me dá uma sensação de conforto e pertencimento,” diz.
Ela também ressalta a importância da conexão com a igreja que frequenta desde criança. “Eu tinha um vínculo forte com a igreja que era pertinho de casa. Isso ajudou a fortalecer minhas amizades e o meu vínculo com a cidade”.
Ícones
A Feira Permanente foi batizada com o nome do pai de Ibaneis Rocha Pai, pioneiro na região e pai do governador Ibaneis Rocha. Outro ponto turístico é a Paróquia São João Bosco, fundada pelo lendário Padre Roque, cujo despojos estão sepultados na igreja.
Saiba +
A história do Núcleo Bandeirante é marcada por ser o primeiro local onde os candangos se estabeleceram. Era o centro comercial e recreativo dos trabalhadores que construíram Brasília. O nome Cidade Livre foi dado por conta da isenção de impostos concedida pelo governo para atrair empresários. A cidade era conhecida como o lugar onde se podia encontrar de tudo para comprar.