O Kwai e o Tik Tok, as duas redes virtuais que mais cresceram nos últimos seis meses, estão sendo transformadas em refúgios da direita sanguinária do Brasil e agrupando pastores, pastoras e irmãos que ocupam horas e horas em lives sem pé nem cabeça em torno de objetivos não republicanos.
Na pregação do ódio e de ataques à democracia, Luiz Inácio Lula da Silva é o alvo predileto. Invariavelmente, o presidente é adjetivado de “o ladrão”. Mas Alexandre de Moraes não fica atrás. O ministro do STF recebe o codinome “Cabeça de ovo” nos debates acalorados dos bolsonaristas. E acrescentam “mais alguns membros do poder que não estão do nosso lado”, como se os magistrados fizessem parte de uma quadrilha.
O achincalhe de autoridades não é brincadeira. Além de servir para manter e esquentar o clima de polarização que corrói a política brasileira desde 2017, dá lucro a essas pessoas e às plataformas, que remuneram os usuários a partir de bônus pagos pelo tempo permanência nas redes, ou pelo cumprimento de alguma tarefa, pelo número de vídeos que postam ou repostam daqueles que assistem, como também pela participação em jogos de azar.
Além do dinheiro, os radicais também pensam politicamente. Com o discurso de ódio, arrebanham seguidores que, no futuro, querem transformar em eleitores, para ocupar espaços nos poderes Legislativo e Executivo municipais, estaduais e federais.
A estratégia é seguir o exemplo de Jair Bolsonaro, que de desconhecido deputado do baixo clero por 28 anos, chegou à presidência da República na primeira tentativa de candidatura ao Palácio do Planalto. Assim, os pré-candidatos a cargos eletivos que querem representar esse segmento, usam as plataformas para catapultar sua imagem junto ao seu potencial eleitorado.
Não é necessário ficar muito tempo navegando nas lives do Kwai e do Tik Tok para cruzar com perfis como de @heltonbarbosa, @tiagocabeça, @paulogonçalves18t e @editesemencio para ouvir comentários como “Vocês viram que a festa da democracia “flopou” e “o ladrão ficou lá junto com o ‘Cabeça de ovo’ falando que houve um golpe, que não deve haver anistia para os golpistas.
“Eles não conseguem mais manter a mesma história e está ficando feio falar em coisas que não apresentam provas”, afirmou @eltonbarbosa, que se apresenta vestido com uma camisa com tons verde e amarelo. Aos poucos, os golpistas vão se reorganizando, e com a liberdade de usarem a internet sem nenhum tipo de regulamentação ou constrangimento quando falam que Bolsonaro está sendo perseguido.
A suposta perseguição a Bolsonaro não ocorre, segundo a versão dos aliados, por ele ter insuflado ou financiado o golpe do 8 de janeiro de 2023, mas por ele representar uma ameaça à reeleição de Lula. “Estão me perseguindo porque sou o único que pode vencer Lula na eleição”, disse o ex-presidente no evento de uma igreja evangélica na véspera do primeiro aniversário da frustrada tentativa de golpe.
Se os bolsonaristas raízes estão deitando e rolando nas redes sociais, outro grupo que não se faz de rogado é o dos evangélicos. Organizados, eles passam a ocupar o máximo de tempo nas redes, sempre pregando, orando, louvando, contando estórias, mas garantindo o espaço.
Aí, a fórmula é colocar uma jovem bonita, com roupas bem avançadas e com uma linda voz. As moças cantam músicas gospel, mas sempre com mensagens de reprovação ao governo Lula e incitação ao ódio, pregando a teologia da prosperidade.
Usam frases como “unidos somos mais fortes”, “eles não nos derrotaram”, “vamos juntos tomar o poder que é de nosso Deus”. Tudo dito e repetido em meio a louvores acompanhados por centenas de seguidores.