João Baptista Herkenhoff (*)
Vamos
refletir sobre a necessidade de diálogo e tolerância entre as diversas
religiões? A abertura para ouvir o outro não se limita ao domínio religioso. Também
no campo político é preciso que pessoas que divergem na maneira de pensar sejam
capazes de conversar, de entender as razões do opositor.
O
ódio, as ofensas, o decreto da verdade, o sinete de inimigo da Pátria ou a
pecha de ignorante, aposto ao que diverge de uma determinada linha de
pensamento, em nada contribui para que o Brasil vença suas dificuldades.
Sobre
o entendimento entre as religiões, é oportuno relembrar uma advertência de João
Paulo II: fazem obra de paz aqueles que se aplicam em despertar a atenção para
os valores das diferentes culturas, para a especificidade das sociedades e para
as riquezas humanas de cada povo.”
Os
valores humanistas estão presentes nas mais diversas tradições religiosas e
filosóficas da Humanidade. Essas tradições afinam, nos seus grandes postulados,
com as ideias centrais que caracterizam este conjunto de princípios que
denominamos \”Direitos Humanos.”
Estes
não são monopólio do Ocidente ou propriedade cristã. Fernand Comte estudou os
livros sagrados budistas, confucionistas, hinduístas, muçulmanos,
judaicos e cristãos. Concluiu que uma linha ética aproxima essas fontes do
sagrado. René Grousset visitou as religiões e filosofias da Índia, da China e
do Japão.
Numa
atitude de devotado respeito às fontes da sabedoria oriental, Grousset revelou
o profundo conteúdo dessa árvore filosófica. Gautier, Gardé, Massé e Sourdel
nos ajudam a compreender o Islamismo, com toda sua pujança e elevado cabedal
ético. Cornelius Castoriadis observa que as religiões, em geral, têm uma
pretensão universalista, pretendem que sua mensagem enderece-se à Humanidade
inteira.
Não
obstante esse “caráter universalista da religião\”, acreditamos que um elo
de compreensão pode estabelecer-se por meio da tolerância. Que
haja comunicação entre as diferentes crenças e sistemas filosóficos, entre
as pessoas que aderem a essas crenças e filosofias.
Que
se estabeleça uma comunicação bipolar, que supõe um liame entre as pessoas que
se falam, conforme assinalou François Marty. Com acendrado espírito de busca e
aproximação, Michel Lafon nos oferece um livro sobre preces e festas
muçulmanas, especialmente dirigido aos cristãos. Na Religião, na Filosofia, na
Política, o diálogo é construtivo. O anátema e a pretensão de ser dono da
verdade não produzem qualquer fruto positivo.
(*) Juiz de Direito aposentado (ES), escritor e professor